quarta-feira, 27 de novembro de 2019

MONJARDINO - China olha para Portugal como trampolim para a Europa e África

Carlos Monjardino, que foi também membro do governo de Macau na década de 1980, defendeu em entrevista à Lusa, a propósito dos 20 anos da transferência da administração portuguesa do território para a China, que os investimentos chineses em Portugal estão ligados à "hegemonia" que Pequim quer ter nesta parte do mundo.


"Agora percebe-se que uma das coisas que os chineses querem são os portos", num caminho "eminentemente político e económico", afirmou Carlos Monjardino.

"Isto não tem nada a ver com cultura, tem que ver com uma hegemonia, ou com uma influência, que os chineses pretendem ter nesta parte do mundo", reforçou o antigo secretário-adjunto em Macau com responsabilidades na área da Economia.

Para o presidente da Fundação Oriente, a China olha para Portugal como "um país fácil em termos de investimento, em termos de bem-estar".

Sobre o investimento chinês, Monjardino destaca que Portugal tem falta de capital estrangeiro, mas é preciso que Lisboa estabeleça limites.

"O que é estratégico não deve ser de chineses, japoneses, franceses, nem de ninguém. Deve ser público", disse, considerando que "a qualidade do investimento é mais importante que a quantidade".

No entender do líder da Fundação Oriente, a posição de Portugal face à China tem-se mostrado "um bocadinho subserviente", um comportamento que não é bem visto por Pequim.

"Os chineses têm muito respeito pela verticalidade das pessoas, e quando as pessoas são muito subservientes (..,) eles não apreciam. Se calhar gostam porque lhes dá jeito na altura. Mas preferem alguém que seja firme", defendeu.

Além de investirem em Portugal para assegurar uma posição na Europa, Pequim também precisa de Lisboa para ter acesso a África.

O reforço do ensino do português mostra hoje a importância de Portugal como instrumento para a influência chinesa em partes do mundo.

Segundo Monjardino, em Macau não se fala mais português do que quando a administração era portuguesa.

No entanto, "se me disser que se fala mais inglês do que quando lá estávamos eu digo-lhe que sim", concluiu o presidente da Fundação Oriente, entidade que tem participação no IPOR - Instituto de Português do Oriente, que ministra cursos de português para estrangeiros.

NAOM

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