UNIOGBIS termina a sua missão a 31 de dezembroPor DW.COM
Na Guiné-Bissau, o ano termina com novos e vários desafios para o país que vê partir o UNIOGBIS. Analistas defendem que diferentes atores guineenses assumam mais responsabilidades.
Na Guiné-Bissau, o ano de 2020 ficará marcado pelo abandono de duas entidades internacionais que estavam no país para ajudar a construir e assegurar a paz e a estabilidade.
A ECOMIB, força militar da CEDEAO, deixou o país ao fim de oito anos de missão, enquanto, 21 anos depois, o Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz (UNIOGBIS) termina a sua missão a 31 de dezembro e também vai abandonar a Guiné-Bissau.
Muitos questionam a eficácia da estrutura da ONU num país que ainda dá sinais das fragilidades políticas e institucionais que vêm de há muito e, depois de mais de duas décadas de trabalho, não foram superadas.
Observadores temem que os problemas deste ano, marcado por disputas políticas e conturbadas eleições presidenciais que resultaram na mudança da governação, transfiram-se para 2021 e precisem ser superados sem o apoio do UNIOGBIS.
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Bacar Camará |
Mais responsabilidade para os guineensesMas, para o jornalista guineense, Bacar Camará, a missão política da ONU falhou e agora é a oportunidade de os guineenses promoverem o entendimento, através de um diálogo nacional.
"A presença e a ausência do UNIOGBIS [na Guiné-Bissau] não têm grande significado, porque mesmo com a presença do UNIOGBIS no país, a Guiné-Bissau nunca conseguiu chegar à uma estabilidade efetiva. Foram atrocidades, assassinatos e golpes de Estado assinalados com a presença do UNIOGBIS", avalia.
"Entendo que, realmente, a ausência do UNIOGBIS vai permitir um diálogo nacional e maior entendimento entre os guineenses, porque, contrariamente, o UNIOGBIS só veio agravar o entendimento entre os guineenses", acrescenta.
Com o abandono do país pelo Gabinete Integrado da ONU para a Consolidação da Paz, a agenda da Guiné-Bissau é magna e a responsabilidade é dos diferentes atores, defende Armando Lona, jornalista e antigo membro da missão política da ONU na Guiné-Bissau.
"Coloca-se a grande questão, a responsabilidade dos guineenses, políticos e atores sociais, sobre a necessidade imperativa de construir a estabilidade política e institucional neste país. É uma agenda magna que o país tem tido a dificuldade de consolidar. Já se ensaiaram pactos de estabilidade, mas esses pactos nunca saíram do papel para a prática", afirma.
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ECOMIB deixou a Guiné-Bissau depois de oito anos |
Desafios a enfrentar
Há uma convergência de opiniões sobre os desafios que esperam a Guiné-Bissau no ano 2021 e há problemas sociais para resolver. Entre 4 e 8 de janeiro, há uma greve geral convocada pela União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG).
Para a diretora da ONG "Voz di Paz", Udé Fati, nem tudo pode ser resolvido, mas há aspectos a tomar em conta:
"Não vamos ter condições para resolver todos os problemas que a sociedade está a enfrentar neste momento, que são quase problemas estruturais. Mas é bom que, no ano 2021, sejam traçadas condições para que a economia possa sustentar o desenvolvimento do país e é muito importante trabalhar também na redução da desigualdade social", considera.
O ano 2021 vai constituir a "primeira etapa" do percurso da Guiné-Bissau sem a presença do UNIOGBIS, que foi instalado no país em 1999. Para Armando Lona, são vários os problemas que devem ser superados para o alcance da estabilidade.
"É o protagonismo partidário, cada partido luta em torno dos seus objetivos e, para além dos objetivos partidários, temos os objetivos dos grupos, objetivos individuais, e este país acaba por se colocar numa posição de vulnerabilidade crónica", afirma.
"Associada a esta vulnerabilidade, temos uma outra situação de disputas geopolíticas regionais. Temos facções políticas, cada uma a ter patrocínio de um país vizinho", refere.
Para superar os problemas sociais, Udé Fati elege o reforço da igualdade de género.
"É bom pensar em tornar a igualdade de género numa agenda pública, onde as mulheres terão tratamento que corrija as desigualdades judiciais. Que a lei da paridade seja vista não só no seu limite inferior de 36%, mas que seja entendido que é possível muito além disso, criar melhores condições para que as mulheres possam contribuir para o bem do país", conclui.