Ordem dos Jornalistas denuncia falta de liberdade de imprensa na Guiné-Bissau após suspensão de repórter que se terá recusado a entrevistar o Presidente Sissoco. Queixas sobre censura na televisão pública não são novas.
Baducaram Imbenque, jornalista desportivo da Televisão da Guiné-Bissau (TGB), foi suspenso de todas as atividades pelo diretor-geral do órgão público, Amadú Djamanca, supostamente por não ter entrevistado o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, no âmbito de um torneio de futebol no Estádio Lino Correia, em Bissau, entre os órgãos de soberania do país, apurou a DW África.
"Isso prova que não há, realmente, liberdade de imprensa na Guiné-Bissau", alerta António Nhaga, bastonário da Ordem dos Jornalistas. "Não sei o que aconteceu, mas sei que o editor-chefe ou diretor de um órgão de comunicação social não deve intervir no trabalho de um jornalista, só porque não entrevistou o Presidente."
"Perguntaram ao jornalista porque não entrevistou o Presidente? Isso demonstra mais uma vez a prepotência que existe em relação ao jornalista", lamenta ainda.
O despacho da suspensão de Baducaram Imbenque, datado de 11 de janeiro e assinado pelo diretor da TGB, não faz referência ao facto de o Presidente não ter sido entrevistado.
"Não obstante a liberdade de imprensa e de expressão, em observância plena, e com base na liberdade do jornalista em escolher o ângulo da notícia, conforme a sua preferência, cada órgão de informação, sobretudo aqueles públicos ou estatais, como a TGB, tem a sua própria linha editorial. Com isso, e trata-se de um ocorrido [no dia 09 de janeiro], que pôs em causa essa linha editorial, mais agravante ainda quando o evento em questão é relacionado com os órgãos de soberania", lê-se no documento.
Contactado pela DW África, o diretor da Televisão da Guiné-Bissau, Amadú Djamanca, promete reagir "quando for possível". Convidado a comentar o sucedido, o jornalista suspenso, Baducaram Imbenque, não se quis pronunciar.
Para Bacar Camará, jornalista da Rádio Nacional da Guiné-Bissau, os elementos conhecidos sobre o caso são suficientes para exigir a demissão do diretor-geral da televisão pública. "O diretor da televisão deve ser exonerado das suas funções, porque coloca em causa a imagem do Governo", assevera.
"A atitude da direção da televisão prejudica de sobremaneira a imagem do Governo", considera o repórter. "Situações como esta acabam por transparecer no relatório dos Repórteres Sem Fronteiras, dando uma imagem negativa ao Governo", acrescenta.
Esta não é a primeira vez que a TGB é alvo de acusações de censura. Em setembro de 2017, funcionários do órgão público produziram um abaixo-assinado para exigir o fim da proibição da difusão de certos conteúdos na estação pública do país.
O Gabinete da ONU para a África Ocidental e Sahel (UNOWAS, sigla em inglês) manifestou preocupação no passado dia 8 de janeiro com a detenção ilegal e violação de direitos humanos na Guiné-Bissau contra adversários políticos e limitações à liberdade de imprensa.
"Na Guiné-Bissau, a insegurança e as violações dos direitos humanos contra adversários políticos continuaram a ser uma preocupação, com relatos de detenções arbitrárias, intimidação, detenção ilegal de adversários políticos", referia o documento.
No relatório do representante do secretário-geral da ONU para a África Ocidental, Mohamed Ibn Chambas, e com data de 24 de dezembro, lê-se que a "liberdade de imprensa no país foi igualmente limitada, uma vez que bloggers e ativistas políticos das redes sociais foram alvo de pessoas uniformizadas e armadas."