© Lusa Por Lusa 12/10/24 Número de imigrantes ilegais na Europa é estável e inferior a 1%
Um estudo de vários investigadores concluiu que os imigrantes ilegais na Europa correspondem a menos de 1% do total da população e o número tem-se mantido estável ao longo dos anos.
Na Europa, há uma "expectativa de que a imigração irregular está sempre a aumentar, fruto dos desembarques nas costas mediterrânicas", mas essa ideia que se criou "não parece corresponder à realidade", afirmou João Carvalho, investigador do ISCTE, especialista em migrações, mobilidade e etnicidade, que integra o projeto europeu MirreM, que mede a imigração irregular.
Em 2008 foi feito um estudo semelhante e a conclusão é que "a dimensão da população irregular é mais ou menos a mesma. Até agora apresentou-se como estável e não há um crescimento desproporcional relativamente aos outros fluxos migratórios", afirmou João Carvalho.
Os dados apontam para um número que oscila entre os 2,6 a 3,2 milhões de ilegais nos 12 países europeus estudados, o que representa 0,6% a 0,8% da população total.
Esta proporção fica muito abaixo da média de países como os Estados Unidos, onde os 11 milhões de imigrantes ilegais correspondem a 3,5% da população total.
Em 2008, uma pesquisa semelhante apontava para uma população de imigrantes ilegais nos mesmos países -- Reino Unido, Alemanha, França, Grécia, Espanha, Áustria, Bélgica, Países Baixos, Polónia, Irlanda, Itália e Finlândia - entre 1,8 e 3,8 milhões.
Segundo João Carvalho, a Itália tem números de imigrantes ilegais semelhantes a 2008, Espanha teve um aumento e a Grécia diminuiu, o que prova que, "mesmo nos países que estão nas fronteiras externas da União Europeia, a tendência não é de um crescimento desmesurado e inevitável".
Mais do que as regras fronteiriças, o que acaba por regular a imigração é a dinâmica económica dos países: "Tirando a Coreia do Norte, que ninguém quer ir para lá, o resto depende. Se há oportunidades de trabalho, as pessoas vão. Se há uma crise, as pessoas saem".
Portugal não integra este estudo porque, por um lado, o objetivo era comparar com 2008 e o país não fez parte desse pacote de análise, mas também porque, no caso português, "não é fácil obter as estimativas", devido aos pedidos de regularização que podem estar duplicados, ao abrigo de diferentes soluções jurídicas.
Por isso, "as autoridades portuguesas nunca facilitaram essa documentação", explicou.
No entanto, para o investigador, se fosse feita essa comparação entre 2008 e 2024 os dados deveriam indicar que "a imigração irregular aumentou", já que esse ano era um "período em que a imigração já estava a declinar substancialmente devido ao clima económico" menos favorável.
"Agora se compararmos com 2002", ano em que Portugal viveu um período de expansão económica, esse número de imigrantes ilegais "é semelhante ao que estamos a viver hoje", considerou, recordando que, nesse período, o país "regularizou mais de 180 mil de estrangeiros"
Hoje em dia, a polarização e os movimentos populistas trouxeram o tema dos imigrantes para a agenda, constituindo uma das "principais clivagens políticas" em países como o Reino Unido ou a Hungria.
Contudo, em Portugal, relativamente à legislação do asilo, o investigador considera que "há um grande desfasamento entre o discurso e a realidade, em que a intensidade dos requerimentos é muito, mas mesmo muito pequena".
E mesmo o tema da imigração "não tem o mesmo acolhimento" em Portugal que noutros países, acrescentou João Carvalho.
"Bem sabemos que existem forças políticas apostadas em politizar a imigração, considerando a imigração como um dos principais problemas da Europa", mas em Portugal "esse fenómeno não tem o mesmo nível que nos outros países", segundo os inquérito realizados.
"Apesar de tentarem", esses movimentos populistas "ainda não conseguiram colocar a imigração entre as principais preocupações dos portugueses", afirmou, admitindo que esta é uma tendência que poderá mudar no futuro.
"Não tenho nenhuma bola de cristal", mas "sabemos que, até agora mesmo, as campanhas de mobilização anti-imigração não têm sido muito bem-sucedidas", referiu.