sexta-feira, 6 de maio de 2022

Kyiv. Diplomatas acusam Rússia de "desprezar" ONU após ataque "chocante"

© Lusa

Por LUSA  05/05/22 

Embaixadores de vários países afirmaram hoje que a Rússia "despreza" não apenas o secretário-geral, mas toda a Organização das Nações Unidas (ONU), após o ataque "chocante" e "vergonhoso" a Kyiv quando António Guterres estava na capital ucraniana.

"O secretário-geral da ONU foi recebido em Moscovo para discussões incómodas com as autoridades. Ele também visitou Kiev. Por mais chocante e vergonhoso que seja, Kiev foi bombardeada durante a sua visita e enquanto falava", disse o embaixador da Albânia junto das Nações Unidas, Ferit Hoxha, perante o Conselho de Segurança.

"Raramente testemunhamos tanto descaso pela ONU e seu secretário-geral, tanto desprezo pela Organização e todo o pessoal da ONU. Não sei como os russos explicam isso", acrescentou Hoxha.

O embaixador defendeu que todos deveriam "estar orgulhosos" daquilo que o sistema da ONU está a fazer para ajudar a Ucrânia e o seu povo, destacando o trabalho de Guterres.

Também o diplomata francês, Nicolas de Riviere, indicou que os ataques mostraram a "baixa estima que a Rússia" tem pela ONU.

Já a embaixadora norte-americana, Linda Thomas-Greenfield, salientou que a Rússia, ao ter a "audácia" de bombardear Kiev enquanto o secretário-geral lá estava, passou a mensagem clara de que "não respeita nem ouve a ONU, nem a carta das Nações Unidas".

De acordo com a diplomata, a Rússia tem mentido perante o Conselho de Segurança, apresentando desinformação e teorias da conspiração.

Pediu ainda que outros diplomatas parem de pedir que "as duas partes parem" o conflito, quando a Rússia é a única responsável pela guerra,

"A Rússia diz que é a Ucrânia a atacar o seu próprio país, desafiando toda e qualquer lógica. É incrível como há membros deste Conselho que ainda pedem às duas partes para parar o conflito, quando é a Rússia a única perpetradora. Só a Rússia sozinha pode terminar esta guerra, assim como a começou sozinha", disse Linda Thomas-Greenfield.

A avaliação dos embaixadores foi partilhada numa reunião do Conselho de Segurança sobre a situação na Ucrânia, e contou com a presença do próprio António Guterres.

Na semana passada, o Conselho de Segurança das Nações Unidas já tinha informado que discutiria os ataques de que Kiev, capital ucraniana, foi alvo durante a visita à cidade do secretário-geral da ONU.

Kiev foi alvo na quinta-feira da semana passada de pelo menos dois bombardeamentos por parte das forças russas enquanto decorria a visita do secretário-geral da ONU à cidade.

O embaixador ucraniano, Sergíy Kyslytsya, aproveitou o encontro para agradecer a Guterres pela sua visita à Ucrânia e por, juntamente com toda a estrutura da ONU e da Cruz Vermelha, "ter conseguido avanços" na retirada de civis de Mariupol.

Por outro lado, o diplomata da Rússia junto à ONU, Vassily Nebenzia, usou o seu discurso no Conselho de Segurança para voltar a acusar a Ucrânia de ser responsável pela guerra e criticou ainda o ocidente pelas sanções impostas a Moscovo.

De acordo com o diplomata russo, o conflito na Ucrânia permitiu ao Ocidente lançar uma repressão económica há muito preparada contra a Federação Russa.

"Não temos dúvidas de que vocês (ocidente) estava a preparar-se para isto", disse Nebenzya, apontando a "velocidade" com que as sanções foram aplicadas a Moscovo pelos países ocidentais.

A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior.

A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

[Notícia atualizada às 22h56]


Leia Também:

A Organização das Nações Unidas (ONU) documentou 180 casos de civis, jornalistas e políticos locais que foram detidos arbitrariamente ou que desapareceram em áreas controlas pela Rússia na Ucrânia.

Segundo a Alta-Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, foram ainda registados oito casos semelhantes em território controlado pela Ucrânia de possíveis desaparecimentos forçados de indivíduos pró-Rússia.

No total, foram documentados 188 raptos...Ler Mais

Sem comentários:

Enviar um comentário