terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Gâmbia intensifica repressão a protestos que pedem saída do Presidente Barrow

Após prometer deixar a Presidência em três anos, Adama Barrow mudou de ideia e quer ficar cinco. Últimas medidas do governo atacam a liberdade de imprensa e os direitos fundamentais dos cidadãos.

Presidente Adama Barrow reprime manifestações

A polícia da Gâmbia deteve 137 pessoas durante protestos que exigiam a saída do Presidente Adama Barrow no último domingo (26.01). Os números foram divulgados nesta segunda-feira (27.01) pelo Governo. O final de semana foi marcado por confrontos entre manifestantes e forças de segurança na capital, Banjul, que deixaram dezenas de pessoas feridas.

Os protestos foram lançados há algumas semanas, depois de Adama Barrow ter anunciado a intenção de se manter na Presidência, totalizando cinco anos de mandato e não três - como se tinha comprometido em 2017, quando sucedeu a Yahya Jammeh– ditador que permaneceu 22 anos no poder.

Em 2016, a população estava ansiosa pela democracia depois de décadas de ditadura. A derrota de Jammeh nas eleições e a tomada de posse de Barrow trouxeram esperança ao país.

Para o cientista político Ismaila Cessay, professor da Universidade da Gâmbia, o curto período de estabilidade democrática no país parece ter chegado ao fim. Segundo Cessay o país transita entre uma expectativa alta para uma desilusão. "A situação ficou má. Acho que o ponto alto se manifestou no domingo”, diz o analista.

A democracia que não veio

Ex-presidente Jammeh pode ser processado se voltar ao país

No domingo, as forças de segurança usaram gás lacrimogéneo para dispersar os milhares de pessoas que participavam nos protestos contra o chefe de Estado, levantando receios entre os gambianos.

Cessay avalia que, depois de 2016, a sociedade acionou uma espécie de ‘modo democracia', mas o Estado não conseguiu corresponder da mesma forma. "[O Estado] mantém as mesmas estruturas, as mesmas instituições, as mesmas leis que sustentavam a ditadura, e Adama Barrow rodeou-se dos velhos amigos de Jammeh”.

O Governo de Barrow anunciou a proibição do movimento "Three Years Jotna” [Três anos é Suficiente], que lidera os protestos pela saída do chefe de Estado. O movimento é classificado pelo Executivo como "subversivo, violento e ilegal”.

As autoridades suspenderam igualmente a atividade de duas estações de rádio, considerando que propagaram "mensagens incendiárias” e permitiram que as suas plataformas fossem "usadas para incentivar a violência".

Supressão de direitos

O Sindicato da Imprensa da Gâmbia lançou um apelo público ao Governo, denunciando também um ataque à liberdade de expressão no país. "Duas rádios foram suspensas e quatro jornalistas detidos. Pedimos ao Governo que os liberte imediatamente e que levante a suspensão ilegal das estações de rádio”, disse o secretário-geral da organização, Saikou Jammeh.

Cessay pensa que o comportamento das autoridades aponta para um regresso no país. Para o cientista político, a comunicação social foi uma das instituições que mais sofreram no regime de Jammeh.

"É como um dejá-vu. É muito triste que este Governo, que supostamente iria trazer direitos humanos e democracia ao país depois de 22 anos de um regime traumático, esteja a usar as mesmas táticas que o seu antecessor”, destaca.

Saikou Jammeh denunciou supressão da liberdade de imprensa

Mais protestos      

Vários protestos a decorrer em simultâneo no país, e isso agravar o ambiente de confusão e instabilidade. Enquanto uns exigem que Adama Barrow deixe a Presidência, milhares saíram à rua há duas semanas em defesa da sua manutenção no poder por cinco anos, a duração do mandato que está inscrita na Constituição.

Outro movimento, que no sábado marchou nos arredores de Banjul, exige justiça para as vítimas do regime de Jammeh, que deixou o país em 2017, depois de ser derrotado por Barrow nas presidenciais. Eles pedem que Jammeh seja autorizado a regressar do exílio na Guiné-Equatorial.

O ministro da Justiça da Gâmbia, Aboubacarr Tambadou, já fez saber que caso o ex-Presidente regresse ao país, será alvo da justiça gambiana.

DW

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