domingo, 5 de agosto de 2018

Crise migratória na Argélia: Morrer no deserto

A Argélia foi acusada de ter abandonado no deserto, durante meses, dezenas de milhares de refugiados. Sobreviventes dizem que muitas pessoas morreram. Autoridades negam violação dos direitos humanos.

Deserto de Ténéré

Dezenas de milhares de emigrantes e refugiados terão sido alegadamente transportados pelas forças de segurança argelinas para o deserto do Ténéré e abandonados à sua sorte no meio do nada, sem água, nem alimentos.

Os refugiados contam que os soldados argelinos lhes roubaram os telemóveis e dinheiro. Ju Dennis é um dos sobreviventes. Teve sorte: a sua marcha pelo deserto terminou na pequena aldeia nigerina de Assamaka, onde recebeu assistência.

Daqui, muitos africanos tentam chegar à Europa com a ajuda de passadores. Mas houve quem não resistisse às condições do deserto, diz Dennis. "Tivemos que andar seis ou sete horas. Já nem sentia as minhas pernas. Cheguei ao fim das minhas forças".

"Condições terríveis", diz OIM

Fotografia de um migrante da Libéria mostra migrantes ilegais expulsos da Argélia em autocarros.

Embora a imprensa internacional só agora se tenha apercebido da situação, a prática é conhecida da Organização Internacional de Migrações (OIM) há muito, segundo a porta-voz Florence Kim: "Refiro-me a pessoas que foram abandonadas no deserto a 30 quilómetros de qualquer civilização. Desde setembro, contabilizámos 10 mil nigerianos nesta situação".

Não são apenas homens, acrescenta: "Também mulheres grávidas, crianças, menores não acompanhados, refugiados. As condições são terríveis. Muitos morrem".

O seu colega no local, Alhoussan Adouwal, percorre frequentemente a fronteira com a Argélia à procura de pessoas que precisem de ajuda. Adouwal aponta para o horizonte e abana a cabeça. Diz que há bebés e grávidas entre os refugiados Chegam aos milhares, acrescenta, é uma verdadeira catástrofe.

Jante Kamara é uma sobrevivente. O filho que levava na barriga não. "O meu bebé morreu, foi assassinado. Tantos homens e mulheres morreram no caminho. Não tínhamos água. Morreram à sede. Alguns perderam-se".

Autoridades negam violações

As autoridades argelinas negam ter violado direitos humanos. Dizem que a Argélia age em conformidade com as leis e que respeita a dignidade humana. A deportação de migrantes é feita de comum acordo com os países vizinhos.

No entanto, organizações de defesa dos direitos humanos criticam com muita frequência a forma como a Argélia lida com refugiados e migrantes.

A mão pesada de Argel é uma reacção ao número crescente de refugiados no país. Desde o encerramento quase completo da fronteira líbia, há mais pessoas que vêm par a Argélia onde ficam retidas. Para as autoridades argelinas, elas são uma ameaça à ordem pública.

Mas, se a indignação é grande na imprensa, a elite política na Europa praticamente não se manifesta. Bruxelas admite que está ciente do procedimento da Argélia. Mas estados soberanos têm o direito de expulsar migrantes, desde que cumpram a lei internacional, afirma-se na capital da União Europeia. Ao mesmo tempo, a União Europeia quer abrir centros para refugiados e requerentes a asilo nos estados do Magreb.

DW

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