O consultor guineense Paulo Gomes defendeu hoje que os riscos de financiamento para os países africanos estão mal calculados e que por isso as taxas de financiamento são demasiado altas, o que impede que bons projetos sejam concretizados.
"Há variáveis que não são integradas na análise do risco dos países africanos", disse Paulo Gomes em entrevista à Lusa à margem da sua participação nos Encontros Anuais do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank), que decorrem até sábado em Abuja, a capital da Nigéria.
As análises de risco sobre África "têm tendência para agregar todos os países na amostra, mas para poder avaliar os países africanos é necessária uma melhor segmentação, para que os dados sejam um pouco mais articulados para responderem à realidade das coisas", vincou.
"Em segundo lugar, há eventos que acontecem, e as pessoas têm tendência a aplicar para todos países africanos, o que significa que se há uma crise grave na Somália, isso contamina toda a análise sobre muitos países africanos que estão em paz e que têm transições suaves, e isso acaba por deturpar a análise final", acrescentou o analista.
Isto traduz-se, vincou, em financiamento mais caro para os países e para as empresas que querem investir, fazendo com que muitos projetos acabem por não se concretizar.
"As taxas para financiamento dos países africanos são exageradas e isso leva a que muitos projetos com grande potencial não sejam rentáveis devido ao custo dos empréstimos que acarretam, por isso é preciso, para além de reduzir a perceção negativa sobre estes países, estruturar melhor os projetos", disse o antigo candidato presidencial nas eleições de 2015 na Guiné-Bissau.
Outra das sugestões deixadas por Paulo Gomes é a utilização da moeda chinesa, que faz parte do cabaz preferencial de moedas de referência para os países africanos.
"O risco cambial que existe em várias operações complicam os investimentos, é preciso aproveitar a moeda chinesa e utilizá-la para pagamentos e reduzir o custo dos empréstimos em termos de certos equipamentos que são necessários para os projetos" vincou o diretor da Paulo Gomes & Partners, uma empresa de consultoria especializada em África.
O Afreximbank, concluiu, deve "investir mais na coleta dos dados e fazer uma melhor segmentação, que vai permitir ter uma ideia diferente sobre a realidade africana, e assim diminuir o custo do financiamento, que é um problema importante para a maioria dos países africanos".
O Afreximbank, cujos Encontros Anuais decorrem até sábado em Abuja, a capital da Nigéria, é um banco de apoio ao comércio, exportações e importações em África e foi criado em Abuja, 1993. Tem um capital de 5 mil milhões de dólares e está sedeado no Cairo.
Os acionistas são entidades públicas e privadas divididas em quatro classes e dele fazem parte governos africanos, bancos centrais, instituições regionais e sub regionais, investidores privados, instituições financeiras, agências de crédito às exportações e investidores privados, para além de instituições financeiras não africanas e de investidores em nome individual.
dn.pt/lusa
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