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POR LUSA 09/02/23
As relações entre a Rússia e os Estados Unidos atravessam uma "crise sem precedentes" e sem qualquer sinal de progressos, considerou hoje Sergei Ryabkov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo.
Na perspetiva do alto responsável diplomático, a ênfase da Casa Branca em aumentar o fornecimento de armamentos para a Ucrânia para assegurar uma derrota da Rússia não deixa qualquer espaço para a diplomacia.
"Não vejo qualquer perspetiva para um processo diplomático politicamente produtivo", disse Ryabkov em declarações a diversos meios de comunicação. "Atravessamos uma crise muito profunda e sem precedentes nas relações Rússia-EUA. A administração Biden conduziu-as para um impasse", declarou.
Ryabkov advertiu que os EUA e seus aliados devem avaliar cautelosamente os riscos relacionados com o envio e fornecimento de armas ocidentais cada vez mais poderosas à Ucrânia.
"Os americanos necessitam de avaliar profundamente os riscos relacionados com o seu enganoso e arrogante curso", disse.
Ryabkov notou que Moscovo não confia nas declarações ocidentais sobre a imposição de restrições a um conjunto de armas fornecidas à Ucrânia para evitar uma escalada, e acrescentou que essas garantias no passado apenas serviram para encobrir um aumento da quantidade e variedade de armamento destinado a Kiev.
"Não deteto qualquer sinal de razão em nenhuma capital dos membros da NATO e da UE", disse. "Aquilo que estão a fazer não irá reforçar a sua segurança".
O alto responsável russo rejeitou o argumento dos Estados Unidos de que a recusa Rússia em permitir o recomeço das inspeções às suas instalações nucleares contraria o ratado New START, o último pacto sobre controlo de armamento nuclear entre os dois países ainda em vigor.
O tratado New START, assinado em 2010 pelo Presidente Barack Obama e o Presidente russo Dmitri Medvedev, impõe a cada país um limite de 1.550 ogivas nucleares e de 700 mísseis e bombardeiros. O acordo prevê inspeções em locais definidos para comprovar o seu cumprimento.
Os Estados Unidos e a Rússia decidiram prolongar o tratado por mais cinco anos apenas alguns dias antes do seu termo, previsto para fevereiro de 2021.
A Rússia e os EUA suspenderam as inspeções mútuas previstas no New START desde o início da pandemia do Covid-19, mas no outono passado Moscovo recusou o seu recomeço, suscitando dúvidas sobre o futuro do acordo. A Rússia também adiou indefinidamente uma ronda de consultas previstas nos acordos, indica a agência noticiosa Associated Press (AP).
Na semana passada o Departamento de Estado norte-americano indicou que a recusa da Rússia em permitir as inspeções "impede os Estados Unidos de exerceram importantes deveres sob o tratado e ameaça a viabilidade do controlo de armas nucleares EUA-Rússia". Foi ainda referido que nada impede os inspetores russos de efetuarem vistorias nas instalações norte-americanas.
Ryabkov insistiu hoje que a Rússia continuou a cumprir o tratado e a trocar informações de acordo com o seu estatuto. "Aderimos ao tratado e observamos as suas provisões", disse.
Em simultâneo, reafirmou a perspetiva de Moscovo de que o reinício das inspeções não é possível atendendo ao atual ambiente nas relações.
Os comentários de Ryabkov seguiram-se a uma declaração do ministério dos Negócios Estrangeiros russo onde se refere ser impossível manter "os habituais contactos [business as usual]" com Washington e quando "os EUA desencadearam efetivamente uma guerra híbrida total contra a Rússia, que pode implicar um perigo real de confrontação militar direta entre as duas potências nucleares".
O comunicado define de "cínicos" os pedidos de Washington sobre o reinício das inspeções em instalações nucleares russas, e após uma recente série de ataques de drones ucranianos contra bases aéreas russas que possuem bombardeiros estratégicos com capacidade nuclear, e que terão sido dirigidos com o apoio dos serviços secretos norte-americanos.
Ryabkov, que se encontrou recentemente com a nova embaixadora dos EUA em Moscovo, Lynne Tracy, referiu ainda que o ministério dos negócios Estrangeiros russo emitiu uma queixa formal à embaixada norte-americana, ao considerar que a sua persistente utilização de redes sociais representa uma interferência nos assuntos internos da Rússia.