terça-feira, 12 de março de 2024

Relatório. Maior ameaça aos EUA? China, Rússia, Irão e guerra em Israel

© Reuters

POR LUSA   12/03/24 

As agências de segurança dos Estados Unidos consideram que a China, a Rússia e o Irão representam sérias ameaças ao país, mas reconhecem preocupação com a probabilidade de o conflito entre Israel e Hamas se alastrar.

"Uma China ambiciosa e ansiosa, uma Rússia conflituosa, algumas potências regionais, como o Irão, e atores não estatais mais capazes estão a desafiar regras de longa data do sistema internacional, como a primazia dos EUA", afirmaram as agências no seu relatório anual de 2024 sobre a avaliação de ameaças à segurança dos Estados Unidos.

O documento, divulgado na segunda-feira à noite ao mesmo tempo que os líderes das agências eram ouvidos no Congresso, refere que o país enfrenta uma "ordem mundial cada vez mais frágil", com grande competição entre potências, desafios transnacionais e conflitos regionais.

O relatório centra-se sobretudo nas ameaças da China e da Rússia, os maiores rivais dos Estados Unidos, referindo que Pequim está a fornecer ajuda económica e de segurança à Rússia na guerra contra a Ucrânia, e alertando que a China pode usar a tecnologia para tentar influenciar as eleições deste ano nos EUA.

A China "pode tentar influenciar as eleições dos EUA em 2024 para marginalizar os críticos da China e ampliar as divisões sociais dos EUA", afirma o relatório.

A análise de ameaças aos EUA adianta ainda que o comércio entre a China e a Rússia aumentou desde o início da guerra na Ucrânia e que as exportações chinesas de bens com potencial uso militar mais do que triplicaram desde 2022.

"A China tem a capacidade de competir diretamente com os Estados Unidos e aliados e de alterar a ordem global", consideram as agências, sublinhando que "os sérios desafios demográficos e económicos da China podem torná-la um país ainda mais agressivo e imprevisível".

Em relação à Rússia, o relatório adianta que o país dirigido por Vladimir Putin "continua a ser um adversário resiliente", que "quer projetar e defender os seus interesses a nível mundial e minar os Estados Unidos e o Ocidente".

Para as agências norte-americanas, "o fortalecimento dos laços da Rússia com a China, o Irão e a Coreia do Norte para reforçar a sua produção e economia de defesa são um importante desafio para o Ocidente e os parceiros".

Outra das grandes preocupações inscritas no documento é a possibilidade de o conflito entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas se alastrar.

"A crise em Gaza é um exemplo claro de como os desenvolvimentos regionais podem ter implicações mais amplas e até globais", afirmou a diretora da agência de Inteligência Nacional, Avril Haines, no seu depoimento ao Comité de Inteligência do Senado.

A responsável lembrou os ataques dos Huthis aos transportes marítimos e referiu que grupos como a Al-Qaeda e o autoproclamado Estado Islâmico são "inspirados pelo Hamas" e orientam os seus apoiantes a atacar os interesses israelitas e norte-americanos.

"Basta olhar para a crise de Gaza -- desencadeada por um grupo terrorista não estatal altamente capaz como o Hamas, alimentado em parte por um Irão regionalmente ambicioso, e exacerbado por narrativas encorajadas por China e Rússia para minar os Estados Unidos no cenário global -- para ver como uma crise regional pode ter repercussões generalizadas", consideram as agências no relatório.

Os conselheiros avisam ainda que o Irão continuará a ser "uma ameaça regional com atividades de influência maligna mais amplas", enquanto a Coreia do Norte se mantém como um interveniente disruptivo a nível regional e mundial".

Mas nem só as relações com outros Estados assustam as agências de informações para a segurança nacional dos Estados Unidos.

Fatores como a economia, a desinformação, os avanços tecnológicos e as alterações climáticas são também expostas no relatório como ameaças ao país no próximo ano.

"A tensão económica está a alimentar ainda mais a instabilidade. Em todo o mundo, vários Estados enfrentam crescentes e, em alguns casos, insustentáveis encargos da dívida, repercussões económicas da guerra na Ucrânia, e aumento de custos e perdas de produção devido a eventos climáticos extremos, enquanto continuam a tentar recuperar da pandemia de Covid-19", afirma o documento.

Ao mesmo tempo, "o mundo está assolado por uma série de questões partilhadas e universais que exigem cooperação e soluções globais", mas "a maior competição entre formas democráticas e autoritárias de governo que a China, a Rússia e outros países estão a alimentar ao promoverem o autoritarismo e espalhar a desinformação está a pressionar normas de longa data".

Uma competição que, segundo as agências norte-americanas, "também explora os avanços tecnológicos - como a Inteligência Artificial, as biotecnologias e biossegurança, o desenvolvimento e produção de microeletrónica e potenciais desenvolvimentos quânticos - para ganhar uma influência mais forte em todo o mundo".



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