sexta-feira, 28 de agosto de 2020

IBAP - FRACASSO RETUNDO DAS ÁREAS PROTEGIDAS


Está em risco de desabamento todo o edifício da conservação conseguido construir com enorme sacrifício ao longo de trinta anos. Período histórico suficiente para olharmos de lupa o efeito da geração de ouro, de jovens entusiastas recém-formados, coadjuvados por técnicos expatriados já experimentados do CECI e da UICN, suportados financeiramente por fundos de entidades parceiras amigas da conservação de recursos naturais. É deste belo efeito edificado, desta bandeira, o país tem gabado, projetando a sua boa imagem para o mundo.

Deste empreendimento em que a Direção-geral das Florestas e Caça havia sido pioneira possibilitou-se a criação de várias instituições e organizações de caris ambiental. Todavia, dado que imperam fatores de fragilidades institucionais e fraquezas humanas inerentes ao homem guineense, o património natural vê-se sequestrado e se debate com os prazeres socioeconómicos alheios à vontade das comunidades residentes, legítimas proprietárias. Comunidades que em diferentes pontos onde a experiência da construção das áreas protegidas com população dentro se efetivou, contribuíram sobre maneira para o sucesso efetivo da cogestão das mesmas, tendo participado, na negociação, na sensibilização, na delimitação, na zonagem e na declaração de sítios como unidades de conservação.

Passados 30 anos, os protagonistas rurais são outros. Confrontados com uma geração com menos apego à terra, desprovida de valores do berço-mãe natureza, os agentes de conservação ficam impotentes perante a situação. Porque lhes falta o amparo do Estado no exercício de um poder delegado aos civis.

Na conservação a civilidade tem os seus limites. Se nos anos 90 do século XX, eram suficientes trabalhos de sensibilização, dialogando com as comunidades locais, com o amparo das autoridades tradicionais, hoje a situação é adversamente complicada, e diferente. Temos um poder tradicional confrontado com o desrespeito aos tabus vigentes, as coisas complicam-se, ainda mais, quando estamos confrontados com a ausência do próprio Estado no local dos acontecimentos. As direções das áreas protegidas e seus órgãos de gestão ficam sem poder de manifestação em nome do Estado que os criou.

Os malfeitores se aproveitam para delapidar o património natural e a biodiversidade, fingindo que o fazem, não em benefício próprio, mas em nome das comunidades residentes. Este fenómeno é recorrente em todas as áreas protegidas. Gente vinda de outras regiões já devastadas e até comunidades dos países vizinhos, invadem zonas de interesse ecológico e ambiental, com conivência dos residentes farsantes para o exercício de atividades ilícitas em claro desafio às autoridades das áreas protegidas - IBAP. Como exemplo, temos o cidadão não residente que devasta o núcleo do Parque Natural das Lagoas de Cufada, em 15 hectares, notificado e tendo assinado um termo de compromisso, reincide e ainda ousa levar os populares da tabanca de Tira Camisa exigir explicações à GN, bradando besteiras aos quatro ventos.

Se as nossas atitudes enquanto autoridades nacionais não forem no sentido de salvaguardar as áreas protegidas enquanto modelo viável para a proteção do património natural do próprio Estado, o risco do fracasso rotundo estará à vista de todos. Alerta é sério.



IBAP - Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas

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