© Reprodução TwitterNotícias ao Minuto 03/04/23
Descrita como antiguerra e feminista, Darya Tryopova ficou no centro das atenções após o seu envolvimento no ataque que matou um influente blogger russo. Eis tudo o que se sabe, até ao momento, sobre a mulher, que dizem que pode ter sido "enganada".
Darya Tryopova foi esta segunda-feira detida por ser suspeita da explosão que ontem matou um blogger militar pró-russo em São Petersburgo, na Rússia. Mas o que se sabe sobre a mulher que está no centro das atenções?
Segundo a imprensa russa, Darya Tryopova tem 26 anos, tendo nascido em fevereiro de 1997, e já tinha sido detida por participar em manifestações contra a guerra na Ucrânia.
Segundo a TASS, registos de tribunal confirmam que Trepova foi detida a 9 de março de 2022 por "participação de permanência simultânea em massa e (ou) movimento de cidadãos em locais públicos, resultando na violação da ordem pública". Na altura, foi condenada a 10 dias de prisão.
As autoridades russas descrevem-na ainda como uma "apoiante ativa" da Fundação Anticorrupção, criada pelo opositor Alexey Navalny, que atualmente está preso.
Casada, houve ainda quem lhe apontasse ligações ao Partido Libertário da Rússia, do qual o marido, Dmitry Rylov, é militante. Contudo, num comunicado divulgado no Telegram, o partido já recusou qualquer filiação. "Daria Trepova nunca foi membro do nosso partido político. Além disso, não temos informações que sugiram que ela tenha apoiado o Partido Libertário", informou.
Ao Insider, o marido de Darya, em exílio, disse estar convencido de que ela foi "enganada" e que "não era capaz" de levar a cabo o ataque.
Uma amiga disse ainda à imprensa russa que acredita que o casamento de ambos foi uma "brincadeira" e que não tinham "contacto".
O Novaya Gazeta avança ainda que a mulher, que morava em Pushkin, nos arredores de São Petersburgo, terá trabalhado numa loja vintage, mas deixou o emprego para se mudar para Moscovo. Os conhecidos identificam-na como feminista, lembram que "não apoiou a guerra", mas "não aderiu a visões radicais".
À BBC, algumas fontes disseram que a mulher se chegou a matricular na universidade estadual de São Petersburgo, não se sabendo exatamente a faculdade em questão. Acredita-se também que não terá terminado o curso.
O que se sabe sobre a explosão
Recorde-se que a explosão, que matou o blogger pró-Kremlin, feriu mais de 32 pessoas. De realçar que os meios de comunicação russos disseram que a bomba estava escondida numa caixa que continha um busto de Tatarsky, que a suspeita deu como prenda ao blogger pouco antes da explosão.
Moscovo acusou a inteligência da Ucrânia pelo atentado, denunciando ainda que o ataque contou com a cumplicidade de apoiantes de Alexei Navalny.
Ivan Zhdanov, diretor da organização de Navalny, já reagiu às acusações da Rússia, considerando que se tratam de uma tentativa de prolongar a pena de prisão do opositor russo. "Obviamente, planeiam condená-lo a pena máxima, e o terrorismo é muito conveniente para isso", escreveu no Telegram.
Zhdanov acusa ainda: "Tudo o que está a acontecer sugere que, na realidade, foram os próprios agentes do FSB que simplesmente eliminaram este propagandista. Eles fazem isso desde 2014: envenenando-se e matando-se uns aos outros alegremente".
No domingo, numa declaração publicada na rede social Twitter, Mykhailo Podoliak, conselheiro presidencial da Ucrânia, negou qualquer envolvimento de Kyiv no atentado, sublinhando acreditar tratar-se de um ato de "terrorismo interno" face às rivalidades prevalecentes dentro do regime russo.
O café atingido pertenceu ao líder do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, que, já hoje, escreveu na rede social Telegram que confiou o estabelecimento à 'Frente Cyber Z'.
O ataque de domingo lembra aquele em que Daria Douguina, fervorosa defensora da ofensiva contra a Ucrânia e filha do autor ultranacionalista Alexander Dougin, morreu em agosto passado. A Rússia acusou então Kyiv, que negou qualquer envolvimento.
Segundo a AFP, as declarações de Yevgeny Prigozhin sobre os acontecimentos de domingo parecem querer descartar qualquer responsabilidade dos serviços secretos ucranianos.
"Não vou acusar o regime de Kyiv por esses atos. Acho que está em ação um grupo de radicais", disse Yevgeny Prigozhin no canal do Grupo Wagner na plataforma Telegram.
Quem era Vladlen Tatarsky?
O blogger Vladlen Tatarsky, 40 anos, era natural do Donbass, região do leste da Ucrânia que está também no centro do conflito.
Tatarsky, que se deslocava com frequência à frente de combate do lado russo, tinha mais de meio milhão de seguidores no seu canal na plataforma Telegram.
Segundo a imprensa russa, Tatarsky tinha sido preso na Ucrânia em 2011, aparentemente por um assalto, sem que tivessem sido avançadas mais informações.
Em 2014, na sequência dos confrontos desencadeados no leste da Ucrânia por separatistas liderados por Moscovo, o 'blogger' conseguiu fugir da prisão para se juntar aos combatentes.
Em 2019, Tatarsky deixou as forças separatistas, segundo o diário Kommersant, para se destacar, a partir daí, como blogger.
Em setembro de 2022, numa receção no Kremlin, Tatarsky comemorou de forma efusiva a anexação unilateral de quatro regiões ucranianas (Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia) com palavras que, contudo, chocaram os presentes.
"Vamos derrotar todos, vamos matar todos, vamos roubar todas as pessoas de que precisamos, tudo será como queremos", afirmou então perante as câmaras.