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POR LUSA 21/02/23
A Rússia elaborou uma estratégia em 2021 para "absorver" a Bielorrússia até 2030, assumindo o controlo da política, economia e potencial militar do país vizinho, segundo um documento do Kremlin ao qual o The Dossier Center teve acesso.
Segundo o The Dossier Center, do ex-oligarca e opositor no exílio Mikhail Khodorkovsky, trata-se de um documento desenvolvido pelo Kremlin em conjunto com o Serviço de Espionagem Externa, o Serviço Federal de Segurança (FSB), os serviços secretos militares (GUR) e o Estado-Maior General das Forças Armadas russas que está na posse de jornalistas da Estónia, Rússia, Ucrânia, Bielorrússia, EUA, Alemanha, Suécia e Polónia.
"O Kremlin deveria adaptar a legislação bielorrussa ao russo, gerir a política externa da república no interesse da Rússia, aumentar a presença militar em território bielorrusso, alcançar a supremacia da língua russa sobre a bielorrussa e dar aos bielorrussos a cidadania russa. Todos estes objetivos foram planeados para serem alcançados em nove anos, até 2030", resume a investigação.
A Rússia já aumentou as tropas russas na Bielorrússia em 2021, sob o pretexto de exercícios militares conjuntos, um prelúdio para o início da guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022.
O documento estudado pelo The Dossier Center, intitulado "Objetivos estratégicos da Federação Russa na direção da Bielorrússia", estabeleceria objetivos tais como "alinhar a legislação bielorrussa com a legislação russa e subjugar a vida sociopolítica, comercial, científica e cultural da Bielorrússia".
"Toda a estratégia da Administração Presidencial é construída em torno destas áreas. Cada um dos objetivos está dividido em tarefas de urgência variável, até 2022, 2025 e 2030", sublinha.
"Além da harmonização das relações comerciais e económicas, a Rússia planeia estabelecer o controlo no setor político-militar da Bielorrússia até 2030", afirma.
De acordo com a investigação, as tarefas dos serviços secretos russos incluem limitar a influência das forças "nacionalistas e pró-ocidentais", completar a reforma da constituição bielorrussa com base nos seus interesses, e reforçar os sentimentos pró-russos nas elites militares e políticas e entre a população através da introdução de "grupos de influência pró-russos".
Os "objetivos estratégicos" mencionam igualmente a garantia do controlo do espaço de informação da Bielorrússia até ao final desta década e a introdução de um procedimento simplificado para a emissão de passaportes russos a cidadãos bielorrussos "a fim de criar uma camada de russos interessados na integração e círculos empresariais centrados no mercado russo".
As orientações do documento tornariam também a educação "num instrumento" da Rússia na Bielorrússia, uma vez que teria como objetivo abrir pontos de exame de Estado Unificado para a entrada na universidade até 2030.
"Além disso, o Kremlin planeia abrir novos centros de ciência e cultura em Mogilev, Grodno e Vitebsk", acrescenta o The Dossier Center.
A Rússia e a Bielorrússia assinaram um tratado no final dos anos 1990 para criar uma União de Estado sobre integração política e económica, mas foi apenas em 2019 que as duas partes acordaram em 28 programas que foram assinados pelos presidentes russo e bielorrusso, Vladimir Putin e Alexander Lukashenko, em novembro de 2021.
A maioria dos programas diz respeito a questões económicas, tais como a harmonização da legislação aduaneira, fiscal, laboral e de pensões, a integração dos sistemas monetários, a criação de mercados únicos de energia e políticas comuns nos setores industrial e agrícola.
Lukashenko, confrontado com os receios de alguns bielorrussos de perderem a soberania, salientou em várias ocasiões que isto não acontecerá e que a Bielorrússia não será absorvida pela Rússia.
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