O ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde disse hoje que a retirada dos estudantes cabo-verdianos da China, por causa do novo coronavírus, não se coloca no momento, depois de um responsável de saúde ter avançado essa possibilidade, com apoio de Portugal.
"Com respeito à ideia de uma eventual evacuação, importa esclarecer que tal medida contraria frontalmente as diretrizes das autoridades da República Popular da China e da Organização Mundial de Saúde, visando conter a disseminação do vírus, e encerra elementos de complexidade e riscos a que o Governo de Cabo Verde entende não dever expor aos seus cidadãos", disse Luís Filipe Tavares.
O chefe da diplomacia cabo-verdiana falava em conferência de imprensa, na cidade da Praia, menos de um dia após o diretor do Serviço de Vigilância e Resposta às Epidemias de Cabo Verde, Domingos Teixeira, ter avançado que o país pretendia contar com apoio de Portugal para retirar os seus estudantes de Wuhan, epicentro do surto de coronavírus na China.
"Temos 13 estudantes na província de Wuhan, estamos a acompanhar a situação e há hipótese de esses estudantes voltarem para Cabo Verde, conforme a situação evoluir. Mas nós já estamos a equacionar isso. Já estamos a criar planos para organizar o regresso deles, já temos informações que a sair, sairão junto com os portugueses", afirmou Domingos Teixeira.
Na segunda-feira, o Governo português manifestou a intenção de retirar por via aérea os cerca de 20 portugueses retidos em Wuhan, referindo que iniciou "de imediato todos os passos" para isso.
Entretanto, Luís Filipe Tavares garantiu que é uma medida que não se coloca neste momento e que não há autorização da China nem da OMS para nenhum país retirar os seus cidadãos.
"Nós estamos em contacto com vários parceiros nossos, países amigos de Cabo Verde, que tem uma parceria especial com a União Europeia. Tenho que trabalhar com todos os países da União Europeia, na eventualidade de alguma parceria para algo em concreto. Mas neste momento a questão da evacuação não se coloca, vamos analisando", enfatizou o governante.
Dizendo que a restrição serve para evitar o risco de contaminação durante a viagem, o ministro avançou que Cabo Verde vai avaliando a situação "hora a hora" e que todos os cenários estão em cima da mesa.
"Ajustaremos as nossas decisões à avaliação que fizermos, em concertação com as autoridades sanitárias chinesas competentes e com a própria Organização Mundial de Saúde. Nós temos que estar em sintonia com essas duas organizações, mas também com os países parceiros, para podermos avaliar a todo o momento quais são as medidas mais adequadas", prosseguiu Tavares.
Relativamente aos 350 estudantes cabo-verdianos na China, dos quais 13 neste momento em Wuhan - onde surgiu a doença -, Luís Filipe Tavares disse que estão todos bem de saúde e tranquilos e exortou-os a continuar a "cumprir escrupulosamente" as orientações das autoridades sanitárias chinesas.
"Não há motivo de pânico, nem para as famílias, nem para os estudantes", afirmou o ministro, referindo que tem falado com vários estudantes e que o Governo vai continuar a acompanhar a situação.
Na terça-feira, Cabo Verde anunciou a criação de uma equipa técnica de intervenção rápida, que realizou a sua primeira reunião, na cidade da Praia, para coordenar a implementação de medidas internas de prevenção, deteção precoce de casos suspeitos de coronavírus.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades também criou uma equipa operacional que vai prosseguir a articulação com a Embaixada em Pequim, com os estudantes e os familiares e com as autoridades sanitárias chinesas.
Relativamente aos chineses residentes em Cabo Verde e à questão da mobilidade de pessoas entre os dois país, Luís Filipe Tavares garantiu que autoridades sanitárias cabo-verdianas estão a tomar todas as medidas de prevenção necessárias.
Luís Filipe Tavares deu a conferência de imprensa acompanhado pelos ministros da Saúde, Arlindo do Rosário, e da Educação, Família e Inclusão Social, Maritza Rosaball, e de vários técnicos do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Comunidades.
A China elevou para 132 mortos e mais de 5.900 infetados o balanço de vítimas do novo coronavírus detetado no final do ano em Wuhan, capital da província de Hubei (centro).
Vários países já começaram o repatriamento de cidadãos de Wuhan, região com 56 milhões de pessoas que foi colocada sob quarentena na semana passada, com saídas e entradas interditadas pelas autoridades durante um período indefinido, e diversas companhias suspenderam as ligações aéreas com a China.
A União Europeia (UE) envia hoje o primeiro de dois aviões à região chinesa de Wuhan para repatriar 250 franceses e outros 100 cidadãos europeus que o solicitem, "independentemente da nacionalidade". O Governo português já anunciou que quer retirar por via aérea os portugueses retidos em Wuhan.
NAOM
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