Por Notícias ao Minuto 09/02/22
Organizações civis dizem-se abandonadas perante "clima de terror"
O presidente da rede da Defesa dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau, Fodé Mané, considerou hoje que a Guiné-Bissau vive "num clima de terror" e que as organizações de defesa dos direitos humanos se sentem abandonados pela comunidade internacional.
"Estamos perante um Estado, que para além de não estar em condições de garantir segurança às pessoas, ainda permite que os seus meios e os seus agentes sejam utilizados para criar um clima de terror e de medo. há uma sensação de insegurança, de terrorismo, em que todo o mundo está vulnerável e indefeso neste momento", observou Fodé Mané, em declarações à Lusa.
O jurista falava à margem de uma visita que um grupo de organizações da sociedade civil guineense realizou hoje à jornalista Maimuna Bari, gravemente ferida e internada no Hospital Militar de Bissau, na sequência do ataque à rádio Capital FM, na segunda-feira, por homens armados.
"A comunidade internacional deve reagir rapidamente e de forma clara perante as violações, as ameaças, as detenções ilegais que têm ocorrido na Guiné-Bissau. Estamos a falar de sindicalistas, jornalistas e pessoas que trabalham em questões ligadas aos Direitos Humanos", afirmou Fodé Mané.
Para o presidente da rede de organizações que trabalham na proteção dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau, o que aconteceu com a jornalista Maimuna Bari e com o analista político na rádio Capital FM, o politólogo Rui Landim, cuja residência terá sido atacada na noite de terça-feira, por homens armados, "mostra a vulnerabilidade em que se encontra a sociedade guineense".
Através de um áudio em circulação nas redes sociais, Rui Landim denunciou que a sua residência foi atacada a tiro com armas de fogo e uma granada foi lançada para a parte externa do quarto das crianças.
Familiares do também comentador político na rádio Capital FM Luís Vaz Martins indicaram à Lusa que aquele foi aconselhado a esconder-se com receio de ataques contra si.
Um outro comentador político e jurídico, o também advogado e docente universitário Marcelino Ntupé, que colabora com a rádio Bombolom FM de Bissau, denunciou hoje que tem os movimentos vigiados "por pessoas ligadas ao Estado".
Fodé Mané criticou ainda a postura da comunidade internacional por estar a ter "dois pesos e duas medidas" em relação aos guineenses e deu como exemplo a onda de solidariedade demonstrada com as autoridades na sequência dos ataques à sede do Governo.
"O que aconteceu no dia 01 de fevereiro é muito grave, mas a solidariedade que foi prestada ao Governo, ao poder político, não corresponde minimamente com a atenção que está a ser dada às questões de violação dos Direitos Humanos", notou Fodé Mané.
"Mas parece-nos que os parceiros internacionais não estão a colocar a questão dos Direitos Humanos nas suas relações com as autoridades da Guiné-Bissau", considerou.
No dia 01 de fevereiro, homens armados atacaram o Palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam, e de que resultaram oito mortos.
O Presidente considerou tratar-se de uma tentativa de golpe de Estado que poderá também estar ligada a "gente relacionada com o tráfico de droga".
O porta-voz do Governo adiantou no sábado, em conferência de imprensa, que o ataque foi feito por militares, paramilitares e que estarão envolvidos elementos dos rebeldes de Casamança, bem como "personalidades".
O Estado-Maior General das Forças Armadas guineense iniciou, entretanto, uma operação para recolha de mais indícios sobre o ataque, que foi condenado pela comunidade internacional.
Na sequência dos acontecimentos, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) anunciou o envio de uma força de apoio à estabilização do país.
A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo, com cerca de dois terços dos 1,8 milhões de habitantes a viverem com menos de um dólar por dia, segundo a ONU.
Desde a declaração unilateral da sua independência de Portugal, em 1973, sofreu quatro golpes de Estado e várias outras tentativas que afetaram o desenvolvimento do país
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