O diretor-geral da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Júlio Malam Indjai, disse que a Guiné-Bissau dispõe, apenas, de 79 tratores agrícolas recenseados e deste número, 55 são do Estado e os restantes 24 foram adquiridos por projetos, mas que são insuficientes, ou seja, não podem resolver os problemas de um país “potencialmente agrícola”.
“O Estado deve trabalhar seriamente na mobilização de recursos para a aquisição de tratores e outras máquinas agrícolas para podermos revolucionar a agricultura nacional”, indicou em entrevista a O Democrata para falar da produção agrícola e das expetativas, bem como dos investimentos necessários para revolucionar o setor, à semelhança do Senegal, que investiu muito na agricultura, um investimento que o permitiu elevar a produção de arroz de 300 mil para um milhão e quinhentas mil toneladas.
GUINÉ-BISSAU DEVE INVESTIR E APOSTAR NA DIVERSIFICAÇÃO DE PRODUTOS À EXPORTAR
Júlio Malam Indjai revelou que conceberam um plano de trabalho que ressalta um grande investimento no setor agrícola. O plano foi submetido ao governo, recomendando a aquisição de, no mínimo, 300 tratores agrícolas. Júlio Malam Indjai frisou que o documento está em análise, sublinhando que o governo pode executar esse plano através de apoios de parceiros.
“Aquando da sua visita ao país do ministro senegalês da agricultura, em janeiro último, informou-nos que o Senegal tem dois mil tratores agrícolas, por isso saiu de 300 mil toneladas para um milhão e quinhentas mil toneladas de arroz. Acredito e defendo que nós também podemos e devemos caminhar por essa via de revolucionar a nossa agricultura. Pelas informações que temos, o atual presidente da Guiné-Conacri mandou o ministério da agricultura colocar no porto de Conacri dois mil tratores. Atualmente, todo o mundo está virado para agricultura, porque o petróleo não ajuda e às vezes o preço oscila, enquanto na agricultura podemos constituir uma economia limpa, razoável e estável”, disse.
Assegurou que se a Guiné-Bissau tivesse apostado na diversificação de produtos para exportação que pudessem serconjugados com a castanha de cajú, ou seja, se o país tivesse cinco produtos agrícolas para exportar juntamente com a castanha de cajú, certamente estaria estável em termos económicos.
“Apenas com a castanha de cajú nota-se um certo nível de desenvolvimentos nas tabancas. Vê-se numa tabanca pessoas com painéis solares, frigoríficos. Nos anos 70, a maior parte das casas tinham telhados das casas feitos de palha, mas hoje temos nas tabancas quase todas com telhados feitos em chapas de zinco, graças à comercialização da castanha de cajú. Se fizéssemos como a Costa de Marfim que apostou na agricultura e tem uma diversidade de produtos para exportação, seria uma mais valia para a nossa economia. A Costa de Marfim é o maior produtor da castanha de cajú na África, com 800 mil toneladas, ou melhor, ultrapassa-nos em larga escala, mas também exporta cacau que é a sua tradição, café e algodão, banana e manga”, contou.
Enfatizou que, neste momento, o governo está a desenvolver um projeto de transformação local da manga da Guiné-Bissau com apoio da Organização das Nações para o Desenvolvimento Industrial e que está a ser executado em colaboração com a direção-geral da Indústria.
“É muita pena aquilo que se vê no período das mangas. Vê-se por todo o lado do país, toneladas e toneladas de mangas a estragarem-se, é muita pena! Temos que criar as condições para a conservação e transformação dos nossos produtos agrícolas”, defendeu.
Questionado sobre os trabalhos das delegacias regionais, explicou que as direções regionais da agricultura trabalham lado a lado com os agricultores. Frisou que a falta dos meios técnicos e financeiros não permite os técnicos desenvolverem as suas atividades.
“O bolo orçamental colocado à disposição do ministério da agricultura pelo Orçamento Geral do Estado é insignificante e não pode ajudar na instalação de ditos “intencionistas” que outrora tínhamos, graças a grandes projetos que desenvolvíamos no leste, norte e sul do país. Aquilo fracassou porque a partir de uma determinada altura e ainda agora não temos capacidade para retermos permanentemente as pessoas no terreno . Como exemplo, não podemos ter alguém em Cacine sem que lhe disponibilizemos sequer uma bicicleta ou um salário que o permita fixar-se em Cacine. Enquanto não tivermos um orçamento ideal, nós não podemos ter estruturas largas e funcionais”, esclareceu.
Lembrou que, neste momento, o ministério está a implementar um projeto de reestruturação da fileira do arroz na sequência do qual, conseguiu criar três estruturas de produtores de arroz a nível nacional, setorial e até nas secções. Sublinhou que foram criadas também associações de transformadores de arroz e de comerciantes de arroz.
“Queremos desenvolver fileira do arroz para permitir o aumento da produção, porque quando o lavrador produz e consegue vender, vai aumentar a área da produção para produzir e vender mais. É nessa base que, em colaboração com a UEMOA, conseguimos um projeto e estamos agora a constituir uma rede cujo objetivo é juntar estas três estruturas para trabalharem colaborativamente”, notou.
Relativamente à produção hortícola, explicou que o ministério já está a implementar projetos pilotos ou campos modelos de produção hortícola, em que os campos são vedados com blocos e arames a fim de dar-lhes maior consistência.
Por: Assana Sambú
Foto: A.S
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