quarta-feira, 23 de setembro de 2020

“Houve erros e falta da experiência governativa por parte do partido libertador”, diz Pedro Ussumane Bari

Bissau, 23 Set 20 (ANG) - Pedro Ussumane Bari, uma testemunha do primeiro tiro  que assinalou o início da luta armada de libertação nacional, em Tite diz que o problema que o país está a enfrentar se deve aos erros cometidos após a independência, por falta da experiência de governação do partido libertador.

Este veterano, em declarações à ANG, Jornal Nô Pintcha e RDN no quadro da celebração dos 47 anos da independência do país, que se assinala no dia 24 de Setembro, afirmou que no período em que o Luís Cabral era Presidente da República havia muitas fábricas que empregavam muitos jovens, e que o golpe de Estado de 14 de novembro interrompeu tudo.

Pedro Bari disse ainda que os guineenses têm que unir para desenvolver o país, justificando que sem a união a Guiné-Bissau não vai dar passo nenhum.

“Devemos unir e abraçar uns aos outros porque sem a unidade não vamos à lugar nenhum. Independentemente de gostar de uma pessoa ou não, se dissermos que iremos lembrar tudo o que passou nesse país não haverá a união porque há pessoas que foram maltratadas durante os 47 anos da independência”, sustentou.

Disse que a reconciliação nacional de que se fala neste momento deve ser de verdade e não de pecado, tendo pedido à Deus para que dê orientações  aos governantes a fim de terem boas visões para o desenvolvimento do país.

Por sua vez, Indjai Camará, ex-esposa do  ex-dirigente do PAIGC, Iafai Camará contou que entrou na luta com 10 anos de idade após o primeiro tiro, em Tite, na barraca de Gã-Tonghó .

“Quando foi dado o primeiro tiro no quartel de Tite, os nossos guerrilheiros retiraram e foram para Gã-Tonghó e quando os tropas portugueses souberam que estávamos naquela localidade foram nos atacar, saímos dali  e fomos para o mato de Gã-Jabel e aí  decidimos sair para Madina. Como eu era inteligente, Guerra Mendes me levou para Forea, mas quando ele morreu, voltei para para Quinará.

Indjai Camará contou que os aviões dos colonialistas portugueses bombordeavam  Quinará de manhã e à noite. Disse que os guerrilheiros enfrentaram  muitos sacrifícios e fome.

“Passamos muitos sacrifícios, as vezes para comer temos que receber comidas que a população nos ofereciam e era arriscado para a população porque não podia ser vista pelos colonialistas. Comíamos no cesto, para pilar o arroz temos que fazer buracos no chão bem profundo para não fazer tanto barulho e fazíamos todo o jeito para  que os fumos não fossem vistos”, explicou.

Indjai disse lamentar o fato de alguns combatentes estarem  a beneficiar de certos privilégios e outros não.

Bidan Matcha, outro  combatente da liberdade da pátria disse que, o que mais lhe marcou foi a forma como foram mobilizados com a estratégia de que as armas dos portugueses não matavam porque nelas só saiam água e que a dos nacionais é que matam porque tinham balas de verdade.

Reiterou  que passaram fome durante o período da luta e que tiveram que, uma vez, a situação obrigou a ele e um grupo de guerrilheiros  irem trabalhar na colheita de arroz na Guiné-Conacri e como pagamento receberam arroz.

A guerra da Independência da Guiné  e Cabo Verde começou em 23 de janeiro de 1963, com o início das ações de guerrilha em Tite, Sul, e culminou com a proclamação unilateral da independência, em 24 de setembro de 1973, nas Colinas de Boé, Leste da Guiné-Bissau.

 Portugal só veria a  reconhecer a Guiné-Bissau como país independente um ano depois, ou seja a 10 de setembro de 1974. 

ANG/DMG/ÂC//SG

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