Por sicnoticias.pt 07/07/23
Germano Almeida, comentador da SIC, faz uma análise aos últimos desenvolvimentos da guerra na Ucrânia, nomeadamente a promessa dos EUA à Ucrânia de envio de bombas de fragmentação, o encontro inédito entre Zelensky e Erdogan, a renegociação do acordo de cereais e o regresso de Prigozhin à Rússia.
Os EUA vão fornecer bombas de fragmentação à Ucrânia num novo pacote de ajuda militar que deverá ser anunciado hoje pelo Pentágono, no mesmo dia em que Zelensky se reúne com o Presidente da Turquia pela primeira vez desde o início da guerra. A Rússia ameaça mais uma vez bloquear o acordo de cereais e as palavras contraditórias de Putin e Lukashenko na análise do comentador da SIC Germano Almeida.
A Ucrânia já tem bombas de fragmentação e já as usou a nesta guerra. “A novidade é que a elas sejam dadas pelos Estados Unidos, o que vai aumentar bastante a capacidade ucraniana”.
“Não é uma decisão fácil [para os EUA] mas é um exemplo de como a Ucrânia precisa mesmo de um outro tipo de dimensão para compensar a ainda muito grande superioridade russa de meios”.
As bombas de fragmentação - as cluster - são proibidas em mais de 120 países, incluindo vários aliados da NATO, como Reino Unido, França, Alemanha, que assinam o Tratado Internacional de Proibição de Bombas de Fragmentação, tratado esse que não é assinado pelos Estados Unidos, Rússia e Ucrânia.
“As bombas de fragmentação aumentam a capacidade de munição da Ucrânia, mas tem vários perigos, nomeadamente deixam um rasto numa área muito grande e, portanto, usadas junto de perto populações civis, como é, infelizmente, o caso da guerra da Ucrânia tem consequências”.
Por seu lado, a Rússia está a receber mais drones do Irão, fundamentais para os ataques russos.
"O fornecimento de drones Shahed é fundamental [para a Rússia]. A onda de bombardeamentos da Rússia sobre cidades ucranianas começou nos últimos meses. Uma parte são mísseis de cruzeiro russos, como foi o caso ontem [do ataque] em Lviv que foram [mísseis] Kalibr, mas uma boa parte, 40 e 50%, do que é usado são os drones Shahed".
Zelensky reúne-se com o Presidente da Turquia
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reúne-se hoje com o homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, em Istambul. Esta é a primeira visita de Zelensky à Turquia desde o início da guerra com a Rússia. A exportação dos cereais ucranianos no Mar Negro deverá ser o tema central do encontro entre os dois líderes.
“É muito importante que se Zelensky esteja na Turquia pela primeira vez desde o início da guerra. A Turquia tem tentado ter aqui um papel de mediação, mas em alguns aspetos continua um pouco mais próxima da Rússia do que da Ucrânia, mas é um país da NATO e, portanto, nesse sentido está no grande bloco que está a apoiar a Ucrânia, Erdogan tem sabido de forma inteligente usar isso”.
O acordo dos cereais foi mediado pela Turquia e pelas Nações Unidas e permite aos navios carregados de cereais sair dos portos da Ucrânia. No entanto, este entendimento termina no dia 17 de julho. A Rússia tem dito que não vê razões para o prolongar, mas Zelensky espera que Erdogan possa ajudar a desbloquear este impasse com Moscovo.
“Parece-me que vai ser também importante a possibilidade de a Turquia, mais uma vez - e já é a terceira ou quarta vez que o acordo cereais vai ser renovado e que a Rússia ameaça não o fazer - à última desbloquear a decisão”.
Prigozhin terá voltado à Rússia
O líder do grupo Wagner Prigozhin estará em São Petersburgo, segundo o Presidente da Bielorrússia.
“É um teatro de enganos que começa desde 24 de junho. Mostra que a palavra de Putin, de Lukashenko, de Prigozhin, vale muito pouco, porque dizem uma coisa, fazem supostamente um determinado acordo e depois é para não cumprir”.
Para Germano Almeida, “Putin está a mostrar é que manteve força suficiente para não cumprir a tal promessa revelada ao mundo nesse dia como solução de dar a Prigozhin a possibilidade de ir para a Bielorrússia e isso, supostamente não se confirma”.
O Presidente bielorrusso também se contradisse quando disse que Prigozhin e os mercenários eram bem vindos à Bielorrússia.
"Putin até se auto-incriminou porque tinha dito que o Estado russo estava a financiar com 2 milhares de milhões por ano o Grupo Wagner, sendo que a lei russa impede que o Estado financie diretamente grupos mercenários. Estamos aqui num teatro de enganos".
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