© Abed Rahim Khatib/picture alliance via Getty Images
POR LUSA 20/11/23
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, rejeitou hoje que Gaza se torne "protetorado da ONU" depois da guerra, defendendo em alternativa uma "transição" envolvendo múltiplos atores, nomeadamente os Estados Unidos e os países árabes.
"É importante poder transformar esta tragédia em oportunidade e, para que isso seja possível, é essencial que depois da guerra avancemos de forma decisiva e irreversível em direção a uma solução de dois Estados", disse António Guterres à imprensa na sede da ONU.
Isto requer que "a responsabilidade por Gaza seja assumida por uma Autoridade Palestiniana fortalecida", mas esta "não pode ir para Gaza com os tanques israelitas", pelo que "a comunidade internacional deve considerar um período de transição", adiantou.
"Não creio que um protetorado da ONU em Gaza seja uma solução. Penso que precisamos de uma abordagem multilateral, onde diferentes países, diferentes entidades, irão cooperar", disse Guterres.
Guterres mencionou entre estes atores os Estados Unidos, "fiadores" da segurança de Israel, e os países árabes da região, "essenciais" para os palestinianos.
"Todos devem unir-se para criar as condições para uma transição", afirmou.
Guterres também denunciou, mais uma vez, "violações do direito humanitário internacional e violações da proteção de civis em Gaza".
O secretário-geral frisou que o assassínio de crianças na Faixa de Gaza na guerra entre Israel e o Hamas "não tem precedentes" em nenhum outro conflito desde que assumiu a liderança das Nações Unidas.
Guterres respondia a uma pergunta da imprensa sobre se os ataques de fim de semana a duas escolas da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA) constituem crimes de guerra.
O ex-primeiro-ministro português disse que não é da sua responsabilidade fazer esse tipo de avaliação, mas que, olhando apenas para o número de menores mortos durante as hostilidades, as crianças em Gaza morrem a um ritmo superior a qualquer outro conflito.
Guterres apontou para os relatórios da ONU sobre crianças mortas em conflitos ao longo de um ano, que teve de apresentar em diversas ocasiões, e disse que, até agora, o número mais elevado correspondia ao Afeganistão, onde mais de 900 crianças morreram em 2018.
"Sem entrar em discussões sobre a precisão dos números publicados pelas autoridades 'de facto' em Gaza, o que fica claro é que em poucas semanas tivemos milhares de crianças" mortas, disse o secretário-geral.
O grupo islamita do Hamas lançou em 07 de outubro um ataque surpresa contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, fazendo duas centenas de reféns.
Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela UE e Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
O conflito já provocou milhares de mortos e feridos, entre militares e civis, nos dois territórios.
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