quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Hoje, tristemente, vemos os profissionais de saúde a deixarem-se manipular por interesses políticos, sem se aperceberem que estão a expor-se a riscos elevados ...Jorge Herbert

Por Jorge Herbert

MANIPULADORES E VÍTIMAS.

Na Guiné-Bissau, os manipulados no passado eram os militares, em benefício dos interesses políticos, até se aperceberem que se tornaram vítimas de sanções que lhes coloca numa posição de fragilidade, enquanto esses mesmos políticos continuam impunes.

Hoje, tristemente, vemos os profissionais de saúde a deixarem-se manipular por interesses políticos, sem se aperceberem que estão a expor-se a riscos elevados.

Mais triste é apercebermo-nos que em todas essas manipulações, quer dos militares, quer da classe médica, sempre há vidas de civis inocentes a lamentar, demonstrando a ausência total do respeito pela vida dos guineenses, por parte dos manipuladores... Eu já tinha avisado que, pelo poder e pela proximidade do erário público, são capazes de tudo, até de matar aos próprios irmãos.

Jorge Herbert

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O ASSASSINATO DE HIPÓCRATES, PELA FÓRMULA DE BOÉ.

Por Jorge Herbert

O juramento de Hipócrates não possui qualquer vínculo legal, mas tem uma enorme carga simbólica e constitui um importante pilar ético e deontológico para quem inicia a sua atividade profissional nessa ainda nobre área, que é a Medicina. É no fundo um juramento que o novo médico faz, de que exercerá a medicina de forma honesta, guardará respeito absoluto à vida humana e proteção da saúde dos seus doentes, para além de respeitar os seus mestres e não permitir que considerações de ordem religiosa, nacionalidade, raça, partido político ou posição social se interponham entre ele e o seu doente.

Estes dias assistimos na Guiné-Bissau, como pretensa reclamação da atualização da carreira dos profissionais de saúde, a actos que, a provar terem culminado em mortes de doentes, não só assassinaram de novo o pai da Medicina, como podem ser legalmente enquadrados em crimes de homicídio por omissão de cuidados ou abandono, o que envergonha os profissionais de saúde de todos os cantos do mundo, principalmente os guineenses que respeitam o seu Código Deontológico. Que haja processos judiciais por erro ou negligência médica, até se pode tolerar, mas existirem mortes por abandono/negação de cuidados médicos por parte de profissionais de saúde, é a primeira vez que vejo isso nos meus 27 anos de exercício profissional e lamento profundamente que isso tenha ocorrido na minha pátria-mãe e que alguns irmãos guineenses tenham sido vítimas dessa barbárie! 

Sempre fui defensor da classe médica guineense, pelo muito que conseguem fazer em condições difíceis, mas nego-me a utilizar a solidariedade de classe, para defendê-los neste caso concreto, porque o que aconteceu foi efetivamente grave e não honra a profissão! A Ordem dos Médicos, a Polícia Judiciária e o Ministério Público têm a obrigação de investigar e punir severamente os responsáveis por esses actos hediondos, caso tenham mesmo ocorrido!

O abandono dos doentes por parte dos profissionais de saúde é o último degrau da degradação da prática médica, daquele que um dia escolheu defender a vida e proteger a saúde dos seus doentes! Nenhuma ideologia política, nem direito a greve, deve interferir no livre exercício daquela que é a mais nobre das profissões, aquela que salva vidas, promove a saúde e quando não almejar isso, promove o conforto e o bem-estar físico e psíquico dos seus doentes. Quando um profissional de saúde foge ou abandona os doentes, mesmo em situações de catástrofe, não serve para cuidar de pessoas e deve procurar outra profissão, que lhe permite a livre execução prática da sua ideologia política.

O Código Deontológico da Ordem dos Médicos em Portugal é claro:

 Artigo 7.º

(Situação de urgência)

O médico deve, em qualquer lugar ou circunstância, prestar tratamento de urgência a pessoas que se encontrem em perigo imediato, independentemente da sua função específica ou da sua formação especializada.

  Artigo 8.º

(Greve de médicos)

1 - Os médicos são titulares do direito constitucional e legalmente regulamentado de fazer greve.

2 - O exercício de tal direito não pode, contudo, violar os princípios de Deontologia Médica, devendo os médicos assegurar os cuidados inadiáveis aos doentes.

3 - Devem ser sempre garantidos os serviços mínimos, que, caso não se obtenha outra definição, se entende como os disponibilizados aos domingos e feriados.

Os profissionais de saúde guineenses optaram por assassinar Hipócrates e praticar lealdade à fórmula de Boé! Isso vem provar que os carrascos do povo guineense não se importam em ceifar vidas aos guineenses, desde que isso lhes permita ter acesso ao poder e ao cofre do Estado. Só quem não for de boa índole é que não percebe onde mora a má fé e a falta de honradez na forma de fazer política. Antes o problema era o ditador Jomav, que afinal abandonou alegremente o poder, por ter sido o primeiro Presidente a entregar a faixa presidencial ao seu substituto, hoje são os autoproclamados, os golpistas, os tribalistas e agora a atualização da carreira médica!

Devo dizer-vos que, cá em Portugal, depois de terminar a minha primeira especialidade, tive de esperar 10 anos (cinco para além do definido por lei), para progredir na carreira médica, para grau de Consultor. Há 11 anos que o meu hospital incumpre uma cláusula do meu contrato, no que refere ao pagamento de um subsídio. Apesar disso, nunca fiz greve nem nunca faltei ao trabalho que não fosse em situação de doença e sempre fiz horas extraordinárias de acordo com a necessidade do meu serviço. Abandonar doentes, NUNCA!

Aos Ministros que participaram hoje na conferência de Imprensa, sobre este drama que assola a saúde dos guineenses, quero deixar aqui os meus parabéns pela lisura com que a fizeram e, incentivá-los a persistir no caminho que traçaram, porque as leis devem existir para balizar a atuação dos cidadãos nas várias áreas da vida e os interesses ou direitos de alguns não pode, de modo algum, colocar em risco a vida dos outros. Têm a minha total solidariedade e disponibilidade para ajudar, dentro das minhas limitações, a proteger a vida e a saúde dos guineenses.

Enquanto não se extirpar o cancro da sociedade guineense, que cresceu durante décadas e implantou as suas metástases em quase 90% dos organismos públicos, porque sempre confundiram o Partido com o Estado, dificilmente um outro governo conseguirá trabalhar tranquilamente para a melhoria da vida dos guineenses.  

Deixo aqui a versão do Juramento de Hipócrates que eu fiz quando me formei:

“No momento de ser admitido como Membro da Profissão Médica: 

Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade.

Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos.

Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.

A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação. 

Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado. 

Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica.

Os meus Colegas serão meus irmãos.

Não permitirei que considerações de religjão, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente.

Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos Médicos contra as leis da Humanidade.

Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra.“

Termino apelando aos profissionais de saúde em “boicote”, que repensem as suas posições e regressem ao vosso trabalho, para que mais doentes não sofram consequências desse acto.

Jorge Herbert

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