terça-feira, 27 de outubro de 2020

Guiné-Conacri: Diallo não aceita derrota e pede "mobilização nas ruas"


Autoridades divulgam 21 mortos em violência após as eleições que levam Alpha Condé ao terceiro mandato. Líder da oposição diz que não acredita em mediação internacional e exige "respeito pela verdade das urnas".

Governo divulgou dados oficiais sobre os confrontos no país após as eleições presidenciais. Líder oposicionista convoca população

A vaga de violência na sequência das eleições presidenciais de 18 e outubro na Guiné-Conacri já causou 21 mortos, conforme números oficiais divulgados no final da noite de segunda-feira (26.10). Além de civis manifestantes, integrantes das forças de segurança estão entre as vítimas.

As autoridades haviam relatado até segunda-feira cerca de 10 pessoas mortas enquanto a oposição, pelo menos 27.

Em conferência de imprensa, as autoridades também divulgaram que mais de 240 pessoas foram detidas em todo o país nos últimos oito dias. "Estes não são simples delitos que cometidos [aleatoriamente], mas casos comprovados de ações criminosas ardilosamente planeadas com antecedência para manchar a imagem das instituições do Estado", disse o Ministro da Justiça Mory Doumbouya.

O ambiente é tenso em Conacry. A Frente Nacional para a Defesa da Constituição (FNDC) convocou uma nova manifestação contra um terceiro mandato de Alpha Condé - candidato da Assembleia do Povo da Guiné (RPG), declarado vencedor das eleições – mas o apelo teve pouca ou quase nenhuma resposta. Muitos cidadãos dizem que temem pela sua segurança.

Enviados das Nações Unidas, da União Africana (UA) e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) chegaram no domingo a Conacri (25.10) e continuaram os seus esforços de mediação, cumprindo agendas com ministros, comissão eleitoral e corpo diplomático.

Nesta segunda-feira também encontraram-se com o líder da oposição, Cellou Dalein Diallo – da União das Forças Democráticas da Guiné (UFDG) - que se declarou vitorioso no dia seguinte à votação.

"Não espero muito destes emissários (...) que, na realidade, sempre estiveram do lado de Alpha Condé. Mas é importante aproveitar todas as oportunidades para comunicar a informação que realça a nossa vitória e para chamar a atenção para a repressão sangrenta que se abate sobre os guineenses," tweetou Diallo pouco depois da reunião.

"Vamos continuar a nossa mobilização nas ruas e praças públicas para exigir o respeito pela verdade das urnas. Não há volta a dar", acrescentou ele.

Diallo denunciou o "rapto" de dois dirigentes da UFDG, Fodé Oussou Fofana e Kalemodou Yansané.

A maioria das lojas permanece fechada ao longo da estrada Fidel Castro, que conduz do centro da cidade ao aeroporto, passando por distritos considerados pró-governamentais.

Mais a norte, nos grandes subúrbios dominados pela oposição, correspondentes das agências de notícia descrevem que há forte presença das forças de segurança. Ouviram-se tiros em bairros como Cosa e Sonfonia, sem que se soubesse se houve mortos ou feridos.

Condé faz comício após a votação na capital

Na área de Wanindara, um dos bastiões da oposição, ainda há marcas dos confrontos dos últimos dias: carcaças de dois camiões queimadas, pneus incendiados, pedras no chão e edifícios saqueados.

A relatos de que jovens apoiantes do RPG e da UFDG são protagonistas dos confrontos. Segundo a Amnistia Internacional, as forças de segurança usaram força excessiva durante a última semana, disparando munições letais contra os manifestantes. A ONG também condenou os cortes na Internet, cujo acesso ainda era muito difícil na segunda-feira, de acordo com os jornalistas da AFP.

De acordo com dados provisórios anunciados no sábado, Diallo obteve 33,5% dos votoscontra 59,5% de Condé. O líder da oposição confirmou na segunda-feira a sua intenção de recorrer contra estes resultados junto ao Tribunal Constitucional.

Com/DW

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