domingo, 23 de agosto de 2020

Angola: professores universitários de instituições privadas não são valorizados e a remuneração não é digna

Tiago Quissua, professor universitário e bibliotecário

VOA  Agosto 23, 2020  Danielle Stescki

A carreira académica tem um papel importante na formação das pessoas, proporcionando conhecimento, oportunidades e um emprego melhor, com um uma remuneração digna e prestígio. Mas ser professor universitário em uma instituição superior privada em Angola requer sacrifício, persistência e paciência.

Angola possui 90 instituições de ensino superior, sendo que 63 são instituições privadas. Os professores do setor privado são pagos em regime de prestação de serviços, o que significa que muitos estão desde dezembro sem receber qualquer salário. Em entrevista à Voz da América, Tiago Quissua Armando, bibliotecário, e professor na Faculdade de Ciências Humanas da UCAN, Universidade Católica de Angola, falou sobre a juventude e a carreira académica.

Ele disse que muitos jovens sonham em seguir a carreira académica, mas a difícil realidade angolana os impede. Segundo Quissua, o professor não é valorizado e a remuneração não é digna. Por isso, muitos jovens talentosos são absorvidos em outras atividades que não são académicas porque oferecem melhores condições. Por exemplo, um professor que ganha 3.500 kwanzas por tempo, irá receber 56 mil por mês, o equivalente a 95 dólares.

"É muito difícil ser professor. Vale a pena para os professores do funcionalismo público. Mas no setor privado é muito difícil".

Como a principal fonte de receita das universidades privadas é a propina dos estudantes, a situação é preocupante e desesperadora. No entanto, algumas instituições, como a Universidade Católica de Angola, conseguiram pagar os salários dos professores e dos funcionários administrativos até o mês de julho.

"O Estado tinha que criar políticas para conceder empréstimos às universidades privadas, com uma taxa de juros baixa, uma moratória um pouco mais ampla".

Em Angola, há 350 mil estudantes e mais de 11 mil docentes. Quissua, que está numa situação um pouco melhor porque também é bibliotecário, não pretende abandonar a carreira académica. Além disso, ele espera que os jovens continuem a seguir na carreira, mesmo sabendo das dificuldades que a profissão enfrenta.

O professor deixou uma mensagem para os jovens e as instituições de ensino superior. Para os jovens, ele pediu que abracem com serenidade a carreira académica, que façam uma pós-graduação e que se interessem por uma área de pesquisa.

Já para as instituições superiores, ele pediu para que criem condições de pesquisa," porque a pesquisa é que vai dar a resposta para os problemas da sociedade. E dando a resposta estaríamos a desenvolver o nosso país."

Quissua concluiu pedindo que os professores recebam uma remuneração digna a fim de que possam permanecer nas instituições, desenvolver projetos de pesquisa e ensinar.

Sem comentários:

Enviar um comentário