© Getty ImagesPOR LUSA 16/03/23
A polícia senegalesa e apoiantes do principal líder da oposição no país, Ousmane Sonko, envolveram-se em confrontos hoje em Dacar, quando se inicia um julgamento contra o político e candidato presidencial por alegada difamação de um ministro.
Os confrontos começaram de manhã depois de Sonko sair de sua casa para um tribunal em Dacar, junto ao qual a polícia o forçou a sair do veículo em que seguia e dispararam gás lacrimogéneo.
Em declarações divulgadas pela imprensa senegalesa, Ousseynou Fall, um dos advogados do líder da oposição, declarou que "Sonko foi literalmente espancado pelas forças da lei e da ordem", que o forçaram a entrar num veículo da Brigada de Intervenção Rápida.
A equipa de comunicação de Sonko transmitiu imagens ao vivo do comboio rodoviário em que seguia a caminho do tribunal, quando foi parado e retirado à força do seu veículo, ao mesmo tempo que os seus apoiantes tentavam intervir e foram contrariados com a detonação de gás lacrimogéneo.
A caminho do tribunal, Sonko disse à imprensa local que não iria seguir a rota indicada pelas forças da ordem porque o percurso o obrigava a passar por zonas onde estavam "milícias de Macky Sall [Presidente do país] armadas até aos dentes".
Vários bairros da capital foram palco de distúrbios, nomeadamente apedrejamentos das forças de segurança, que ripostou com gás lacrimogéneo.
Dois autocarros e um supermercado pertencentes à empresa francesa Auchan foram incendiados, lembrando as manifestações violentas ocorridas em março de 2021, que resultaram em 13 pessoas mortas, dessa vez quando Sonko foi conduzido sob detenção a um tribunal para uma audiência sobre um alegado caso de violação.
A oposição senegalesa está mobilizada desde terça-feira. Sonko participou um comício num bairro popular de Dacar, e convidou centenas de apoiantes presentes a comparecerem no tribunal.
Na quarta-feira foram planeadas manifestações em todo o país para exigir o fim da instrumentalização da justiça, o desmantelamento das milícias que operam ao lado das forças da ordem e o fim das detenções arbitrárias. No mesmo dia, a casa de Sonko foi novamente sitiada pela polícia.
A tensão política está a aumentar no Senegal devido às acusações que impendem sobre Sonko, alvo de um processo por alegada violação de uma jovem massagista, Adji Sarr, em 2021, e por difamação, num processo interposto pelo ministro do Turismo do Senegal, Mame Mbaye Niang, acusado por Sonko em novembro último do desvio de 29 mil milhões de francos cfa (cerca de 44 milhões de euros).
Para o aumento da tensão política tem contribuído ainda o facto de Macky Sall, Presidente desde 2012 e reeleito para o cargo em 2019, não ter ainda deixado claro que não se candidatará em fevereiro de 2024 a um terceiro mandato, que a Constituição do país impede.
Sonko anunciou a sua candidatura às eleições presidenciais em agosto de 2022, na sequência do sucesso da oposição nas eleições locais e legislativas de janeiro e julho do ano passado.
O líder da oposição tem acusado o sistema de justiça de estar a ser "instrumentalizado" pelo círculo de "poder de Macky Sall", com o objetivo de impedi-lo de se candidatar.
O líder da oposição tem ganho espaço político através de um discurso "anti-sistema", crítico da má governação, corrupção e do neocolonialismo francês, particularmente bem acolhido pela juventude senegalesa.
Sonko ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais de 2019, nas quais Sall foi eleito para um segundo mandato, mas é o principal líder da oposição depois do segundo candidato, Idrissa Seck, se ter aliado à maioria no poder.