O diretor do serviço do Gabinete da Divisão da Política Educativa do Instituto Nacional para o Desenvolvimento da Educação (INDE), Professor Garcia Bifa Bideta, disse que é chegado o momento de o governo parar com a pintura e tomar a decisão de anular o presente ano letivo (2018/2019) parcialmente, com base em um levantamento sobre os conteúdos ministrados nas escolas que aderiram às greves e as que não aderiram, referindo-se às escolas com regime de auto-gestão e privadas que devem ser autorizados a emitir certificados.
O especialista em matéria da educação concedeu uma entrevista ao semanário O Democrata na qual abordou a possibilidade de prosseguir ou não com o presente ano letivo, tendo em conta a onda de greves que impediram o funcionamento normal das aulas nas escolas públicas. E ameaça de nova paralisação pelos três organizações sindicais durante seis dias, no próximo mês de maio, mereceram igualmente uma análise do professor Garcia Bifa Bideta que, à semelhança de outros especialistas em matéria da Educação, defendem a anulação do presente ano, porque não tem nada de aproveitamento para os alunos.
“PERDEMOS MAIS DE QUATRO MESES E SE HOUVER NOVA GREVE, É IMPOSSIVEL VALIDAR ESTE ANO”
O Professor universitário, Garcia Bifa, disse durante a entrevista que o governo deve ter a coragem de tomar medidas e de anular o ano letivo, com estratégias bem definidas e preparando melhor o próximo ano escolar 2019/2020.
“Perdemos quatro meses e duas semanas de aulas e se os professores voltarem a paralisar o setor, o país não estará em condições de validar este ano letivo 2018/2019, porque ano escolar valida-se pelo aproveitamento e cumprimento dos programas e dias letivos. Portanto, as pessoas podem acreditar que aquilo que temos vindo a dizer ao longo do tempo é uma realidade, não porque queremos que os alunos não fiquem retidos, mas porque estamos a dar a nossa opinião enquanto cidadãos, técnicos e especialistas na matéria”, lamentou.
Questionado sobre se, mesmo com um prolongamento do ano letivo até finais de julho ou agosto se resolveria a questão, Garcia Bifa Bideta assegurou que o governo não estava a contar com o fator clima e esqueceu-se também que não tem boas infraestruturas escolares que possam proteger as crianças quando chove. Assim as pessoas não devem continuar a pintar as coisas porque a sociedade está sensibilizada e sabe que é difícil estudar na época das chuvas.
Adiantou neste particular que o prolongamento do ano letivo só poderá ter efeitos se as aulas funcionarem até final do mês de julho e forem suspensas em agosto, para depois serem retomadas na segunda quinzena de setembro até finais de novembro, recuperando assim os dias letivos perdidos e perfazendo 7 ou 8 meses de aulas. Então aí poderemos dizer que prolongou-se o ano letivo.
“Somos técnicos da educação, sentimo-nos revoltados, mas também temos que cuidar para não trazer consequências para o país, porque quando o ano letivo é validado politicamente sem aproveitamento e os alunos transitam de um nível para outro, isso terá reflexos negativos nos alunos nos seus percursos acadêmicos, como também na administração do país, por serem os futuros governantes”, alertou.
Aquele técnico informou que as pessoas não devem generalizar essa questão, o fato de os anos letivos terem vindo a decorrer indesejavelmente, porque sempre avaliam.
Garcia Bifa Bideta lembrou que no ano letivo 2016/2017 fez-se um levantamento do cumprimento dos programas, onde se constatou que os mesmos conteúdos programáticos tinham sido cumpridos em uma média de 50 por cento e o ano foi validado. Portanto é preciso saber avaliar os meses perdidos em cada ano letivo, não generalizar pelo fato de em anos anteriores terem sido verificadas greves e logo o ano presente também poder ser validado, sem, no entanto, ver o que foi conseguido em termos dos programas e aproveitamento dos alunos nas matérias, para depois se validar o ano, para que validar não se torne uma tradição.
“Nós técnicos ligados à educação não devemos continuar a conformarmo-nos com as situações que não são boas. Temos que pronunciarmo-nos e falar, custe o que custar, porque este país não merece este ensino que está a ter nos últimos anos. Os técnicos ficam com medo de falar da matéria, para não ferir suscetibilidades. Devemos mostrar aquilo que deve ser feito a nível do sistema. É impossível já porque aprendemos com a experiência do passado em termos da seleção dos conteúdos. Portanto, não podemos continuar com a mesma estratégia. Na minha opinião a recuperação dos dias é estender o ano letivo até final de novembro sem greves. Se não prolongarmos até novembro, o ano letivo fica comprometido e o governo não terá como validar o ano escolar a não ser fazê-lo politicamente”, sublinhou.
Bifa Bideta explicou que validar ano letivo sem ver o que foi cumprido em termos de programas e aproveitamento dos alunos é perspetivar má qualidade de ensino.
Acrescentou que os alunos estão a sair no ensino básico e secundário nos últimos anos sem competências e com nenhuns conhecimentos, porque não estão a estudar bem nem a ter um bom aproveitamento, devido à falta do cumprimento dos dias letivos.
Por: Aguinaldo Ampa
Foto: A.A
OdemocrataGB
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