quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Dificuldades marcam recenseamento eleitoral no interior da Guiné-Bissau

Populações e agentes das brigadas do recenseamento eleitoral que decorre na Guiné-Bissau queixaram-se hoje à Lusa de "várias dificuldades" devido ao reduzido número de equipamentos de recolha de dados e falta de pagamento dos subsídios de alimentação.

É o caso de Bissorã, circunscrição político-administrativo no centro/norte da Guiné-Bissau, tem cerca de 60 mil habitantes, 1.200 quilómetros quadrados e 174 "tabancas" (aldeias), mas apenas conta com cinco brigadas do recenseamento.

O administrador Félix Landim, a mais alta autoridade política no local, disse hoje à Lusa que "é muito pouco" para registar o número de potenciais eleitores previstos.

A ministra da Administração do Território guineense, Ester Fernandes, disse que o recenseamento eleitoral termina no dia 20 deste mês - com as eleições legislativas agendadas para 18 de novembro -, mas o administrador e as autoridades eleitorais daquele setor garantiram à Lusa que "será muito difícil" registar os 35 mil potenciais eleitores previstos neste período.

O registo de eleitores em Bissorã, interior do país, começou no dia 29 de setembro e até esta quarta-feira foram inscritos cerca de 3.000 pessoas, garantem os 'brigadistas' contactados pela Lusa.

No recenseamento de 2014, foram registados cerca de 33 mil potenciais eleitores, mas em 75 dias e na época seca, lembraram à Lusa os responsáveis eleitorais em Bissorã, para salientar as dificuldades de fazer os camponeses aderirem ao processo durante a época das chuvas como é o caso.

A Lusa percorreu as brigadas do recenseamento instaladas em Bissorã, tendo constatado as críticas dos agentes que aí trabalham, que se queixam de, alegadamente, só hoje estarem a receber o subsídio de alimentação, perante as críticas da população à lentidão no processo.

Vários camponeses disseram à Lusa que têm a lavoura por fazer e que permaneceram durante toda manhã à espera de serem recenseados.

Os agentes do recenseamento nas localidades de Braga e Joaquim Ntop, em Bissorã e Djol (já no caminho de Bissau), explicaram à Lusa que por vezes as demoras decorrem da própria máquina que apresenta dificuldades na recolha de dados biométricos dos potenciais eleitores.

Se um eleitor tiver alguma deficiência visual não o reconhece. E se um eleitor for fazer fotografia no momento em que está com pouca luz natural, a câmara fotográfica recusa-se a regista-lo, contou à Lusa um agente do recenseamento numa das localidades.

O "truque" é usar o 'flash' do telemóvel para projetar luz na cara do potencial eleitor até que a máquina a reconheça, o que origina atrasos, acrescentou o agente do recenseamento, que não quis ser identificado por não ter autorização para falar.

Um outro motivo da demora prende-se com o facto de ser necessário esperar até que a máquina do registo reconheça as impressões digitais dos dedos de pessoas que tenham calos. No ato do registo, o potencial eleitor tem que deixar as impressões dos seus 10 dedos das mãos.

"A maioria da nossa população aqui no interior é camponesa e o trabalho que fazem nos campos da lavoura é manual, daí terem os dedos das mãos cheios de calos", disse à Lusa um agente do recenseamento.

Os equipamentos do registo eleitoral na Guiné-Bissau - computadores, câmaras fotográficas, máquinas de recolha de impressão digital, acumuladores de corrente elétrica e impressoras de cartões de eleitores - foram oferecidos pela Nigéria.

Em todas as localidades visitadas pela Lusa foi possível constatar enormes filas de populares à espera, a presença de delegados de partidos políticos e de agentes de segurança.
Lusa

Braima Darame

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