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África Ocidental: Do descontentamento das pessoas à falta de liderança na região
Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, José Brito, e o antigo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, almirante Zamora Induta, analisam a instabilidade na África Ocidental.
WASHINGTON — Crises políticas, económicas, sociais e militares na África Ocidental, com quatro golpes consumados, Mali, Guiné-Conacri, Burkina Faso e agora Níger, além de uma alegada tentativa de golpe na Guiné-Bissau em 2022, têm chamado a atenção do mundo para uma região que há até pouco tempo era a mais estável do continente.
Observadores políticos advertem para a instabilidade cada vez maior na subregião, com uma clara insatisfação da população dos diferentes países em relação aos governos que continuam a não dar resposta aos seus principais problemas, nomeadamente económicos, ao mesmo tempo que movimentos terroristas avançam sobre a região.
Analistas políticos também apontam para uma tomada de consciência da população, principalmente dos jovens, contra os "tentáculos" das antigas potências coloniais e parceiros ocidentais, ao mesmo tempo que as riquezas de África são cada vez mais cobiçadas, igualmente, pela Rússia e a China.
No programa Agenda Africana, da Voz da América, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde e um profundo conhecedor da região, José Brito, e o almirante Zamora Induta, antigo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau e especialista em segurança, foram unânimes em considerar que a falta de respostas e a má governação nos países da subregião, cujos governos não dão respostas aos problemas da sua população, estão na base da instabilidade na África Ocidental, que, ao que tudo indica, vai aumentar.
José Brito acrescenta ainda a "falta de segurança" com o avanço do terrorismo e, em consequência "as pessoas estão a sofrer".
Insegurança e incapacidade dos governos
Aquele antigo governante aponta também "um despertar da população contra as antigas potências" e lembra dos "grandes interesses económicos", como, por exemplo, da França que "compra produtos para produção de energia a preço abaixo do mercado".
O almirante Zamora Induta lembra de conversas com "os militares mais velhos" que lamentavam ter lutado pela independência e contribuído para a formação da nova geração, mas que "quando esses jovens regressam ao país, só porque formam ou aderem a um partido, levantam mansões à nossa frente".
"O ponto crucial é a incapacidade dos governos em dar reposta aos problemas da população", aponta aquele militar, que acrescenta "uma conjunta externa que influencia", não só esta região e a África, mas a todo o mundo.
O antigo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau reconhece que os golpes não são a melhor forma de resolver os problemas, mas questiona o posicionamento de se acusar os autores de golpes de violaram a Constituição e pergunta "se os outros também não violaram a Constituição", em referência aos governos que são alvo dos golpes.
"Níger é o reflexo do mundo da forma como a CEDEAO lidado com os golpes de Estado, sem analisar as suas causas", aponta o almirante Zamora Induta, quem alerta que se a organização não rever a forma como lida com estas situações, "vamos ter mais golpes na subregião".
CEDEAO sem liderança
"A CEDEAO deve arrepirar caminho e vai a tempo", conclui Induta quem lembra a tentativa de criar uma força de interposição que, depois, concluiu-se, não tem pernas para andar.
Por seu lado, o antigo chefe da diplomacia cabo-verdiana diz que uma intervenção militar no Níger pode ter consequências inimagináveis, "não sabemos onde iríamos parar".
José Brito lembra que, no passado, a CEDEAO desempenhou um papel importante na região, ao encontrar soluções a muitas crises e conflitos, mas agora "assim como a nível mundial, há falta de liderança" e a organização parece um "clube de pessoas".
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