General Abdourahmane Tiani (cen), líder do Conselho Nacional para Salvaguarda da Pátria Junta e autoproclamado Presidente no Niger, Niamey, 28 Julho 2023
Por VOA Português 05/08/23
O pedido terá sido feito durante uma visita de um membro da junta militar ao Mali, onde se encontra o grupo mercenário russo.
NIAMEY — A junta militar do Níger pediu ajuda ao grupo mercenário russo Wagner às vésperas do fim do prazo dado pela Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) para libertar e devolver o poder ao Presidente Mohamed Bazoum, deposto no dia 26.
O pedido foi feito durante uma visita de um dos membros do Conselho Nacional para Salvaguarda da Pátria (CNSP), como se autoproclamou a junta militar, general Salifou Mody, ao vizinho Mali, onde contatou alguém de Wagner, revelou Wassim Nasr, jornalista e pesquisador sénior do Soufan Center, à Associated Press (AP).
Ele acrescentou que três fontes do Mali e um diplomata francês confirmaram a reunião noticiada em primeira mão pela France 24.
“Eles precisam (de Wagner) porque serão sua garantia de permanência no poder”, disse Nasr, acrescentando que o grupo está a avaliar o pedido.
Um oficial militar ocidental, sob condição de anonimato porque não está autorizado a comentar, disse à AP que também ouviu relatos de que a junta pediu ajuda a Wagner no Mali.
Pressão da CEDEAO
O CNSP tem um prazo até amanhã, 6, imposto pela CEDEAO para libertar e devolver o poder ao Presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum, que a organização classificou de refém.
Na sexta-feira, 4, os responsáveis militares da CEDEAO finalizaram um plano de intervenção no país e instaram os militares a preparar recursos depois de uma equipa de mediação enviada ao Níger na quinta-feira não ter sido autorizada a entrar na capital, Niamey, nem a se encontrar com o líder da junta militar, general Abdourahamane Tchiani.
Após a visita ao Mali, também governado por uma junta militar, o membro do CNSP general Salifou Mody advertiu contra qualquer intervenção militar e prometeu que, em caso de uma invasão, o Níger faria o que fosse necessário para não se tornar “uma nova Líbia”.
Níger, Ocidente e o grupo Wagner
O Níger é visto como parceiro melhor colocado na luta contra o terrorimo pelos países ocidentais, numa região onde os golpes têm sido comuns nos últimos anos.
A França, antiga colonizadora do Níger, tem sido o principal alvo dos militares e dos seus apoiantes que atacaram e embaixada de Paris em Niamey e fizeram manifetações de apoio à Rússia, numa clara indicação de mudança de parceria.
O grupo russo Wagner está presente em vários países africanos, entre eles o vizinho Mali.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da França, Anne-Claire Legendre, através da emissora BFM, disse na sexta-feira que não se pode dizer que há uma implicação direta da Rússia no golpe do Níger, mas “claramente, há uma atitude oportunista por parte da Rússia, que tenta apoiar os esforços de desestabilização onde quer que os encontre”,
Legendre descreveu Wagner como uma “receita para o caos”.
Os líderes militares do Níger têm seguido a cartilha do Mali e do vizinho Burkina Faso, também dirigidos por juntas militares, mas avança mais rapidamente para consolidar o poder, ainda segundo o jornalista Wassim Nasr.
“(Tchiani) escolheu o seu caminho, então ele vai a fundo sem perder tempo porque há mobilização internacional”, afirmou.
A comunidade internacional, principalmente os países ocidentais, debatem agora em como se posicionar se o grupo Wagner entrar no país.
Nasr lembra que quando Wagner chegou ao Mali no final de 2021, os militares franceses foram depostos, logo depois, após anos de parceria, mais tarde Wagner foi classificado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, e os parceiros internacionais podem ter uma reação mais forte agora.
Há muito mais em jogo no Níger, onde os Estados Unidos e outros parceiros ocidentais investiram centenas de milhões de dólares em assistência militar para combater a crescente ameaça jihadista na região.
A França tem 1.500 soldados no Níger, embora os líderes do golpe digam que cancelaram os acordos de segurança com Paris, e os EUA têm 1.100 militares no país.
C/AP
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