Quis a Comunidade Económica Dos Estados da África Ocidental, quis a União Africana, quis a Guiné-Bissau, quis o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), quis José Mário Vaz, quis Alpha Condé, quis a história que a Guiné-Conacri, país irmão e vizinho, recebesse representantes de cada vez mais radicalizados e intransigentes grupos políticos guineenses, que se digladiam há já bastante tempo nos fóruns partidários e institucionais do país, com vistas a tentar reconciliá-los e formar um governo inclusivo de transição.
É deveras impressionante a rapidez com que o país trocou Bruxelas por Conacri. Mesa de propostas de desenvolvimento por mesa de busca pelo apaziguamento político, no exterior, sim, no palácio presidencial do vizinho ao lado. Apenas se passaram dois anos para que os desafios do desenvolvimento apresentados à Bruxelas transformassem em desafios de necessária e urgente concórdia política e partidária desembarcados em Conacri. Chamava a atenção, ainda nas vésperas da realização da mesa redonda, em 2015, que os resultados obtidos em Bruxelas poderiam representar projeção de conflitos políticos e partidários por recursos conseguidos, se não fossem criadas as condições políticas necessárias, fundamentadas em uma consistente reconciliação no PAIGC.
Hoje, propiciar uma sólida reconciliação dos actores políticos em disputa constitui o fulcral desafio da Guiné-Bissau, tendo despertado a preocupação dos parceiros regionais e globais. Conacri que permeou alguns momentos da trajectória de Guiné-Bissau enquanto nação e enquanto Estado em formação, mais uma vez é cenário de um momento importante e decisivo para o futuro político da Guiné-Bissau, pelo menos a curto e médio prazos.
Há 43 anos, nesse mesmo solo que acolhe os desavindos políticos da nossa terra, gotejava o sangue do pai e fundador da nacionalidade guineense e cabo-verdiana. Pode-se dizer que a covarde morte de Amílcar naquele fatídico e infortunado 20 de janeiro de 1973 representava uma radical mudança nos rumos e nortes que a Guiné-Bissau se propunha a seguir. Com o orquestrado e precoce tombo, em Conacri, de um dos maiores pan-africanistas e pensadores do transato século dilatava-se as chances e abria-se horizontes para que tivéssemos o PAIGC que hoje temos, o qual desvirtua e deturpa os objectivos nacionais fundamentados no cabralismo.
Por outro lado, em alguma medida Conacri representa um baluarte de resistência à perpetuação do colonialismo, um reduto territorial e político (inclusive do PAIGC) contra o colonialismo e colonialidade. De lá Cabral e seus camaradas mais próximos pensavam e esboçam não só as diretrizes e dinâmicas que as operações militares deviam tomar com vistas à emancipação territorial e política do nosso povo. A partir do seu escritório em Conacri, Abel Djassi também refletia e desenhava programas do desenvolvimento e políticas que deveriam orientar a plena e efetiva execução dos referidos programas no momento pós-independência.
Conacri é um dualismo simbólico, em alguma medida uma contradição simbólica para a Guiné-Bissau. Fraterna e solidariamente sediou o PAIGC de Cabral no período anticolonial, mas ali também tombou Abel Djassi. Será que o país de Ahmed Sékou Touré, hoje representado ao mais alto nível por Alpha Condé logrará o grande triunfo que passa a representar a necessária e urgente reconciliação da classe política guineense, mormente o PAIGC, os chamados 15 e o PRS?
O facto é que o nível de radicalização das partes em disputa é colossal e se não houver concessões políticas, como não tem havido até aqui, particularmente no que se refere ao nome do chefe de eventual novo governo, de Conacri poderá se acrescer frustrações e inquietações da nossa já inquietada terra, como naquele fatal e trágico 20 de janeiro, em vez de servir de um solidário e fraterno terreno que outrora abrigou o PAIGC – PAIGC de Cabral e dos ex-combatentes da liberdade da pátria.
Por: Timóteo Saba M’bunde, Mestre em Ciência Política.
É deveras impressionante a rapidez com que o país trocou Bruxelas por Conacri. Mesa de propostas de desenvolvimento por mesa de busca pelo apaziguamento político, no exterior, sim, no palácio presidencial do vizinho ao lado. Apenas se passaram dois anos para que os desafios do desenvolvimento apresentados à Bruxelas transformassem em desafios de necessária e urgente concórdia política e partidária desembarcados em Conacri. Chamava a atenção, ainda nas vésperas da realização da mesa redonda, em 2015, que os resultados obtidos em Bruxelas poderiam representar projeção de conflitos políticos e partidários por recursos conseguidos, se não fossem criadas as condições políticas necessárias, fundamentadas em uma consistente reconciliação no PAIGC.
Hoje, propiciar uma sólida reconciliação dos actores políticos em disputa constitui o fulcral desafio da Guiné-Bissau, tendo despertado a preocupação dos parceiros regionais e globais. Conacri que permeou alguns momentos da trajectória de Guiné-Bissau enquanto nação e enquanto Estado em formação, mais uma vez é cenário de um momento importante e decisivo para o futuro político da Guiné-Bissau, pelo menos a curto e médio prazos.
Há 43 anos, nesse mesmo solo que acolhe os desavindos políticos da nossa terra, gotejava o sangue do pai e fundador da nacionalidade guineense e cabo-verdiana. Pode-se dizer que a covarde morte de Amílcar naquele fatídico e infortunado 20 de janeiro de 1973 representava uma radical mudança nos rumos e nortes que a Guiné-Bissau se propunha a seguir. Com o orquestrado e precoce tombo, em Conacri, de um dos maiores pan-africanistas e pensadores do transato século dilatava-se as chances e abria-se horizontes para que tivéssemos o PAIGC que hoje temos, o qual desvirtua e deturpa os objectivos nacionais fundamentados no cabralismo.
Por outro lado, em alguma medida Conacri representa um baluarte de resistência à perpetuação do colonialismo, um reduto territorial e político (inclusive do PAIGC) contra o colonialismo e colonialidade. De lá Cabral e seus camaradas mais próximos pensavam e esboçam não só as diretrizes e dinâmicas que as operações militares deviam tomar com vistas à emancipação territorial e política do nosso povo. A partir do seu escritório em Conacri, Abel Djassi também refletia e desenhava programas do desenvolvimento e políticas que deveriam orientar a plena e efetiva execução dos referidos programas no momento pós-independência.
Conacri é um dualismo simbólico, em alguma medida uma contradição simbólica para a Guiné-Bissau. Fraterna e solidariamente sediou o PAIGC de Cabral no período anticolonial, mas ali também tombou Abel Djassi. Será que o país de Ahmed Sékou Touré, hoje representado ao mais alto nível por Alpha Condé logrará o grande triunfo que passa a representar a necessária e urgente reconciliação da classe política guineense, mormente o PAIGC, os chamados 15 e o PRS?
O facto é que o nível de radicalização das partes em disputa é colossal e se não houver concessões políticas, como não tem havido até aqui, particularmente no que se refere ao nome do chefe de eventual novo governo, de Conacri poderá se acrescer frustrações e inquietações da nossa já inquietada terra, como naquele fatal e trágico 20 de janeiro, em vez de servir de um solidário e fraterno terreno que outrora abrigou o PAIGC – PAIGC de Cabral e dos ex-combatentes da liberdade da pátria.
Por: Timóteo Saba M’bunde, Mestre em Ciência Política.