Mais responsabilidade, mais visibilidade, mais exposição, mas também mais recato. Com a subida de Carlos III ao trono, os príncipes de Gales e o duque de Sussex vão sofrer mudanças "meramente simbólicas, mas também práticas"
No dia 8 de setembro, aquando da morte da rainha Isabel II, o príncipe William e a mulher, Kate Middleton, receberam novos títulos: deixaram de ser apenas duques de Cambridge e passaram a ser duques da Cornualha e de Cambridge. Essa mudança duraria até ao primeiro discurso do rei Carlos III, onde se ficou a saber que William e Kate iriam assumir os títulos de príncipes de Gales, que foram usados por Carlos e Diana.
O acréscimo de títulos traz novas responsabilidades. William é não só filho do rei como o herdeiro ao trono, o que significa que é também o braço direito do novo soberano e quem assume compromissos em seu nome, à semelhança de outros membros trabalhadores.
Com a coroação de Carlos III, que acontece no próximo sábado, são várias as alterações na vida de William e Kate que, pouco antes da morte de Isabel II, já tinham assumido mais responsabilidades na família real e tinham até mudado de casa, passando a viver em Windsor para estar mais perto da rainha. Uma mudança que o embaixador José de Bouza Serrano considera normal, uma vez que "agora, William e Kate são os herdeiros aparentes e depois é o príncipe George".
Com a subida de Carlos ao trono, cada herdeiro muda de número na linha de sucessão, William passa a primeiro, George a segundo, Charlotte a terceiro, Louis a quarto, e Harry, que se afastou dos deveres reais, cai para quinto.
Para o especialista em realeza Alberto Miranda, ao longo dos anos, Carlos teve como papel principal "assegurar que o seu descendente direto, herdeiro número um, está preparado no futuro para assegurar também a chefia de Estado". E William, apesar de não ter "um papel formal e constitucional" definido enquanto príncipe herdeiro, para além de esperar pela sua vez e gerar um herdeiro, sabe que "tem de cumprir os seus deveres oficiais em nome do rei".
William e Carlos (Jon Super - WPA Pool/Getty Images)
"De facto, a subida de Carlos ao trono implica uma mudança no seio da família real britânica e com efeitos, não só meramente simbólicos, mas também práticos. A começar desde logo pela maior exposição que o cargo lhes traz, uma maior exposição pública. Um papel que Diana sentiu logo na pele quando se tornou princesa de Gales. E esta exposição pública tem as suas consequências, mas tem também as suas vantagens", explica o jornalista, referindo-se às causas sociais apoiadas pelos duques da Cornualha.
Quem também passará a ter maior exposição pública será o príncipe George, que agora assume o papel que durante 40 anos foi de William - o de filho do herdeiro ao trono de Inglaterra - com o fator de ainda ser criança e de "gerar maior identificação, magia, atração e comunhão para com a família real".
José de Bouza Serrano lembra que "George ainda é pequenino" e que seguirá o pai "por osmose e por repetição", mas que toda a educação do príncipe vem do berço e que isso é visível no dia a dia. Opinião que Alberto Miranda corrobora, reiterando que "a educação para o futuro é muito importante".
"George vai ser chamado a reinar no futuro e é importantíssima esta educação dos filhos para a causa, porque há um papel futuro que é preciso fazer. Nós já sabemos que os filhos do William são educados desde o berço para este papel, mas a partir de agora a exposição é maior, e esse trabalho é feito diariamente desde o acordar até ao dormir, desde o nascimento até à morte. Este papel, esta educação, foi o que fez Carlos quando educou os seus filhos, William e Harry."
O ducado da Cornualha
Lembrando que William para além de príncipe de Gales é também duque da Cornualha, "título que foi de Carlos toda a vida até à morte da mãe", Alberto Miranda recorda que este é um "ducado que se transmite de príncipe herdeiro para príncipe herdeiro".
"O próximo duque da Cornualha, quando William for rei, será o George, e depois o filho do George. Passa de geração em geração, mas sempre de príncipe herdeiro para príncipe herdeiro. E este é um ducado de onde provém os seus rendimentos pessoais privados e é muito lucrativo, por exemplo, por ano, valores recentes dizem que são mais de 23 milhões. Esta propriedade comercial é muito lucrativa e é agora a fonte de rendimento do cliente para si e para a sua família, e de onde ele paga aos empregados. Isto também é uma mudança na vida do William. Poderá não ter efeitos visíveis, mas é muito importante na vida desta mudança", afirma, acrescentando que "o príncipe Harry fala no livro 'A Sombra' que o pai cortou o apoio que lhe dava, tendo ele um ducado tão lucrativo quanto era o da Cornualha".
Segundo os últimos dados, o ducado da Cornualha vale mais de mil milhões de libras e os lucros revertem automaticamente para o herdeiro masculino do trono.
Também o príncipe Harry verá a sua vida mudar. A mudança mais esperada seria, segundo Alberto Miranda, "a verdadeira reconciliação com o pai", no entanto, além disso é esperado que o duque de Sussex passe a ter um "maior recato na sua exposição agora que o pai é rei".
"Sendo ele pai de dois príncipes, Harry terá de educar os filhos nesta tradição do que é ser príncipe. Porque queria tanto que os filhos fossem príncipes, e se fez essa exigência, e disse-o várias vezes, que achava discriminatório os filhos não serem príncipes, agora vai ter de educar os filhos como príncipes. Mas o que é que também se espera de Harry? Carlos quer que o filho, o seu amado filho, como ele diz, e que apesar de viver no estrangeiro, tenha agora um maior recato, uma maior contenção nas suas exposições, nas suas opiniões, porque tudo o que Harry tem falado afeta a imagem da família real. E a família real sendo a que dá o exemplo, a que é um modelo de virtudes, não pode ter este elemento perturbador."
A cerimónia de coroação do rei Carlos III e da rainha consorte Camilla vai decorrer no próximo dia 6 de maio, na abadia de Westminster, em Londres. Os britânicos vão ter direito a um fim de semana prolongado para festejar os novos reis, que contará não só com a cerimónia, mas também com um concerto e ações de voluntariado.