CNN, 11/08/23
Todos os olhos humanos são na sua essência castanhos, devido à presença de melanina. Níveis variáveis do pigmento melanina determinam a quantidade de luz que é refletida
Da próxima vez que estiver a olhar profundamente para os olhos do seu parceiro, o momento pode ser arruinado pelo conhecimento de que, independentemente de essas janelas para a sua alma parecerem azul penetrante ou verde cintilante, a realidade é que eles são castanhos.
É isso mesmo. Todos os olhos humanos são castanhos.
Como dono de um brilhante conjunto de olhos castanhos profundos, não vejo qualquer desilusão em saber que todos os olhos humanos são, de facto, de um maravilhoso tom de castanho, mas para quem se sentir enganado ou confuso, uma mistura de biologia e física pode ajudar a explicar esta realidade.
Tudo se resume à presença do pigmento melanina - que também se encontra na pele e no cabelo - na íris do olho, a parte colorida que rodeia a pupila.
“Toda a gente tem melanina na íris do olho, e a quantidade que tem determina a cor do olho”, afirma o Gary Heiting, optometrista licenciado e editor sénior do site de cuidados oculares All About Vision, nos EUA. “Há realmente apenas (este) um tipo de pigmento”.
Ver azul através do castanho
A melanina - composta por células de melanócitos - é naturalmente de cor castanha escura, mas tem a capacidade de absorver diferentes quantidades de luz, dependendo da quantidade em que existe. Quanto mais melanina houver no interior da íris, mais luz é absorvida, o que significa que menos luz é refletida, deixando a íris com um aspeto castanho.
Mas quando alguém tem olhos azuis, então tem menos melanina na íris, o que resulta em menos luz a ser absorvida e mais luz a ser refletida, ou espalhada, para fora. Quando esta luz se dispersa, reflete-se em comprimentos de onda mais curtos ao longo da extremidade azul do espetro de cores da luz - o que faz com que se veja azul.
Os olhos verdes e castanhos estão algures no meio, com quantidades diferentes de melanina que resultam em diferentes níveis de absorção da luz e, por conseguinte, em diferentes cores refletidas. O avelã é considerado uma mistura de cores de olhos, segundo Heiting.
Diferentes configurações de luz também podem fazer com que alguns olhos pareçam mudar de cor, dependendo da posição em que a pessoa se encontra.
Os olhos de um bebé podem parecer azuis enquanto a sua melanina ainda se está a formar.
“Trata-se de uma interação entre a quantidade de melanina e a arquitetura da própria íris”, acrescentou Heiting. “É uma arquitetura muito complexa”. Esta parte do olho é, portanto, única para a maioria dos indivíduos e pode atuar como uma espécie de impressão digital, devido à existência de várias texturas e padrões.
Os olhos azuis têm a menor quantidade de pigmento de todas as cores de olhos. Quando os bebés nascem, os seus olhos podem por vezes parecer azuis logo no início, enquanto a melanina ainda se está a formar. A cor dos olhos pode depois escurecer à medida que se desenvolvem.
“À medida que o bebé se desenvolve, mais melanina se acumula na íris”, explica Heiting.
A evolução em jogo
Tal como a cor da pele, uma teoria subjacente à evolução da cor dos olhos é a migração dos nossos primeiros antepassados para zonas mais frias do mundo.
Embora os elevados níveis de melanina - nos olhos, cabelo e pele - ajudem a proteger as pessoas em climas mais quentes, como em África, da radiação UV, a necessidade do pigmento protetor diminui à medida que as pessoas se deslocam para locais com menos sol. “Havia menos necessidade de ter toda aquela melanina”, disse Heiting.
Outra teoria concebida pelo professor Hans Eiberg, da Universidade de Copenhaga, era a de que uma mutação teria desligado a capacidade do olho de alguém produzir melanina. Isto conduziria a olhos claros no indivíduo afetado; a sua raridade pode tê-los tornado mais atraentes e ajudado à sua seleção natural na população. Num estudo, analisou os genes para a cor dos olhos e identificou o que acreditava ser uma mutação comum que causava a cor azul dos olhos.
“Acredita-se que foi assim que surgiram os olhos azuis, mas pode ser apenas a redução da necessidade de toda a melanina”, disse Heiting.
Determinação da cor
Há muito que se acredita que se alguém tem olhos castanhos - ou o que parecem ser olhos castanhos - as suas hipóteses de ter um filho com olhos mais claros são reduzidas. A seguir vem a teoria de que duas pessoas com olhos azuis terão automaticamente um filho com olhos azuis, devido ao facto de o gene ser recessivo e não dominante.
Mas isto também não é bem verdade.
“É bastante aceite agora que a cor dos olhos é uma caraterística poligénica”, disse Heiting, o que significa que estão envolvidos vários genes. De facto, pensa-se que até 16 genes desempenham um papel na quantidade de melanina nos olhos de alguém, o que implica que a caraterística da cor dos olhos não segue as regras tradicionais de hereditariedade.
Por isso, se os seus olhos escuros e profundos anseiam por uma criança com olhos claros e brilhantes, a esperança pode não estar perdida. “Vários genes têm influência na cor dos olhos”, disse Heitling. “Não é algo que se possa prever com facilidade.”
Outras opções são as lentes de contacto coloridas ou a cirurgia a laser para alterar a forma como a luz é refletida pelos seus olhos, mas enquanto pondera sobre a perceção de que os olhos não são o que pensava que eram, uma coisa é certa: nunca mais irá olhar para os olhos de alguém da mesma maneira.
Nota do editor: este artigo foi originalmente publicado no CNN em junho de 2017