© iStock
Por LUSA 02/09/22
A junta militar no poder no Mali rejeitou esta sexta-feira as acusações "tendenciosas" de massacre e violações de direitos humanos em operações do Exército maliano, apontadas pela Missão da ONU no país (Minusma) no seu relatório trimestral.
"As alegações são muitas vezes tendenciosas, descontroladas, relatadas com base em testemunhos não contraditados, não baseadas em qualquer prova tangível e muitas vezes feitas sob a ameaça de grupos terroristas", salientou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado.
A reação divulgada nas redes sociais surge depois da missão das Nações Unidas no Mali ter divulgado na quarta-feira que durante o segundo trimestre deste ano 96 civis foram mortos em operações do Exército maliano, dos quais, pelo menos 50 em abril, numa ação de malianos e "militares estrangeiros".
Em 19 de abril, em Hombori (centro), após a explosão de um artefacto improvisado à passagem de um comboio de forças malianas, acompanhado por "militares estrangeiros, o Exército realizou uma operação militar de busca na localidade, durante a qual pelo menos 50 civis [incluindo uma mulher e uma criança] foram mortos e mais de 500 outros foram presos", disse a Missão da ONU no país (Minusma), no seu relatório trimestral sobre violações de direitos humanos.
A Minusma não adianta, porém, mais pormenores sobre esses militares estrangeiros. Mas vários países ocidentais têm acusado a junta no poder em Bamako desde o golpe de 2020 no Mali de ter recorrido aos serviços da empresa de segurança russa Wagner para ações controversas. A junta nega, e fala da presença de instrutores do Exército russo em nome da velha cooperação militar.
Para a junta militar, estas incriminações "visam manchar a imagem das forças malianas e desacreditá-las perante as populações e a comunidade internacional", acrescentou o ministério.
Todas as operações das forças malianas "são conduzidas no estrito respeito pelos direitos humanos e pelo direito internacional humanitário", garantiu.
Desde 2021, os militares malianos afastaram-se completamente do seu ex-aliado francês, que acaba de completar a retirada militar do Mali, após nove anos de envolvimento no combate ao terrorismo.
O documento da Minusma também revela uma versão favorável à França sobre um caso de cadáveres em que Bamako acusou Paris de manipulação.
O Exército francês disse em abril que filmou e divulgou imagens do que alega serem mercenários russos a enterrar corpos perto da base de Gossi (norte), de onde o Exército francês se retirou. O objetivo teria sido acusar os franceses de deixarem uma vala comum atrás deles.
As autoridades malianas, por sua vez, acusaram os franceses de terem fabricado essas imagens montadas "do zero para acusar [os militares malianos] de serem os autores dos assassinatos de civis".
A Minusma disse que abriu uma investigação sobre o caso e revelou que os restos mortais enterrados em Gossi foram transportados para lá em 20 de abril, um dia após a entrega do campo de Gossi pelos franceses aos malianos, e "vinham de Hombori".
Por sua vez, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Mali insistiu novamente em falar no "provável envolvimento" de soldados franceses na construção desta vala comum, que "já existia muito antes da restituição do campo".
"Esta alegação tendenciosa da Minusma (...) prova suficientemente que é uma subjugação à França", destacou ainda.