© ReutersPOR LUSA 04/04/23
O Exército Nacional Republicano (NRA) russo, um grupo opositor do Kremlin, reivindicou hoje o atentado à bomba que no domingo vitimou o conhecido 'blogger' militar russo Vladlen Tatarsky.
"Esta ação foi efetuada por nós de forma autónoma. Não mantemos contacto nem recebemos ajuda de nenhuma estrutura estrangeira ou de serviços secretos", assinalou a célula do NRA em São Petersburgo em mensagem no canal Telegram Rospartizan.
A nota recorda que Tatarsky, pseudónimo de Maxime Formin, era um "instigador da guerra e um criminoso de guerra" e o café onde ocorreu a explosão era propriedade do chefe do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, que descrevem como "um dos mais famosos bandidos russos".
O NRA assegura que o atentado não visava civis e que todos os feridos são apoiantes da campanha militar russa na Ucrânia e justificam "os crimes de guerra do regime de [Vladimir] Putin (Presidente russo) na Ucrânia".
O comunicado nega que Daria Trepova - principal suspeita do atentado segundo o Comité Nacional Antiterrorista russo - tenha alguma relação com a explosão.
"Apelamos a todos os cidadãos russos que sigam o nosso exemplo e oponham todo o tipo de resistência ao regime criminoso russo, até à sua completa destruição. Os criminosos não se sentirão seguros em território russo. A Rússia será livre!", conclui a mensagem, também divulgada pelo exilado político russo Ilia Ponomariov, o único deputado que votou contra a anexação da península da Crimeia, concretizada em 2014.
O Comité Nacional Antiterrorista responsabilizou pelo atentado os serviços secretos ucranianos, que supostamente terão utilizado pessoas próximas do ilegalizado Fundo de Luta Contra a Corrupção (FBK) do opositor russo Alexey Navalny, atualmente detido.
Segundo o Comité, Trepova era uma "ativa partidária" do FBK, que durante anos denunciou a corrupção na administração pública.
Trepova já tinha sido condenada a dez dias de prisão em fevereiro de 2022 por uma ação não autorizada contra a guerra na Ucrânia.
O Comité de Investigação da Rússia acusou hoje Trepova de cometer um atentado terrorista com um engenho explosivo e por intermédio de um grupo organizado, que poderá implicar 20 anos de prisão, permanecendo em prisão preventiva durante dois meses.
Na segunda-feira Trepova, 26 anos, reconheceu que entregou a estatueta que provocou a explosão num café de São Petersburgo, na sequência de um vídeo do interrogatório divulgado pelo ministério do Interior.
Trepova entregou supostamente a estatueta a Tatarsky, 40 anos, com um explosivo no seu interior que terá sido ativado por controlo remoto.
O assassinato do 'blogger' recorda o atentado quem em agosto de 2022 matou Daria Dugina, filha do intelectual ultranacionalista Alexandr Dugin, considerado próximo do Kremlin.
O NRA também reivindicou este atentado, apesar de as autoridades russas terem acusado os serviços secretos ucranianos de envolvimento, o que Kyiv negou.
O presidente russo Vladimir Putin condecorou postumamente Tatarsky na segunda-feira, com a Ordem do Valor, à semelhança do que fez com Dugina.
Tatarsky nasceu na região do Donetsk, leste da Ucrânia e de maioria russófona, e em 2014 esteve integrado nas milícias separatistas pró-russas que combatiam o Exército de Kiev.
O 'blogger', que tinha mais de 560.000 subscritores no seu canal do Telegram, ficou conhecido em setembro de 2022 quando no Kremlin, após assistir a um discurso do Presidente russo, Vladimir Putin, assegurou: "Vamos derrotá-los a todos [os ucranianos], matá-los a todos, roubaremos todos os que quisermos".
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,6 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,1 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa -- justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia -- foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 8.451 civis mortos e 14.156 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.