Por africa21digital.comO Presidente de São Tomé e Príncipe disse, sexta-feira (31) que o país tem de entrar em 2022 com um “querer genuíno e determinação sem limite” para expulsar definitivamente “a miséria e a mediocridade” em que vive hoje.
“É preciso dar o salto para a modernidade. Temos de entrar para o ano de 2022, com outras perspetivas, com outro olhar, com otimismo, com a crença de uma sociedade melhor, mas igualmente, com o querer genuíno e determinação sem limite, que nos expulse definitivamente da miséria e da mediocridade em que vivemos hoje”, afirmou Carlos Vila Nova na sua primeira mensagem de Ano Novo como Presidente daquele país lusófono.
Lembrando que a sua missão é “essencialmente um projeto de justiça e progresso social”, o Presidente, que tomou posse em outubro, salientou que não se pode contentar “com a justiça nem com a proteção social que o país tem hoje”.
“É preciso reformar a justiça e reformar o Estado, reformar as instituições. Mas reformar com ambição (..)” porque hoje “já não satisfaz ajeitar ou fazer remendos”, sublinhou.
Para Carlos Vila Nova, não há “a mínima dúvida que o país está enclausurado numa teia de corrupção, que de banal e camuflada passou a ser aberta, direta e institucional com proporções nunca dantes visto, minando a estrutura do Estado.”
“Por isso, não poderia terminar esta minha intervenção sem falar da justiça, porque é imperativo que se ponha termo à injustiça reinante”, afirmou.
A corrupção,”sob todas as suas formas, grandes e pequenas, as suspeitas de corrupção, críticas e denúncias, anónimas e não anónimas veladas e abertas”, marcaram 2021, disse.
“O ano que acaba hoje foi profundamente marcado por tudo isso, sem que tenhamos registo de um ato sério vigoroso, decisivo de combate à corrupção”, acrescentou.
Assim, “corremos o risco que ela se enraíze, se fortaleça, se torne natural e se naturalize”, frisou.
Neste cenário, defendeu também que os são-tomenses têm de entrar em 2022 “com um outro modelo, mais aberto, mais simplificado, mais flexível, mais congregador e menos divisionista, para que cada um possa ter a sua oportunidade e libertar as suas energias e capacidades de criação e inovação”.
Num discurso que disse estar a fazer com “bastante emoção”, não só por ser o seu batismo, mas por ser feito “num momento muito difícil e complicado” para o país, o Presidente fez questão de expressar a cada uma das famílias que perderam os seus entes queridos, devido às chuvas torrenciais e prolongadas que se abateram sobre a ilha de São Tomé, as suas “sentidas condolências” e assegurou: “toda a nação está ao vosso lado neste momento de bastante dor e tristeza”.
Além disso, lembrou os muitos compatriotas e pessoas espalhadas por todo o continente africano e pelo mundo inteiro que “não podem celebrar como gostariam, pelas mais variadas e absurdas razões”, esta época festiva.
Para Carlos Vila Nova, o ano de 2021, à semelhança do que já foi o anterior, “foi muito duro para os são-tomenses”, com destaque para “as tempestades destes últimos dias, particularmente as do dia 28 do mês de dezembro, com todo o seu cortejo de danos e destruições”, que no seu entender vieram chamar à atenção para um aspeto da vida coletiva do país “muito mal tratado”.
“Os pedidos de socorro das nossas populações e da sociedade civil esbatem-se num muro de silêncio, quando o nosso ambiente é deixado à fúria avassaladora dos homens, para os quais não há limites à sua atuação”, sublinhou.
“O que as mãos dos homens são capazes de fazer”, disse, defendendo que perante o que viu e ouviu nestes últimos dias do ano, quando visitou as localidades afetadas pelas inundações “já não basta reclamar, é preciso agir imediatamente e com toda a força que a Lei nos permite”. “Não podemos ser cúmplices dessa selvajaria”, acrescentou.
Outro facto que não pode ser esquecido para Carlos Vila Nova “é o número de casos de violência doméstica, tanto sob a forma de ofensas corporais e morais como sob a forma de homicídio””.
“A nossa sociedade, bem como as instituições vocacionadas, não podem continuar a tolerar estes crimes, que não têm qualquer razão de ser”, sublinhou.
Para o Presidente, “o país está literalmente parado” e “a pandemia serviu de desculpa para tudo, incluindo para os nossos erros e negligências, bem como para os nossos humores e caprichos, que se traduziram em inexplicáveis desperdícios.
“Não podemos continuar a desperdiçar sobretudo aquilo que não temos nem somos capazes de produzir e de que a comunidade precisa como do ar de que respira ”
Pelo menos duas crianças morreram na ilha de São Tomé no final desta semana, na sequência de inundações causadas por chuvas intensas que começaram na terça-feira, e que provocaram destruições de pontes cortes de vias e vários danos para a população do país, incluindo perdas de casas.