Por: yanick Aerton
Qual é o complexo? Porque é que alguns dos nossos compatriotas ainda vivem de preconceitos?
Não podemos ficar calados sem reagir, quando as nossas consciências estão a ser violentadas por pessoas mal-intencionadas, animadas por sentimentos de ódio, de ignorância e de divisão, sobretudo pessoas “restos de Tuga” que se julgam com mais direitos do que os demais Guineenses.
Foi publicado esta manhã, dia 9 de Dezembro de 2020, num dos Paginas nacionais, com o título: Greve nos transportes públicos. Arrombaram a porta.
Um título que supostamente chama a atenção sobre uma situação anormal constatada naquele sector.
Agora, pergunta-se, qual a finalidade deste artigo, se o que se pretende fazer é de levar ao conhecimento do público uma situação que não está a correr bem, e que se necessita de ser resolvida, a contento das partes implicadas?
A resposta é muito simples. É a manifestação de um sentimento de revolta, porque parece haver ainda Guineenses nesta nossa sociedade, cujas mentes estão entupidas por obscurantismo, porque não preparadas para viver numa Guiné plural, numa Guiné melting pot, numa Guiné sempre aberta à multiculturalidade e pioneira do Pan-africanismo.
O articulista, de forma provocatória, diz o seguinte: “O chefe do gabinete do ministro mandou arrombar a porta…. O São Tomense Jorge Mandinga, está nem aí”.
Perante tamanha ignorância, apela-se aos Guineenses à vigilância, e às autoridades administrativas e aos atores políticos a intensificarem as suas acções de sensibilização e de formação de alguns Guineenses, para evitar que continuem a viver na escuridão, como se não estivéssemos a viver no Séc. XXI, o da LUZ, o da GLOBALIZAÇÃO.
São as mesmas pessoas que procuram vãmente colar a etiqueta de Maliano ao General Presidente Umaro Sissoco Embalo, só pelo facto da mãe, Guineense de nascimento, cuja origem da parte paterna é do Mali, o Império que no passado cobria toda a Costa Ocidental da África, incluindo a actual Guiné-Bissau.
Devemos mobilizarmo-nos e lutar contra esses extremistas que nem sabem que membros de muitas etnias da Guiné-Bissau vivem mais, em número, no Senegal, Gâmbia e noutras paragens do que no próprio país de origem, que é a Guiné-Bissau.
Alguém perguntaria: porque preocupar-se com esse “amanbarka”?
A resposta, mais uma vez, é bastante simples, porque a prosperar essa tentativa, esse tipo de Guineense poderá no futuro começar a intoxicar algumas mentes menos esclarecidas e provocar graves contradições entre as comunidades que sempre conviveram pacificamente neste pedaço de terra, chamada Guiné-Bissau.
Jorge Mandinga, São Tomense?
Apesar de jovem, mas sei que Tio Jorge Mandinga e irmãos nasceram todos em Bafatá. Por outras palavras, são mesmo Mandingas ou simplesmente Malinkes, de acordo com os nossos valores que consideram o ser humano no espaço cultural em que vive.
Muitos dos grandes combatentes da liberdade da pátria (CLP), do lado paterno, têm as suas origens noutros territórios da África, sendo as respectivas mães Guineenses de origem. Mas isso nunca lhes fez menos Guineenses do que os demais compatriotas
Não vou citar nomes desses grandes heróis, por respeito e consideração ao heróico papel que desempenharam para resgatar a dignidade dos Guineenses, dignidade confiscada pelo Colonialismo Português durante anos.
Algum Senegalês chamaria um dia, de Guineense, o Mister Aliou Cisse, Coach da Equipa do Senegal, os Leos da Teranga?
Mas quem é que não sabe que o pai desse grande coach, ex-capitão dos Leos da Teranga, nasceu em Calequisse?
Quem é que não sabe que o Edouard Mendy, que é agora guarda-redes do Chelsea, é Guineense de origem. Alguém no Senegal chamaria o Edouard Mendy de Guineense?
Temos que admitir que ainda há muito trabalho pela frente, para prepararmos alguns dos nossos compatriotas para poderem adaptar-se ao “vivre ensemble”, e saberem viver descomplexadamente na sociedade, sem ódio para o próximo.
Procuremos pôr termo a essas agressões, porque esses comportamentos não vêm fazer senão reforçar a unidade e a coesão dos Guineenses em torno do essencial.
Os Cabo Verdianos, Angolanos, Moçambicanos, Malianos, Guineenses de Conacri, os Gambianos, os Burquinabês, os Mauritanianos, os Congoleses, os ivorienses, etc., nascidos na Guiné-Bissau, são todos Guineenses, e gozam dos mesmos direitos e deveres que os demais Guineenses.
Não há Guineenses de primeira e Guineenses de segunda. Essa injustiça é uma das razões porque Cabral e os seus companheiros lutaram para que aqueles que outrora eram considerados “gentios” ou “nativos de segunda”, fossem à escola, fossem formados para hoje assumirem altas responsabilidades no país.
No Para provocason!
Pabia anos tudo I um son!
Viva Guinendadi!
Sem comentários:
Enviar um comentário