O Presidente da Guiné Conacri, Alpha Condé, em Paris, no 22 de Novembro de 2017. PHILIPPE WOJAZER / POOL / AFP
Texto por: Liliana Henriques
Foi cancelada a deslocação de uma missão da CEDEAO à Guiné Conacri. A missão composta pelos Presidentes da Nigéria, do Gana, do Burkina Faso e do Presidente em exercício da organização sub-regional, o chefe de Estado do Níger, devia chegar ao país esta Sexta-feira no intuito de tentar mediar a crise na Guiné-Conacri que, a poucos dias das legislativas e do referendo sobre um controverso projecto de nova Constituição, tem sido palco de protestos desde meados de Outubro, cuja repressão provocou a morte de 30 civis e de um polícia.
Havia vários dias que a CEDEAO estava a conduzir tramitações com vista a efectuar esta missão em Conacri, mas o Presidente Alpha Condé terá feito ouvidos moucos às solicitações dos seus homólogos regionais.
Em causa está a dupla consulta do próximo Domingo, as eleições legislativas e sobretudo o referendo sobre o projecto de nova Constituição da Guiné Conacri, uma Constituição que se quer "mais moderna" e visa "responder aos desafios do mundo actual" segundo o Presidente da República. Entre os pontos previstos na nova lei fundamental, está a limitação dos mandatos presidenciais ao número de dois.
Só que a oposição suspeita Alpha Condé de querer aproveitar-se da eventual adopção desta nova Constituição para, ao seu abrigo, recomeçar do zero e brigar um novo mandato em finais deste ano. Até agora, o Presidente não esclareceu as suas intenções, remetendo a decisão para o seu partido.
Outro ponto de contencioso, em 2018, a ONU e a OIF, Organização Internacional da Francofonia, efectuaram uma auditoria sobre os ficheiros eleitorais do país que datavam de 2015. De acordo com a investigação, foram contabilizados quase 2,5 milhões de eleitores cuja presença nas listas era considerada "problemática", por estarem duplicados ou haver nomes de menores ou pessoas falecidas. De acordo com a OIF, as listas previstas para as consultas de Domingo continuam a abranger os nomes desses mesmos "eleitores litigiosos", daí que num comunicado na Segunda-feira, a organização tenha anunciado a suspensão da sua participação num processo cuja regularidade, a seu ver, estava "a ser colocada em causa".
No passado fim-de-semana, deputados da oposição que pretendiam participar num comício contra o referendo em Mamou, cidade do centro do país, foram impedidos de sair do seu hotel pelas forças da ordem, o que provocou rapidamente confrontos entre militantes da oposição e agentes policiais em várias partes desta localidade.
Primeiro presidente eleito democraticamente no seu país em 2010, reeleito para um segundo mandato em 2015 já num clima de contestação, Alpha Condé, antigo professor universitário de 82 anos que passou boa parte da sua existência na oposição e foi outrora símbolo da luta pela democracia no seu país, ele "decepcionou muito" segundo a oposição que promete impedir os votos do próximo dia 1 de Março. Uma promessa à qual o Presidente responde apelando os seus apoiantes a "baterem em quem aparecer para destruir urnas".
RFI
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