Fonte: LUSA
Os moradores do bairro dos bombeiros em Bissau estão indignados com as ordens de despejo das suas casas, dada pelo Governo guineense, que dizem pretender construir um edifício de sete andares no antigo quartel da corporação.
Malam Mané, filho de um antigo comandante dos bombeiros da Guiné-Bissau, Cesaltina Sanca, filha de um mergulhador, Joaninha Gomes, 62 anos, mulher de Joaquim Cardoso, bombeiro reformado de 78 anos, são as vozes da revolta perante o que consideram “humilhação, desespero e abuso”.
Na passada quarta-feira, as máquinas enviadas pelo Governo iniciaram o que os moradores chamam de “demolição à força” das velhas casas que circundam o quartel dos bombeiros em Bissau.
A ação das máquinas contou com a resistência de 32 famílias, cujos pais e maridos “trabalharam toda a vida nos bombeiros”, de acordo com Malam Mané, nado e criado nos bombeiros, há 40 anos e que se assume como líder dos moradores.
Em setembro de 2020, a direção dos bombeiros enviou uma carta aos moradores a avisar sobre a ordem de abandono das casas, mas desde aquela altura que aguardam por respostas sobre para onde deverão ir se saírem daquelas instalações, explicou Mané, cujo avô paterno também serviu nos bombeiros.
“Na terça-feira passada, vieram aqui com um aviso verbal de que temos de abandonar, porque vão começar os trabalhos. No início disseram que iam fazer muros de vedação, mas despejaram as pessoas, derrubaram o muro que aqui estava, deitaram abaixo o telhado de algumas casas, a varanda, uma humilhação total das pessoas”, referiu Malam Mané.
Joaninha Gomes, que confirmou tudo o que Mané disse à Lusa, pede ao Governo para que olhe para os moradores que disse serem, na sua maioria, “homens que sempre combateram incêndios e desgraças alheias”.
No dia em que a máquina estava a deitar abaixo as árvores e o muro de vedação, Joaninha estava na sua varanda ao lado do marido, Joaquim Cardoso, hoje reformado, depois de 60 anos de serviço.
“O meu marido levou toda a vida aqui. No dia em que a máquina esteve cá a derrubar as coisas ele chorou que nem uma criança de tanta raiva. A pressão subiu com ele. Temi que ele morresse nesse dia”, contou Joaninha Gomes.
A esperança dos moradores reside agora numa carta que enviaram ao Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, na passada segunda-feira, e da qual ainda não tiveram resposta, acrescentou Joaninha, frisando que, se o Governo usar a força, preferem morrer nas suas casas de que sair.
Aos 78 anos, reformado e doente, Joaquim Cardoso só se consegue mover com ajuda dos netos, mas não teve medo da máquina de demolição em ação a escassos metros da varanda onde se manteve na passada quarta-feira.
Joaquim não consegue conter as lágrimas quando questionado sobre o que pensa fazer se o Governo mandar outra vez a máquina.
“Se usarem da força, vamos sair, nós que hoje já não temos força, e vamos pedir socorro a quem tiver pena de nós”, declarou o ex-bombeiro que acredita que “o Presidente vai resolver”.
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