segunda-feira, 13 de agosto de 2018

PROMOVER A COMPETIÇÃO NA ESCOLA!


Muita coisa pode ser dita sobre este tema, tanto antes como em momentos oportunos. Mas quero que saibam que cheguei, prematuramente ou até mesmo tardiamente, a esta reflexão devido a diversas situações amargas que o país atravessa e o rumo que o nosso processo de ensino está a seguir há décadas, sem realizações palpáveis e plausíveis. Não duvido que os decisores sejam os grandes responsáveis por tudo isso, mas todos devem engajar-se a volta do setor. Justamente, porque a componente “competição” dentro da escola foi aniquilada.

Essa atitude de aniquilar esse método que incentivava a maior competitividade entre alunos na escola é, honestamente dizendo, um exemplo da maior desonestidade dos nossos detratores, pois são eles que mais estavam interessados na implementação do modelo que resultava na elevação do ensino guineense e que dele mais teriam beneficiado, e são agora os mesmos que o condenam publicamente. 

Com que fundamento? Alguém já experimentou outro método melhor? Alguém já presou por um ensino de qualidade ou na dignificação do professor (vetor principal do processo)? – No Para! Nundé Curriculu que se adeque a nossa realidade? A coisa está a ficar feia dia-após-dia, e ninguém propõe soluções.

Em tempos, este método era a pedrinha nos calçados do “Djila” guineense. Porque era difícil lidar e cumprir, todas as sextas-feiras, nos últimos 15 minutos que os educadores tiravam do seu tempo letivo diário e entregavam aos alunos para se “desafiarem” entre eles.

Os 15 minutos de todas as sextas-feiras eram disputados em cheio e o “vencedor” de cada edição, ou seja, quem tivesse a sorte de responder mais-correto, batia nos colegas. Era logo tido como alvo a abater de sexta seguinte. E isto ajudou, não digo muito, mas pelo menos bastante. Incentivava que cada aluno desafiasse a si mesmo para ser “o Herói da semana”. Como resultado, os estudantes guineenses que iam em bolsas de estudo eram inquestionáveis. 

Hoje, só quem lida com esse setor tão sensível pode falar do desastre e traumatismo que sofreu. E não esqueçam que precisa de terapia profunda e longa!

Além disso, este método que o atual sistema do ensino levou e colocou entre inferno e sol de Quaresma tem contribuído grandemente, não só na elevação do nível dos alunos naquela altura, como também na assimilação da matéria. Incutia neles (alunos) um espírito de competir para saber, não para empobrecer a capacidade humana. É claro que quem saía como vencedor criava inveja nos outros, mas ao mesmo tempo era também uma pressão a que se submetia o melhor posicionado no sentido de se dedicar mais e mais para não perder a sua posição e manter a sua performance anterior e conservar a liderança.

Outra vantagem: esse método trouxe o chamado “Quadro de Honra”- que, ignorantemente, agora desconheço se ainda existe ou não nas escolas. As bolsas de estudo que eram atribuídas aos estudantes guineenses para estrangeiro era com base neste processo “seletivo inteligente e justo”. Salvo a minha ignorância, duvido que ao nível das escolas públicas este processo ainda esteja ativo. 
Mesmo que esteja, colocaremos em causa a sua transparência, porque os vícios crónicos de diferentes comissões de bolsas de estudo do Ministério da Educação Nacional provaram que lá dentro anda um vírus mortífero que dá cabo das pessoas. E quem não duvidará, se assim for, de tudo e todos, num país onde a imprevisibilidade é tamanha e recorrente! Sobretudo, quando falamos de transparência de um processo? Talvez não esteja a ser sincero comigo mesmo, mas acredito que os decisores próximos “deste inferno” –Educação – estarão neste momento a questionar como nos encontrou? Quem é esse homem? Se for o caso, diria que: sou quem sou, não de quem pensam que sou ou querem que eu seja!

Hoje, por exemplo, se provarmos que essa minha pequena reflexão tem algum nexo dentro do atual contexto educacional guineense, acreditem que quero acreditar também que qualquer intelectual que se prese e que queira um ensino dinâmico e competitivo dentro da escola ou do processo de ensino aprendizagem estará, com certeza, longe de ignorar ou afastar qualquer possibilidade que abra as portas para a discussão a volta deste pormenor (competição na escola). Também tenho a consciência clara de que nem todos concordariam comigo, claro, porque a diversidade de ideias constrói uma sociedade equilibrada e culta. 

Contudo, espero que concordem comigo se disser que: se destruirmos ou ignorarmos a “competição” entre os alunos na escola estaremos a desarmá-los e relegá-los a vários condicionalismos que, às vezes, os inibem (alunos) e desmoronam a sua competência humana. Como consequências, jamais serão capazes de se exteriorizarem, exprimindo livremente o seu lado intelectual humano – já que ninguém nasce vazio! Concordem comigo quando digo que: é frustrante acompanhar tamanha desonestidade das decisões guineenses ligados a este setor!

Paradoxal ou não, é verdade que a escola como instituição educativa de excelência e detentora de uma função social tem de cumprir a sua missão de ensinar, no mais amplo sentido da palavra e “preparar as pessoas para a vida”, quer seja ela social, quer laboral ou intelectual para que possam, cada um a sua medida, contribuir para o desenvolvimento socioeconómico do país. Por um lado, a escola tem, até certo ponto, de responder às exigências da sociedade em que está inserida; por outro, deve também responder às exigências de cada indivíduo. Tudo isso deve ser a missão dos decisores para salvar o “grasnar” dos alunos impotentes.

Não é menos verdade também que a competição grassa na sociedade em que vivemos. Analisando estes dois fatores e tendo em consideração o que me levou a essa reflexão poderia concluir-se que: a escola terá de fomentar a competição, usando todos os “dispositivos” necessários. No entanto, a escola como instituição educativa tem de fazer triagem dos valores concorrentes na sociedade. Bom, quiçá se tal for oportuno, os decisores devem ter a coragem de opor-se à realidade aquilo que considere mais valido, tendo em vista desenvolver nos seus alunos aquelas capacidades que tornam o homem “mais humano”.

Caros leitores de O Democrata! Não estou a falar aleatoriamente de qualquer “competição” muito menos da violência na escola, não! Longe disso. Tem que ser a competição que obedeça às regras estabelecidas e aceites dentro do circuito para balizar o setor moribundo! Porquê? Porque o simples fato de também existir competição fora da escola, ainda que de outra natureza, muitas vezes feita e encarada de forma inimiga e em condições pouco morais, não justifica que a escola, enquanto instituição educativa, compactue com esse estado de coisas e aceite que se crie dentro de si essas mesmas condições que, em grande medida, colocam em causa os valores e os princípios que ela (escola) advoga no processo de ensino. 

Insisto dizendo que: dadas as diferenças individuais entre os alunos (diferenças de interesses), de ritmos, de aprendizagem, de aquisições extra-escolares e escolares (anteriores), não creio que estimular a competição entre alunos nestes moldes seja a atitude ou fórmula ideal, senão deseducativa e injusta. Neste sentido, aconselho que sejam integradas mais elementos morais que criem condições necessárias e objetivas para que ela (competição) decorra num ambiente de aceitação recíproca tanto do lado dos alunos como dos professores, salvando o processo.

Porque não acredito se será tão necessário ou valerá a pena conseguir que o aluno atinja um elevado nível de conhecimento, à custa do seu empobrecimento como ser humano? Com certeza não. Então, na minha modesta opinião, o professor só dará um grande e importante passo na sua nobre missão que lhe está a ser negado, se conseguir que nenhum dos alunos se “arme em Herói” pelo simples fato de ser melhor que outro.

Por isso, é fundamental que numa sociedade ou num mundo em que a todo o momento a criança, o adolescente, o jovem tem a visão de “salve-se quem poder”, a escola intervenha, mostrando que a competição só é louvável quando cada um se compara consigo mesmo, isto é, numa tentativa de auto-superação, procurando sempre apoiar-se na ajuda dos outros e o que deles recebe. Tudo isso é mais na perspectiva de alcançar as metas educacionais, e que estas não se resumam a saber coisas mas também a crescer como ser humano.

Por: Filomeno Sambú
Jornalista e Estudante do 3º ano de licenciatura em Língua Portuguesa pela Escola Normal Superior “Tchico Té”

Fonte: radiojovem

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