O antigo chefe da diplomacia guineense João "Huco" Monteiro defendeu que, "perante os dados novos", o petróleo que se está a negociar com o Senegal "é da Guiné-Bissau" e exortou os cidadãos a estarem todos do mesmo lado.
"Huco" Monteiro faz parte de um grupo de notáveis guineenses, entre académicos, ativistas sociais, ambientalistas e militares, que querem ver a Guiné-Bissau "a ter uma abordagem mais convincente" nas negociações com o Senegal sobre a partilha dos lucros do petróleo e gás que se acredita existirem "em grandes quantidades" numa zona marítima constituída pelos dois países.
A partilha que se fez de eventuais lucros dos dois recursos e que vigorou durante 20 anos, até que, em dezembro de 2014, o atual Presidente guineense, José Mário Vaz, denunciar o acordo sobre o qual assentava a divisão, previa 85% para o Senegal e 15% para a Guiné-Bissau.
As vozes da sociedade civil e o ex-chefe das Forças Armadas guineenses, almirante Zamora Induta, consideram aquela partilha de injusta e alegam agora que "na realidade o petróleo pertence por inteiro à Guiné-Bissau".
"Os dados dizem-nos que o petróleo é nosso", disse, em entrevista à Lusa, "Huco" Monteiro, que, contudo, não quer que esta questão levante sentimentos de nacionalismos extremos nos dois lados.
O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros pretende ver os guineenses "todos unidos" para se constituírem "numa força de pressão para que as autoridades possam ter uma posição mais robusta" nas negociações com o Senegal sobre a nova partilha que deve ser feita, notou.
Os dois países vão encontrar-se no final deste mês em Bissau para mais uma ronda negocial sobre a nova partilha dos lucros do petróleo e gás que possam ser encontrados na zona de exploração conjunta, que comporta uma plataforma marítima de cerca de 25 quilómetros, sendo que a Guiné-Bissau disponibilizou 46% do seu território marítimo e o Senegal 54%.
Algumas vozes guineenses, com destaque para o almirante Zamora Induta, defendem que antes de se falar na partilha de lucros do petróleo, a Guiné-Bissau devia obrigar o Senegal a redefinir o traçado da fronteira marítima entre os dois países, para desta forma provar que a zona em questão pertence "por inteiro à Guiné-Bissau".
O antigo chefe da diplomacia guineense admite "um traçado injusto da fronteira com o Senegal", mas considerou que neste momento o que está em discussão é a partilha dos lucros do petróleo e gás, embora não coloque de parte a possibilidade de a questão da divisão da fronteira ser discutida "um dia".
Para levar a que haja um "único posicionamento" e evitar "dispersão de opiniões" sobre o que deve ser o contributo da sociedade civil, "Huco" Monteiro pretende organizar na próxima semana, em Bissau, um encontro que junte todos os que têm algo a dizer sobre o assunto.
"Queremos apresentar ao Governo uma estratégia de apoio para influenciar o curso destas negociações", declarou Monteiro, sublinhando que o executivo e o Presidente José Mário Vaz teriam "muito a ganhar" se liderassem o debate nacional sobre a questão do petróleo e gás com o Senegal.
dn.pt/lusa
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