Madina de Boé fora conquistado totalmente pelos guerrilheiros do partido em 1969, depois da famosa retirada das forças portuguesas conhecida historicamente por “Desastre do Cheche – Tchetche”, que provocou a morte de 47 tropas portuguesas ao atravessar o rio Corubal. Partido instalou-se em Boé e concretamente em Lucadjol, uma aldeia rodeada pelas colinas, no entanto, construiu-se um edifício em cima de uma das colinas, que serviu do gabinete de trabalho do líder de guerra, Amílcar Cabral e fez-se também uma cobertura para servir igualmente do local de reuniões.
O referido edifício é considerado hoje de ‘Casa Histórica’ e recebe a visita de dezenas de pessoas, tantos cidadãos nacionais e estrangeiros provenientes de diferentes países para conhecer um pouco da história da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde. Segundo a explicação dos habitantes havia alguns materiais de Amílcar Cabral no gabinete, mas os mesmos foram todos retirados por um dos administradores que passou no setor e sem, no entanto, dar satisfação aos populares e razão pela qual, não se vê nada hoje no local e apenas um edifício velho com telhas novas.
LUCADJOL – ALDEIA HISTÓRICA ABANDONADA DEPOIS DA PROCLAMAÇÃO DA INDEPENDÊNCIA
Lucadjol é uma aldeia que acolheu a maior base do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e fora nas matas desta mesma aldeia que se realizara a primeira Assembleia Nacional Popular, que proclamou a independência unilateral da República da Guiné-Bissau, a 24 de setembro de 1973. Lucadjol é uma aldeia de Setor de Boé, região de Gabú, no leste do país.
Aldeia se encontra a 97 quilómetros da cidade de Gabú (sede da região), mas leva-se mais de seis horas de tempo numa viatura em boas condições para viajar naquela zona, devido a má condição das infraestruturas rodoviárias que nem sequer parecem estradas. A rota mais usada para viagem é a partir da cidade de Gabú, passando pelo rio Tchetche através de uma jangada, depois seguir a viagem e passar pela sede do setor (Beli) e continuar até a seção de Lugadjol, que devido o isolamento apresenta característica de uma pequena aldeia de ‘criadores de gado’.
A aldeia histórica tem uma população estimada em cerca de 100 habitantes, de acordo o senso do Instituto Nacional de Estatistica (INE) de 2009. Lugadjol, é oficialmente a sede do setor de Madina do Boé, mas devido ao isolamento e a degradação avançada das infraestruturas que albergavam as instituições estatais, a sede do setor foi transferida para a seção de Beli, que se encontra a 12 (doze) quilómetros de distância.
A população local vivia um sonho de uma dia ver desenvolvida a aldeia que serviu como o berço da independência da Guiné-Bissau. Foi a partir desta famosa aldeia que o partido começou a implementar a raíz do Estado, pelo que de acordo com os habitantes o líder da guerra, Amílcar Cabral, prometia transformar aquela aldeia desenvolvida e num centro do turismo para as pessoas que querem conhecer a história da luta de libertação da Guiné e Cabo Verde.
Um dos professores da escola primária abordado pela equipa de reportagem, lamentou que o sonho de transformar aldeia de Lucadjol numa pequena cidade turística e desenvolvida morreu com Amílcar Cabral. Samba Sane, frisou ainda que o próprio o partido libertador que dirigiu o país vários anos, abandonou Lucadjol depois da proclamação da independência.
No entanto, contou ainda que para além do isolamento e da falta de infraestruturas rodoviárias, tem a ver com a questão da água potável, que tem fustigado e muito a vida das mulheres e jovens raparigas que percorrem quilómetros a procura deste líquido precioso para satisfazer as suas necessidades.
Contudo, avança que nesta época da chuva nota-se a maioria considerável neste sentido, dado que regista-se o furo da água (lagoa) em matas que são usadas pela comunidade.
ALDJUMA EMBALÓ: @PROMETERAM SALÁRIO PARA O SERVIÇO DE GUARDA DE CASA, MAS NÃO RECEBO NADA”
“Eu fiz mais de 40 anos a cuidar desta casa, mas não recebo salário e muito menos subsídio. Lembro-me que prometeram o salário para fazer este serviço, conta para o mundo a nossa situação nesta aldeia. Sou o régulo desta aldeia, por isso entraram em contacto comigo e pediram-me para cuidar desta casa, então, foi a partir dali que passei a preocupar-me a limpar a casa”, contou.
Questionado o porque de não parar o serviço se não recebe o salário que teria sido prometido, respondeu que decidiu fazer o serviço e mesmo sem receber nada, porque “a casa é o nosso património, as pessoas vêm aqui, de diferentes nacionalidades para visitar a casa, eu acompanho-lhes até a montanha para visitar a casa”.
“Aldeia está totalmente abandonada e os edifícios velhos são sinais do desenvolvimento que o governo do falecido presidente Luís Cabral, pretendia fazer nesta aldeia. Se os turistas tugas chegarem aqui, as vezes lhes custam acreditar se é aqui a aldeia de Lucadjol, então a única coisa que temos para comprovar agora é a Casa Histórica, por isso todos nós damos os nossos esforços para a preservação do edifício”, explicou o guarda da casa.
Interrogado se há alguns materiais ou arquivos de livros no edifício, Aldjuma Embaló, disse que havia materiais no interior do edifício. Aproveitou, no entanto, a ocasião para denunciar que os referidos materiais foram retirados da “Casa Histórica” por antigo administrador, Aladje Yéro, que levou os materiais para a cidade de Gabú e, sem o consentimento da população local e muito menos dele na qualidade do régulo da aldeia e de guarda do edifício que nem sequer chegou a ser informado.
“Estava no interior do edifício cadeiras, secretárias e alguns livros. Primeiro as pessoas que visitam o local faziam as fotografias das cadeiras, mesas e outros objetos. Agora não há nada no local e os próprios visitantes lamentam a situação, porque não há nenhum objeto que as pessoas podiam ver como um dos instrumentos usados por Cabral na altura”, referiu.
O régulo de Lucadjol apelou o Estado guineense de ajudar a sua comunidade que está totalmente isolada, como forma de impedi-los de se deslocar para a república vizinha da Guiné-Conacri.
“Há um grande número dos cidadãos guineenses neste momento nesta zona com os documentos da Guiné-Conacri, porque não têm disponibilidade de conseguir os documentos aqui. Uma das razões também tem a ver com o acesso facil de alguns serviços, em particular a saúde e a actividade comercial. Aqui estamos muito isolados sem comunicação e a estrada não facilita a ligação, então muitas pessoas viraram o rosto para a Guiné-Conacri. É urgente o Estado mudar as coisas e criar as condições que permitam que as populações sintam a vontade”, advertiu o régulo de Lucadjol.
Por: Assana Sambú
Foto: AS
OdemocrataGB
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