segunda-feira, 21 de agosto de 2017

ENTREVISTA: Sou muçulmano, minha mulher é católica, como posso dividir o país? -- PM guineense

O primeiro-ministro guineense, Umaro Sissoco Embaló, recusou hoje acusações de estar a dividir o país, sublinhando que é muçulmano, mas a mulher é católica e que na Guiné-Bissau "há pessoas" que não podem chefiar o Governo.

"Eu sou fula, sou muçulmano, mas minha mulher é católica. Não sei como posso dividir este país. Se tenho uma mulher (católica) que partilha o mesmo teto comigo, a mesma casa, como é que eu posso. Isso foi sempre um sentimento dos guineenses", afirmou em entrevista à agência Lusa, Umaro Sissoco Embaló, quando questionado sobre acusações de estar dividir o país.

Para Umaro Sissoco Embaló, na Guiné-Bissau "há pessoas que não podem ser primeiro-ministro".

"Há categorias dessas pessoas que não podem ser e, sobretudo, quando toca a um muçulmano na Guiné é grave ser um responsável. Mas eu não vivo daquilo, nem pretendo ter esse sentimento. Até os meus amigos mais próximos são católicos. Mas isso não é só contra mim é contra qualquer outra pessoas que não pertença a uma classe", afirmou o primeiro-ministro, sem especificar a classe a que se referia.

Sobre o desafio de ser primeiro-ministro guineense, Umaro Sissoco Embaló disse que é "grande, porque a Guiné-Bissau desde 07 de junho de 1998 tem tido várias convulsões políticas".

"Acho que podia fazer a ponte entre a classe política e o Presidente da República achou por bem nomear-me para fazer essa ponte. É o que estou a fazer neste momento", explicou.

Umaro Sissoco Embaló foi o quinto primeiro-ministro nomeado (em dezembro de 2016) pelo Presidente guineense, José Mário Vaz, depois das eleições legislativas de 2014 ganhas pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

A nomeação de Umaro Sissoco Embaló foi feita após a assinatura do Acordo de Conacri, mas provocou controvérsia com o PAIGC a afirmar que não foi o nome escolhido para chefiar o Governo guineense no âmbito daquele acordo.

O Acordo de Conacri, patrocinado CEDEAO, prevê a formação de um governo consensual integrado por todos os partidos representados no parlamento e a nomeação de um primeiro-ministro de consenso e da confiança do chefe de Estado, entre outros pontos.

O atual Governo da Guiné-Bissau, de iniciativa presidencial, não tem o apoio do partido que ganhou as eleições com maioria absoluta e o impasse político tem levado vários países e instituições internacionais a apelarem a um consenso para a aplicação do Acordo de Conacri.

Questionado sobre a falta de apoio político para governar, o chefe do executivo guineense disse que o único partido representado no parlamento que não o apoia é o seu partido, o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde).

"Tirando o PAIGC, todos os deputados dos partidos no parlamento estão a apoiar-me, independentemente de os líderes não me apoiarem", disse.

Mas, para Umaro Sissoco Embaló, o mais importante é tirar o país da "situação em que se encontra".

"O bom senso entre os guineenses um dia vai prevalecer porque para mim não é a China ou os Estados Unidos ou a França que têm de vir aqui ditar o que temos de fazer. Não. Nós, é que temos de ter a consciência como boa gente, pessoas de bem", disse.

Referindo-se ainda ao impasse político que o país atravessa, Umaro Sissco Embaló afirmou que vem desde 1998, depois da guerra civil, e que o país está a "ver as consequências".

"Nenhum Governo, nenhum Presidente acabou o mandato. E é lamentável, mas um dia temos de ter consciência do mal que estamos a fazer a nós mesmos. Penso que estamos a falar e é a melhor solução, é a conversa entre os guineenses", lamentou.

Questionado sobre a relação com os outros órgãos de soberania, Umaro Sissoco Embaló disse que tens boas relações com o Presidente José Mário Vaz, com o presidente do Supremo Tribunal e com o presidente da Assembleia Nacional Popular (parlamento), Cipriano Cassamá, que qualificou de "amigo pessoal".

Mas, independentemente das relações, Umaro Sissoco Embaló lembrou que o parlamento "já não funciona há dois anos".

Sobre as prioridades do seu Governo, o primeiro-ministro destacou a transparência e boa gestão da coisa pública, saúde, educação e infraestruturas.

DN.PT



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