sábado, 11 de outubro de 2025

Tramadol sob escrutínio: medicamento comum para a dor pode ser menos eficaz e mais perigoso do que se pensava

Por SIC Notícias/ Com Lusa

Uma revisão de 19 ensaios clínicos indica que o tramadol, um dos analgésicos opioides mais prescritos no mundo, pode ter um efeito limitado no controlo da dor crónica e duplicar o risco de complicações graves, nomeadamente cardíacas.

O tramadol é um potente analgésico opioide, mas uma revisão de estudos científicos revela que pode não ser tão eficaz no alívio da dor crónica e provavelmente aumenta o risco de efeitos secundários graves, como doenças cardíacas.

Uma equipa liderada pelo Hospital Rigs, na Dinamarca, publicou no The BMJ Evidence-Based Medicine uma revisão e meta-análise de 19 ensaios clínicos, compilados até 2025, envolvendo 6.506 pessoas com dor crónica, noticiou esta semana a agência Efe.

Efeitos benéficos abaixo do limiar clínico

Os investigadores, citados pela revista, indicaram que o tramadol "não é tão eficaz no alívio da dor crónica para a qual é amplamente prescrito" e também "provavelmente aumenta o risco de efeitos secundários graves, como doenças cardíacas".

Por isso, a equipa concluiu que "os potenciais danos do tramadol provavelmente superam os seus benefícios" e que "a sua utilização deve ser minimizada".

Este medicamento é um opioide de dupla ação amplamente prescrito para o tratamento de dores agudas e crónicas moderadas a intensas.

Os estudos analisaram o impacto do tramadol na dor neuropática, com nove a centrarem-se na osteoartrite, quatro na dor lombar crónica e um na fibromialgia.

Os doentes tinham entre 47 e 69 anos, com uma média de idades de 58 anos.

A duração do tratamento variou de duas a 16 semanas, enquanto o seguimento variou de três a 15 semanas.

A análise conjunta dos resultados dos ensaios clínicos mostrou que, embora o tramadol tenha aliviado a dor, o efeito foi pequeno e abaixo do que seria considerado clinicamente eficaz.

Além disso, o risco de danos associados foi duplicado em comparação com o placebo, principalmente devido a uma maior proporção de "eventos cardíacos", como dor no peito, doença arterial coronária e insuficiência cardíaca congestiva, de acordo com o BMJ Evidence-Based Medicine.

Investigadores pedem reavaliação do uso do fármaco

O uso de tramadol foi associado a um risco aumentado de alguns tipos de cancro, embora o período de seguimento tenha sido curto, tornando esta descoberta questionável, segundo os investigadores.

A análise indicou que o medicamento também estava associado a um risco aumentado de efeitos secundários ligeiros, como náuseas, tonturas, obstipação e sonolência.

Os autores referiram que este é um dos opioides mais prescritos nos EUA, possivelmente devido à perceção de um menor risco de efeitos secundários e à crença generalizada de que é mais seguro e menos viciante do que outros opioides de ação curta.

O estudo acrescentou que "os potenciais danos associados ao uso de tramadol para o controlo da dor provavelmente superam os seus benefícios limitados".

"Reconsiderar o papel do tramadol no tratamento da dor crónica"

Num comentário ao estudo, no qual não participou, Enrique Cobos, da Universidade de Granada, escreveu na plataforma de recursos científicos Science Media Centre que, na prática clínica, estes resultados "obrigam a reconsiderar o papel do tramadol no tratamento da dor crónica".

No entanto, o perfil de cada doente e os efeitos do medicamento a nível individual devem ser sempre "avaliados cuidadosamente", uma vez que as pessoas com dor crónica têm poucas alternativas eficazes e seguras, acrescentou.

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