quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Investigação. Soldados russos que se recusam a combater na Ucrânia punidos e assassinados... Foram identificados 101 militares, principalmente comandantes e outras altas patentes, acusados de assassinar, torturar ou punir de forma fatal soldados russos que se recusassem a combater na Ucrânia. As “execuções sumárias” acontecem desde o primeiro ano da invasão russa, de acordo com uma investigação independente, mas tornaram-se mais frequentes em 2025.

Por  Inês Moreira Santos - RTP  30 Outubro 2025

No início, os soldados russos “eram fuzilados no local por se recusarem a invadir uma fortaleza ou por beber nas trincheiras”. Mas agora, em 2025, “as execuções e torturas no exército tornaram-se mais sofisticadas, cada vez mais motivadas por disputas pessoais entre soldados e comandantes e pela recusa em pagar subornos aos seus superiores”.

A investigação é do órgão independente russo Verstka que recolheu dados sobre 101 comandantes russos que terão sido responsáveis por torturar e executar soldados sem julgamento. A publicação baseou-se em depoimentos de soldados, familiares dos mortos, vídeos divulgados e registos oficiais de denúncias, tendo identificado pelo menos 150 mortes, embora os autores acreditem que o número real seja muito superior.

Desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, há relatos de soldados mortos pelas próprias tropas e de supostas unidades de bloqueio implantadas para impedir recuos.

A prática é conhecida na Rússia como “obnuleniye” - "Zeroing", em inglês, é o termo usado pelos militares russos para o assassinato dos próprios camaradas -, antes mais associada a casos em que os soldados ficavam embriagados ou não cumpriam ordens, mas tornou-se mais frequente em 2025.

"Um rapaz do meu pelotão foi simplesmente espancado até a morte no chão porque estava a beber vodka após uma missão de combate”, contou um soldado não identificado à publicação independente. “Passámos um mês na linha da frente sem comunicação, sem comida. (…) E depois saímos para descansar, todos homens crescidos, bebemos um pouco e eles começaram a humilhar-nos como se fossemos uns cães. O rapaz ficou pior”.

Dois comandantes começaram a espancar o soldado que estava embriagado e, relatou ainda, esmagaram-lhe a cabeça contra uma pedra e atiraram o corpo para um fosso e, quando estava a morrer, dispararam contra ele.

A mesma publicação revela outros relatos onde se descreve que determinados comandantes usavam drones e explosivos para "eliminar" soldados feridos ou em retirada. Em alguns desses casos, os oficiais teriam ordenado aos operadores de drones que lançassem granadas sobre os próprios soldados, disfarçando as mortes como ataques em campo de batalha.

Segundo outros relatos, os soldados que desobedeciam às ordens eram atirados em fossos cobertos com grades de metal, encharcados com água e espancados durante horas ou até mesmo dias. A investigação apurou ainda que, em alguns casos, os militares eram forçados a lutar entre si em combates que testemunhas descreveram como lutas de gladiadores até à morte.

Um desses casos foi revelado num vídeo que circulou, em maio deste ano, por grupos ucranianos que monitorizavam as forças russas. As imagens mostram dois homens sem camisa numa vala enquanto uma voz fora do campo de visão diz: "O comandante Kama basicamente disse que quem espancasse o outro até a morte sairia da vala".

A investigação revela que o principal motivo agora para estas punições é a relutância dos recrutas em pagar subornos aos comandantes. Os soldados que se recusam a pagar são enviados em supostos ataques contra posições ucranianas sem armas ou equipamentos adequados. E recusar-se a participar nessas missões pode levar a uma execução sumária.

Segundo uma outra fonte, os espancamentos, a tortura e vários tipos de abuso são frequentes e chegaram a morrer 20 militares num único batalhão dessa forma em 2023 e mais 40 em 2024.

Há mais de 12 mil denúncias de abuso contra soldados e comandantes russos, desde de 2022, registadas no Ministério Público Militar da Rússia.

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