Mãe abraço filha Foto via Getty Images
Por Cnnportugal.iol.pt, 04/09/23
ANÁLISE || Os pais e encarregados de educação devem tentar salvar os seus filhos? Como gerir da melhor forma as adversidades das crianças, para elas cresçam e saiam mais fortes das crises. Eis três passos para lidar com o problema.
Depois de ter sido abandonada pelas três colegas de quarto, a filha da minha amiga, que quis manter o anonimato para proteger a sua privacidade, precisava de encontrar um novo lugar para viver. Enquanto tentava arranjar um novo apartamento a meio do semestre, estava também a sofrer a perda do seu principal grupo de amigos, pondo em causa a sua autoestima e perguntando-se se seria capaz de encontrar novos amigos. Chegou mesmo a ponderar se deveria ser transferida para uma nova faculdade.
No momento, a separação parecia um desastre. Parecia um desastre quando a mãe dela, que também pediu para permanecer anónima, me contou a história no nosso mais recente clube de leitura. Mas quando perguntei como estava a filha, a mãe ficou radiante. Afinal, a filha estava a sair-se muito bem. Fez amigos muito melhores e agora está muito feliz na sua nova vida.
Com o benefício da retrospetiva, tanto a mãe como a filha ficaram contentes por aquilo ter acontecido, apesar de ter sido uma das montanhas russas emocionais mais difíceis em que já andaram.
Os pais e encarregados de educação devem tentar salvar os seus filhos?
Os pais e encarregados de educação sentem-se muitas vezes entusiasmados com os êxitos dos filhos, tanto quanto se sentem em pânico e exaustos com os seus erros. Sentimos o que eles sentem, e é muito difícil passar por isso, tanto para eles como para nós.
Não seria ótimo se houvesse uma varinha mágica que pudesse usar para afastar essas experiências terríveis? Talvez pense que a vida seria muito mais fácil, certo?
Não é bem assim. Na verdade, a vida poderia ser momentaneamente mais fácil, mas não seria melhor.
O que a retrospetiva ensina aos pais e aos filhos
Entrevistei pais de todo o país [EUA] sobre as experiências dos seus filhos com oito tipos específicos de fracasso para o meu último livro, "Eight Setbacks That Can Make a Child a Success: What to Do and What to Say to Turn ‘Failures’ into Character-Building Moments" [tradução à letra, "Oito contratempos que podem fazer de uma criança um sucesso: o que fazer e o que dizer para transformar "fracassos" em momentos de construção de carácter"]. Esses fracassos são a incapacidade de se relacionar com os colegas, cuidar do corpo, ter bom desempenho na escola, seguir as regras, dar-se bem com a família, mostrar preocupação com os outros, lidar com os sentimentos e acreditar em si próprio.
Aprender a recuperar do fracasso ajuda as crianças a ter uma vida mais feliz, escreveu Michelle Icard, autora de "Eight Setbacks That Can Make a Child a Success".
Perguntei a esses 30 pais se lhes podia dar uma varinha mágica para apagar a experiência dos seus filhos - experiências que incluíam ser hospitalizado por consumo excessivo de álcool, chumbar na escola, ser suspenso por danificar propriedade escolar e perder amizades significativas.
Vinte e nove dos 30 pais disseram que não agitariam a varinha mágica.
Se eu tivesse feito a mesma pergunta no pior momento, todos eles me teriam implorado pela varinha. Mas, em retrospetiva, o que os seus filhos aprenderam com a experiência era demasiado valioso para ser perdido.
Como o fracasso funciona para as crianças
Quando pegou ao colo o seu bebé recém-nascido ou a sua pequena criança, provavelmente desejou que a sua vida fosse cheia de facilidade, realização e felicidade para o seu filho. Acontece que essa facilidade não conduz à realização ou à felicidade. Muitas vezes, um pouco de fracasso conduz. Isto porque os desafios ajudam as crianças a desenvolverem capacidades de adaptação e resiliência, o que torna a vida muito mais agradável.
As crianças não aprendem quando a vida lhes corre na perfeição. É como fazer exercício com pesos de 1 quilo para sempre. Claro que se está a fazer exercício, mas sem esticar e reconstruir os músculos, nunca se fica mais forte.
Quando o seu filho tiver um contratempo, ajude-o a conter e a resolver o problema e depois evolua para que ambos possam seguir em frente - é isso que recomendam as orientações de Icard.
As crianças também não aprendem quando a vida lhes traz demasiadas dificuldades. Usar pesos demasiado pesados também não o torna mais forte. A sobrecarga provoca lesões e impede-o de tentar.
Tal como o exercício para nos tornarmos fisicamente mais fortes, falhar torna-nos emocionalmente mais fortes. Além disso, tal como o exercício, o fracasso funciona segundo o princípio de Cachinhos Dourados. É preciso experimentar "a quantidade certa" de contratempos para sentir dor, aprender com ela, reparar e tornar-se mais forte.
A ferramenta de que realmente precisa
Não precisa de manter o seu filho numa bolha para evitar que ele se magoe, nem de uma varinha mágica para apagar os momentos dolorosos depois de eles acontecerem. Mas há algo que pode usar para garantir que as contrariedades do seu filho não se tornem na "manchete" da sua infância e, em vez disso, se tornem uma rampa de lançamento para o crescimento.
Eis o meu processo de três passos para ajudar as crianças a ultrapassar os tempos difíceis, para que, tal como o estudante universitário que teve de mudar a meio do semestre, o seu filho tenha a oportunidade de valorizar o que passou.
Em suma, vai querer conter, resolver e evoluir juntamente com o seu filho.
Primeiro passo: conter o problema. Dê-lhe um nome, retire o seu filho de uma situação, faça o que for preciso para aplicar um torniquete metafórico, para que não se agrave.
Segundo passo: resolver o problema. É altura de tomar medidas para melhorar a situação. Há alguma coisa que o seu filho possa fazer para ultrapassar a situação? Precisa de falar com alguém, escrever num diário, pedir desculpa, procurar perspetiva ou ajuda profissional, ou fazer reparações?
Terceiro passo: evoluir. Está na altura de mudar de rumo e pôr isto para trás das costas, para si e para o seu filho. Pode ritualizar isto se quiser, ou simplesmente decidir não ficar a remoer.
Muitos pais e encarregados de educação continuam a verificar se o seu filho está bem ou se vai voltar a cometer o mesmo erro. Não o façam. A certa altura, é mais benéfico para o seu filho perceber que a má experiência que teve, seja por má decisão própria ou de outra pessoa, não define quem ele é. É altura de ver coisas novas neles.
Michelle Icard é autora de livros, educadora e oradora na área da parentalidade. O seu último livro, "Eight Setbacks That Can Make a Child a Success" (Oito contratempos que podem fazer de uma criança um sucesso), está disponível em livrarias nos EUA.
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