Ilustração da missão DART da NASA (Steve Gribben/Johns Hopkins APL/NASA)
Cnnportugal.iol.pt, 20/09/22
O objetivo é compreender como é que o embate pode afetar o movimento de um asteroide no espaço, abrindo as portas para a utilização de tecnologia espacial para o desvio de objetos para proteger o planeta
Uma nave espacial da NASA que vai colidir deliberadamente com um asteroide está a aproximar-se do seu alvo.
A missão DART, ou o Teste de Redirecionamento de Asteróide Duplo, terá um encontro com o rochedo espacial no dia 26 de setembro, depois de ter sido lançado há 10 meses.
A nave vai embater na lua de um asteroide para ver como afeta o movimento de um asteroide no espaço. Uma transmissão em direto de imagens captadas pela nave espacial estará disponível no site da NASA a partir das 21:30 (GMT) desse dia. Espera-se que o impacto ocorra por volta das 23:14.
A missão dirige-se para Dimorphos, uma pequena lua que orbita o asteroide Didymos. O sistema de asteroides não representa nenhuma ameaça para a Terra, afirmaram as autoridades da NASA, tornando-se um alvo perfeito para testar um impacto cinético – que pode ser necessário se, algum dia, um asteróide estiver no caminho certo para atingir a Terra.
O evento será a primeira demonstração em larga escala da tecnologia de desvio que pode proteger o planeta.
"Pela primeira vez, vamos alterar de forma mensurável a órbita de um corpo celeste no universo", disse Robert Braun, chefe do Setor de Exploração Espacial do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins.
Objetos próximos da Terra são asteróides e cometas com órbitas que os colocam a menos de 48,3 milhões de quilómetros da Terra. Detetar a ameaça de objetos próximos da Terra, ou NEO, que podem causar danos graves é um foco primário da NASA e de outras organizações espaciais em todo o mundo.
Rota de colisão
Os astrónomos descobriram Didymos há mais de duas décadas. Significa "gémeo" em grego, uma referência a como o asteroide forma um sistema binário com o asteroide menor, ou lua. Didymos tem quase 0,8 km de diâmetro.
Enquanto isso, Dimorphos tem 160 metros de diâmetro, e o seu nome significa "duas formas".
A nave teve recentemente o seu primeiro vislumbre de Didymos através de um instrumento chamado Didymos Reconnaissance and Asteroid Camera for Optical navigation, ou DRACO. Estava a cerca de 32 milhões de quilómetros de distância do sistema binário de asteróides quando captou imagens, em julho.
No dia do impacto, as imagens captadas pela DRACO não só revelarão o nosso primeiro olhar sobre Dimorphos, como a nave espacial irá utilizá-las para se guiar autonomamente para um encontro com a minúscula lua.
Durante o evento, estas imagens vão ser transmitidas para a Terra a uma velocidade de uma por segundo, proporcionando uma perspetiva "bastante impressionante" da lua, disse Nancy Chabot, cientista planetária e líder de coordenação da DART no Laboratório de Física Aplicada.
No momento do impacto, Didymos e Dimorphos estarão relativamente perto da Terra – num raio de 11 milhões de quilómetros.
A nave irá acelerar até cerca de 24 140 quilómetros por hora quando colidir com Dimorphos.
Tem como objetivo colidir com Dimorphos para alterar o movimento do asteroide no espaço, de acordo com a NASA. Esta colisão será registada pelo LICIACube, ou Light Italian CubeSat for Imaging of Asteroids, um minissatélite fornecido pela Agência Espacial Italiana.
O CubeSat, do tamanho de uma pasta, apanhou boleia da DART para o espaço. Recentemente foi lançado da nave espacial e está a viajar atrás dela para registar o que acontece.
Três minutos após o impacto, o CubeSat voará por Dimorphos para captar imagens e vídeos. O vídeo, apesar de não ficar imediatamente disponível, será transmitido para a Terra nas semanas e meses seguintes à colisão.
Proteger o planeta
O Dimorphos foi escolhido para esta missão porque o seu tamanho é semelhante ao dos asteroides que podem representar uma ameaça para a Terra. A nave é 100 vezes menor que Dimorphos, por isso não destruirá o asteroide.
O impacto rápido só alterará a velocidade de Dimorphos à medida que orbita Didymos em 1%, o que não parece muito – mas irá mudar o período orbital da Lua.
"Às vezes descrevemo-lo como um carro de golfe a embater contra uma grande pirâmide ou algo assim", disse Chabot. "Mas para Dimorphos, isto tem realmente que ver com o desvio de asteroides e não a interrupção da rota. Isto não irá fazer explodir o asteroide, não vai deixá-lo em pedaços.
O "toque" irá deslocar o Dimorphos ligeiramente e torná-lo mais gravitacionalmente ligado a Didymos – para que a colisão não altere a rota do sistema binário em torno da Terra ou aumente as suas hipóteses de se tornar uma ameaça para o nosso planeta, disse Chabot.
O Dimorphos completa uma órbita em torno de Didymos a cada 11 horas e 55 minutos. Após o impacto, isso pode mudar para 11 horas e 45 minutos, mas as observações posteriores determinarão com exatidão a alteração.
Os astrónomos irão utilizar telescópios terrestres para observarem o sistema binário de asteróides e ver o quão mudou o período orbital de Dimorphos, o que determinará se a DART foi bem sucedida.
Telescópios espaciais como o Hubble, o Webb e a missão Lucy da NASA também observarão o evento.
Em quatro anos, a missão Hera da Agência Espacial Europeia irá estudar o Dimorphos, medindo propriedades físicas da Lua, e avaliará o impacto da DART e a órbita da Lua.
Nenhum asteroide está atualmente em rota de impacto direto com a Terra, mas existem mais de 27 000 asteroides perto da Terra, de todos os formatos e tamanhos.
Os valiosos dados recolhidos pela DART e pela Hera contribuirão para estratégias de defesa planetárias, sobretudo para compreender que tipo de força pode deslocar a órbita de um asteróides próximo da Terra que possa colidir com o nosso planeta.
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