A decisão do governo da Guiné-Bissau de fechar as escolas da capital está a ser fortemente contestada pelas organizações estudantis, que ameaçam ir para as ruas protestar.
Das medidas tomadas pelo Governo guineense desde o início da pandemia, esta é a mais contestada até agora.
Estudantes, organizações da sociedade civil e a população em geral afirmam que não veem motivos para a suspensão das aulas. Todos os estabelecimentos de ensino em Bissau encontram-se encerrados depois da publicação de medidas mais restritivas, na sexta-feira passada (22.01).
O presidente da Confederação das Associações dos Alunos das Escolas Públicas e Privadas (CAAEPP), Alfa Umaro Só, considera que a decisão do Governo liderado por Nuno Gomes Nabiam "não tem cabimento, nem faz sentido".
"Receberam recomendações e decidiram sem pensar duas vezes, porque 62 casos ativos não podem ser motivos de suspensão das aulas por 30 dias", lamenta Só.
A organização estudantil não descarta a realização de uma manifestação de rua, devendo tornar pública a sua posição esta quarta-feira.
Decisão injustificável?
A decisão de suspender o funcionamento das aulas em todas as escolas da capital guineense, do pré-escolar ao ensino superior, foi tomada pelo Governo guineense depois de uma proposta apresentada ao Conselho de Ministros pela Alta Comissária de Luta Contra a Covid-19. Magda Robalo justificou a medida com o aumento de casos positivos entre alunos e professores de cinco escolas de Bissau.
Apesar das justificações prestadas, a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) diz que a medida não se justificava.
A Alta Comissária de Luta Contra a Covid-19, Magda Robalo, afirma que a medida era necessária
"A decisão do Governo tornada pública no dia 22 de janeiro do ano em curso, ordenando a suspensão das aulas a nível de Bissau, é manifestamente injustificável, na medida em que não espelhou o nexo causal entre o funcionamento das escolas e o aumento de casos da Covid-19", afirmou a LGDH em comunicado.
À DW África, a Alta Comissária de Luta Contra a Covid-19, Magda Robalo, diz que compreende as críticas, mas assegura que tudo está a ser feito de forma correta.
"Nós estamos a lidar com a situação dentro daquilo que é a nossa responsabilidade de controlar a pandemia da Covid-19. Compreendemos que algumas decisões possam não ser do agrado da população, nomeadamente no que tem a ver com as escolas, mas nós estamos a fazer isso porque os dados que nós temos indicam que há, de facto, necessidade de se conter a propagação do vírus, que está, neste momento, a circular entre os professores, estudantes e as respetivas famílias".
Medida pode estender-se ao interior do país
Na segunda-feira, (25.01), o Alto Comissariado de Luta Contra a Covid-19 anunciou a existência de casos da doença numa escola de Gabú, no leste da Guiné-Bissau. A entidade não descarta a possibilidade de propor o encerramento das escolas do interior do país, mas só depois de os seus técnicos concluírem que a situação representa riscos.
Nas ruas, as opiniões dos cidadãos são claras sobre a suspensão das aulas: "Para mim não faz sentido. Se é para fechar, têm que fechar mercados e salões de jogo, todos devem ser fechados. Mas só as escolas, porquê?", questionou um vendedor ambulante.
A opinião é partilhada por um aluno: "No nosso sistema de ensino, como ele está neste momento em relação aos outros países da sub-região, se ficar um mês sem estudar, como vai ser adiante? Quantos meses é que [os alunos] vão estudar depois?"
A Guiné-Bissau está desde domingo em estado de calamidade, durante trinta dias. É obrigatória a observância do distanciamento físico e o uso de máscara em espaços públicos e lugares fechados.
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