sábado, 14 de março de 2020

A Guiné-Bissau precisa mais de que uma cirurgia plástica. Ela precisa de um diagnóstico sério e compreensivo - Umaro Djau

Por Umaro Djau

A presente situação política na Guiné-Bissau é uma clara demonstração de que a estratégia de "observação" e de "contenção" promovida pela Comunidade Internacional, muito particularmente o P5 (ONU, UE, UA, CEDEAO e a CPLP) não surtiu resultados sólidos em termos da estabilização do país. 

A Guiné-Bissau precisa de uma estratégia internacional mais robusta, assente não só em observação (monitorização) e contenção, mas sobretudo numa visão de apaziguamento de conflitos políticos e sociais, de aproximação de partes e, muito mais importante, de refundação do Estado, através de reformas institucionais (e constitucionais) profundas. 

Havendo uma mínima estabilidade e parceiros internos credíveis, entre agora e o final de Dezembro (data do término da missão do Escritório Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz na Guiné-Bissau), a UNIOGBIS deve trabalhar seriamente para ajudar a conceber e implementar estratégias e projectos (concretos e exequíveis) que poderão servir de base para o início da verdadeira viabilização da Guiné-Bissau.

Mas, tais estratégias e projectos têm que ir para além de estudos mal concebidos (de consultorias preferenciais e duvidosas) e para além de esporádicos encontros com um ou dois partidos políticos e assim como outras organizações civis e não-governamentais -- que não servem mais que justificar gastos orçamentais. 

As missões de qualquer organismo ou parceiro internacional da Guiné-Bissau devem ser inclusivas, não discriminatórias, desfasadas de presunções e livres de preferências. O que tenho notado na Guiné-Bissau é que a CEDEAO funciona às imagens do Senegal, Côte d'Ivoire e da Nigéria; a UE e a CPLP funcionam à imagem de Portugal e as representações da ONU funcionam às imagens dos seus técnicos estrangeiros e das preferências políticas dos seus técnicos e funcionários internos... Por esta e outras razões, todas estas organizações acabam por reflectir essencialmente as pretensões (geo)estratégicas estrangeiras (ou partidárias), em vez de corresponder às necessidades nacionais em termos de resolução efectiva e permanente de problemas que justificam as suas missões no país. 

A comunidade internacional deve repensar e redireccionar a sua estratégia para com a Guiné-Bissau, aliás, uma tal visão teria que contar com o envolvimento de todas as franjas da sociedade guineense e doutros interlocutores sérios, tanto no país, como na sua diáspora. 

A Guiné-Bissau precisa mais de que uma cirurgia plástica. Ela precisa de um diagnóstico sério e compreensivo.

--Umaro Djau 
13 de Março de 2020


1 comentário:

  1. Esta comunidade internacional é pior parceiro da Guiné-Bissau. São parciais nas suas posições, criando assim crispação no seio da sociedade. Eu pessoalmente estou decepcionado com a actuação desta comunidade internacional no nosso país. Vergonha total...

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