quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

O DISCURSO DA SALVAÇÃO POLÍTICA

Por Jorge Herbert

Ouvi atentamente e por duas vezes, o discurso de Domingos Simões Pereira, após o anúncio dos resultados da segunda volta das eleições presidências. Em nada me surpreendeu, porque é o mais do mesmo! É o discurso de um homem que criou uma imagem que não corresponde à realidade, para ser idolatrado por aqueles que hoje derramam lágrimas pela sua derrota, por outros que nele encontraram a solução para a vida de elite que sempre sonharam e, ainda, para não falar naqueles que nele investiram somas exorbitantes, esperando como contrapartida um poder tido como democrático, mas absolutista e controlado por um só homem, que lhes permitiria recuperar com “juros” muito elevados, à custa dos recursos do país, todo o capital investido...

Não sei se se lembram do meu recente texto intitulado a fórmula de DSP?! Pois, a todos esses elementos constituintes da fórmula, há que dar uma justificação, um consolo ou um alento.

DSP sabia que se optasse por um consolo, seria dar início ao seu velório político, pior do que aquele que uma vez simulou à figura do Dr. José Mário Vaz! Sabia que chegar aquela sala e reconhecer o resultado eleitoral era enterrar-se politicamente, junto com a esperança de todos aqueles militantes.

Então DSP optou para uma tentativa de ressuscitação, mesmo que temporária, do seu capital político e da esperança de muitos que até já choravam o fim de um sonho! Mas julgo que não mediu bem o peso das suas palavras e a gravidade e a extensão do seu posicionamento político!

Aqueles a quem restavam algumas dúvidas sobre de que lado estava a ambição desmedida e a falta de sentido democrático nesses três anos de contenda entre a figura do DSP e Jomav, que levou à uma autêntica divisão da sociedade guineense, até com a participação da nossa diáspora, como nunca se tinha visto na nossa curta vida democrática, hoje ficaram esclarecidos sobre quem dos dois coloca o país acima da sua agenda pessoal! Vimos de um lado, um Presidente a quem a todo o custo quiseram colar a imagem de um ditador, a assumir a derrota e esperar serenamente a passação ao futuro Presidente e, do outro lado, o acusador de que o Presidente era um ditador, agarrado ao poder, numa ginástica de sobrevivência política, rejeitando os resultados de umas eleições que perdeu, quando sempre defendeu os órgãos organizadores das eleições, sempre que ganhou!

Mas, o alcance das palavras de DSP nesse discurso vai mais além do que os limites físicos daquele salão! É também um recado aos financiadores a quem não quer prestar contas como um perdedor!

No fundo, esse discurso do DSP, foi mais um apelo, um convite aos apoiantes que constituem a tal fórmula, para o acompanharem em mais cinco anos de luta, de obstrução do exercício presidencial...

Esse discurso é um convite aos seus financiadores e o lobbie externo que o apoia para mais um período de asfixia económica ao país e todo o seu povo, que, na sua óptica e dos seus apoiantes, não souberam escolher bem o Presidente.

A rebelde Guiné-Bissau e os resistentes guineenses têm de contar com essa tentativa de asfixia económica e aprender a procurar alternativas de financiamento na senda internacional, para que o povo com alguma dúvida vai conhecendo quem são os verdadeiros malfeitores do país e do seu povo...

À Diáspora “fatigué” lamento terem que regressar ou permanecerem nos países de acolhimento, a sobreviverem à uma nova austeridade já anunciada e/ou ao Brexit.

Aos inconscientes e conformados com cargos públicos, sinceramente não queria estar no vosso lugar! Com os pomposos cargos ameaçados e com a perspectiva de terem que voltar ao papel de vândalos, isso se o vosso mentor conseguir convencer os amigos externos, já cansados, a continuar a financiá-lo contra o resistente povo guineense!

Aos “Cabuncas” do pós 14 de Novembro, espero que percebam de uma vez por todas, que o regresso desse sonhado elitismo, hoje é uma miragem. Ou arregaçam as mangas para competirem no terreno com os filhos de N’Bana, ou estão condenados pelo resto das suas vidas a serem “Cabuncas” de segunda, no território caboverdeano.

Uma palavra aos “nhanherus” que davam como certa a vitória do candidato a quem “cantaram” lindas canções, é hora de mudarem o repertório, mas estaremos aqui para os censurar publicamente...

Não queria terminar este texto, sem agradecer ao presidente cessante Dr. José Mário Vaz, pela preciosa contribuição que deu ao país, em demonstrar-nos quem é quem e, ainda, pelo elevado sentido democrático e de Estado, demonstrado no momento da derrota. Não existe melhor tribunal que o tempo e a história nos julgará a todos.

Jorge Herbert

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