sexta-feira, 31 de maio de 2019

A CULTURA DE COMPADRIOS E DE “MAMA TACO”...

Por Jorge Herbert

Curioso é ver quadros guineenses que terminaram a licenciatura, nunca produziram nada no meio laboral guineense ou estrangeiro, nas suas próprias áreas de formação e que viveram sempre pendurado ao sistema corrupto e nepotista implementado e imposto pelo PAIGC, desde o tempo da ditadura do partido único, através de nomeações dos próprios e dos familiares, para cargos de confiança políticas ou pessoais dos que estiveram na liderança do PAIGC, hoje colocarem-se do lado do moralismo social e político, para afirmarem-se combatentes contra aquilo que eles consideram “o sistema”, sem olhar para o próprio sistema em que estão inseridos e que lhes garantiu uma vida cómoda e tranquila em discordância com a miséria que se multiplica todos os dias a volta deles e por todo o país! É preciso ter lata e estômago!

Haja paciência para esses ditos “combatentes contra o sistema” que hoje se enfileiram e orbitam à volta do líder do PAIGC, apenas e só pelo medo de virem a perder o “status quo” já angariado com os anos de nomeações sem qualquer concurso, para cargos de confiança do PAIGC...

Presidente JOMAV: 
Si bu sta diante na luta, bai. Finka purmeru dubi di kil casa ku nó misti cumpu... 
Não olhe para trás. Sabemos que lutar contra um sistema corrupto já instalado nunca foi fácil.

Lembra-se da primeira conversa que tivemos num jantar, no Porto, na presença de outros guineenses e portugueses, quando perguntei-lhe se tinha noção da dimensão do problema e da dificuldade que ia ter em iniciar esta luta contra a corrupção no aparelho do Estado guineense e também para acabar com as perseguições, torturas e assassinatos tornados normas de procedimento do PAIGC? 

Lembro-me eu, que ficou um pouco incomodado, talvez até zangado comigo e respondeu-me com outra pergunta: Está a querer dizer que me vão matar?! Respondi-lhe, meio confuso, que não queria dizer isso. Rematou dizendo-me que só se for morto é que não levaria esse propósito até o fim e estaria disposto a morrer por ele.

Passados quase quatro anos, está vivo e efetivamente conseguiu abolir as perseguições, torturas e assassinatos de opositores políticos na Guiné-Bissau. Apesar das tentações da organização criminosa em regressar aos seus velhos métodos, já publicamente manifestadas por mais que uma vez pelos seus altos dirigentes, hoje expressa-se livremente as opiniões políticas na Guiné-Bissau, mesmo com insultos à sua própria pessoa, sem que o povo se lembre que foi uma das suas vitórias!

Mas Sr. Presidente, receio sinceramente que venha a perder a luta contra o monstro da corrupção e do nepotismo já bem instalado e enraizado na Guiné-Bissau e no exterior, à custa da miséria e sofrimento do seu povo!

Sei que continua vivo e com as mesmas convicções que me demonstrou nessa nossa conversa de há cerca de quatro anos e que vai continuar a lutar, apesar de cansado, para que diminua e muito a corrupção no aparelho do Estado guineense, tido já como facto institucionalizado pelo PAIGC. Não é fácil eliminar a “cultura de mama taco” e de compadrio já institucionalizado, até porque o sistema corrupto também se estende para fora do país e têm fortes apoios externos que precisam para manterem o “status quo” e para que mantenham o luxo, à custa do sofrimento do nosso povo...

Peço-lhe por tudo Sr. Presidente, não se deixe dobrar! Não ceda! Muitos guineenses, incluindo eu, cada um da sua forma, estão do seu lado nesta luta. Ka bu djubi pa trás, marra bu barriga bu sofri, na bó ku nó na djubi, abó ki nó spidju...

Jorge Herbert

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