Depois do sequestro do poder e a paralisia da vida económica e social por cerca de dois anos e meio, hoje vive-se na Guiné a noite de muitas decisões sobre a sobrevivência ou não da democracia.
Forças que deviam ser da ordem, se preparam para tomar de assalto a sede do maior partido politico da Guiné-Bissau, o partido da Independência, o histórico PAIGC. Tudo sob o olhar sereno e algo cúmplice da ECOMIB, mesmo depois da sua estrutura mãe, a CEDEAO, ter garantido que daria a cobertura de segurança necessária.
O pretexto encontrado é a existência de providências cautelares que impedem a realização do conclave. Depois de dezenas de outras providências terem ficado resolvidas por exibição, pelo partido, de provas que deitaram por terra todas as alegações, agora é a polícia que chama a si esta incumbência, pretendendo invadir e tomar de assalto a sede de um partido político. Nada de extraordinário, pois já haviam ensaiado essa solução em várias ocasiões e circunstâncias.
Todavia, hoje se trata de algo particularmente grave – impedir o partido o acesso à sua sede para realização da sua reunião magna, já com presença de quase todos os delegados nacionais (vindos de todas as bases, secções, regiões do país e círculos eleitorais) e da diáspora (África, Europa, Ásia e dos Estados Unidos) e tendo os convidados internacionais por testemunhas: Cabo-Verde, Moçambique, Africa do Sul, Sérvia, Comité Africa da Internacional Socialista, já em Bissau, enquanto se aguarda a chegada amanhã, das delegações de Angola, São Tomé e Príncipe, Portugal, Zâmbia, Senegal e Guiné-Conacri.
Se se acrescentar que tudo isso acontece em frente ao palácio da República, na noite que antecede uma ronda de auscultação convocada pelo Presidente da República, ficaria lançada a discussão se esta não será então mais uma farsa, ou simples descoordenação de movimento pelos diferentes membros. E se ainda dissermos que, alguém que nas vestes de dirigente político já dormiu na sede para a proteger, é agora quem se veste de governante para a assaltar? Algumas interrogações, mas que nos levam invariavelmente à certeza de um paradoxo cómico mas sinistro.
As próximas horas e dias deverão resolver muitas coisas no cenário político da Guiné-Bissau.
Domingos Simões Pereira
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Domingos Simões Pereira
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