sábado, 13 de abril de 2024

Astrónomos portugueses detetam arco-íris num planeta fora do sistema solar

Ilustração do efeito glória no exoplaneta WASP-76b./Crédito: ESA, criado pelo ATG sob contato da ESA. CC BY-SA 3.0 IGO

Catarina Solano de Almeida  Sicnoticias.pt  13/04/2024
Dos céus deste exoplaneta infernalmente quente chove ferro e foi detetado pela primeira vez um misterioso padrão semelhante ao arco-íris em Terra.


Uma equipa internacional liderada por um investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) detetou um fenómeno fora do nosso sistema solar que só tinha sido visto em Terra e em Vénus. O fenómeno chamado “glória” é semelhante ao efeito do arco-íris.

O fenómeno acontece em WASP-76b, um planeta ultra quente semelhante a Júpiter, a cerca de 637 anos-luz de distância da Terra.

 “Há uma razão pela qual nenhuma glória foi vista antes fora do nosso sistema solar – requer condições muito peculiares”, disse o autor principal do estudo Olivier Demangeon, do Instituto de Astrofísica e Ciências Espaciais de Portugal.

O efeito ocorre quando a luz passa entre uma abertura estreita, como gotas de água nas nuvens. Há uma difração da luz o que faz com que crie padrões de anéis.

    “Primeiro é preciso partículas atmosféricas perfeitamente esféricas (ou quase), atmosfera completamente uniforme e estável o suficiente para que possa ser observável durante longos períodos de tempo. A estrela, muito próxima do planeta, tem de brilhar diretamente sobre a atmosfera e o observador - neste caso, o [telescópio espacial] Cheops - tem de estar perfeitamente orientado”.

Simulações do efeito glória em Vénus (esquerda) e na Terra (direita)  Crédito: C. Wilson/P. Laven

Segundo explica o IA, esta descoberta foi possível “graças a dados extremamente precisos do telescópio espacial Cheops, da Agência Espacial Europeia (ESA), em conjunto com dados das missões espaciais TESS (NASA), Hubble (ESA/NASA) e Spitzer (NASA)”.

Dados de Cheops e dos seus amigos sugerem que entre o calor e a luz insuportáveis da face iluminada pelo sol do exoplaneta WASP-76b e a noite interminável do seu lado escuro, pode estar a primeira “glória” extrasolar. O efeito, semelhante a um arco-íris, ocorre quando a luz é refletida em nuvens compostas por uma substância perfeitamente uniforme, mas até agora desconhecida.


O planeta onde chove ferro

Desde que foi descoberto em 2013, WASP-76b tem estado sompre sob intenso escrutínio. Em 2020, uma equipa internacional, em colaboração com investigadores do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), conseguiu caracterizar a atmosfera deste exoplaneta, um gigante gasoso intensamente quente onde chove ferro derretido.

Num publicação na revista Nature, explicaram que esta chuva de ferro só é possível porque o WASP-76b tem uma rotação síncrona, ou seja, "demora tanto tempo a completar uma rotação com a dar uma volta em torno da sua estrela".

Além disso, a "pequena distância" que separa este planeta da sua estrela, uma vez que dá uma volta a cada 1,8 dias, faz com que o seu lado diurno "receba milhares de vezes mais radiação da sua estrela do que a Terra recebe do Sol, tornando-se tão quente que as moléculas se separam em átomos, com os metais, tais como o ferro, a evaporarem-se para a atmosfera".

A diferença de temperatura entre os lados diurno e noturno provoca ventos violentos que acabam por transportar o vapor de ferro do lado diurno para o lado noturno.

A temperatura do planeta “pode subir até aos 2.400 graus Celsius do lado de dia, uma temperatura suficientemente alta para vaporizar metais como o ferro. Depois os ventos fortes transportam este vapor de ferro para o lado noturno, onde a temperatura é menor, cerca de 1.500 graus celsius e este vapor pode não condensar em gotas de ferro”.

Esta ilustração mostra o lado noturno do exoplaneta WASP-76b. Este gigante gasoso ultra quente tem um lado diurno onde as temperaturas sobem aos 2400º Celsius, ou seja, suficientemente altas para vaporizar metais. Ventos fortes transportam vapor de ferro para o lado noturno mais frio, onde este vapor condensa em gotas de ferro. Do lado esquerdo da imagem vemos a fronteira do final da tarde do exoplaneta, onde se dá a transição do dia para a noite.
Créditos: ESO/M. Kornmesser

A missão Cheops

Cheops é o satélite da ESA CHaracterising ExOPlanet Satellite. É a primeira missão espacial dedicada ao estudo de estrelas brilhantes que estão mais próximas de nós e que já são conhecidas por albergar exoplanetas.

Tem como missão fazer observações precisas de planetas que tenham tamanhos semelhantes entre as dimensões da Terra e de Neptuno o que permitirá aos cientistas medirem a massa e o raio destes planetas e o tempo que demoram a orbitar a sua estrela.

O Cheops, que integra um telescópio espacial, tem a colaboração de 11 países, incluindo Portugal através do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA).

Cientistas do IA estão envolvidos também na caracterização do tamanho dos planetas e da sua atmosfera e no processamento dos dados transmitidos pelo satélite.

O engenho está decorado com duas placas metálicas onde estão gravados vários desenhos feitos por crianças, incluindo de 88 portuguesas.

Ilustração do momento logo após a nave CHEOPS se separar do veículo de lançamento. ATG medialab / ESA HANDOUT

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